Monika D’Auria Vieira de Godoy trabalha no ramo hoteleiro, porém, tem um projeto de um sítio permacultural em andamento na propriedade da família em Lindoia (SP). “Quando começou a pandemia o hotel fechou eu fiquei em estado de choque. Eu ia lá no sítio a pé (5 km) todos os dias para meditar (sou terapeuta também) e aí, uma intuição muito forte me fez atingir o nível de fazer uma agrofloresta (na propriedade) -, eu já tinha o projeto de árvores nativas com a Associação Ambientalista Copaíba e meditava naquela área de plantio”, revelou. 

Passado o momento crítico da pandemia, Monika ofereceu a propriedade para recepcionar os cursos do Senar. Quando recebeu o curso de olericultura (novembro de 2021) o professor Igor Corsini trouxe seis sementes do “feijão do Divino” (em referência ao simbolismo da pomba do Divino Espirito Santo, em cada grão) para distribuir para cada participante. “Eram seis sementes, distribuídas para cada aluno, plantamos e as seis sementes se desenvolveram. Nesse momento estamos com um monte de vagens para debulhar esperando o sol ficar bem firme para secar melhor, para poder guardar as sementes na garrafa pet. Pretendo fazer o processo milho crioulo, feijão do Divino e abóbora. As seis sementes plantadas renderam mais ou menos 500g de sementes. Não falhou uma semente se quer, com o desenho da pomba do Divino Espírito Santo”, afirmou. 

Monika D’Auria Vieira de Godoy e a estatura da planta com as vagens

A história do feijão do Divino Espírito Santo

Diz a lenda que o “feijão do Divino” surgiu em Lamim, Minas Gerais, por volta de 1800. Conta-se que a cada ano na cidade era sorteado quem iria fazer a festa do padroeiro e, na época, um agricultor muito humilde foi sorteado. Ele não tinha dinheiro para bancar a festa, então prometeu que se tivesse fartura na colheita de seus feijões iria organizar a festa. 

No ano, teve uma colheita muito abundante e, ao abrir as vagens, descobriu que alguns dos grãos continham desenhos do Espírito Santo (Pomba), foi aí que começou a chamá-lo de feijão milagroso.

A história ficou mantida na cidade por muito tempo, assim como os grãos foram cultivados e partilhados entre a comunidade local, e só algumas décadas atrás que ele ficou conhecido pelo Brasil. Existe até um livro de 1899 escrito pelo agricultor José Geraldo Reis e Silva, chamado O Feijão do Divino, que conta a historia do feijão.

Na alimentação

Monika já cozinhou e provou o “feijão do Divino”. “A alimentação dele proporciona bem estar, não causa sensação de má digestão como o feijão convencional que recebe muito veneno durante o plantio. É um feijão branco de fácil cozimento. A primeira vez que comi, antes do cozimento foi deixado de molho e cozido no fogão a lenha com água e sal, eu fiquei chocada com o sabor e bem estar”, nos conta. 

Sua meta é se alimentar com alimentos puros e ter uma vida diferenciada com o controle da sua ansiedade. “Porque muda o humor, muda a forma de pensar, a disposição, o sono, muda completamente o nosso estilo de vida. Você começa a pensar melhor o que vai ingerir porque a ansiedade faz você comer todo e qualquer alimento. Aqui na cozinha do hotel produz bolos e pães a toda hora e o que você faz? Tem que rezar muito (risos). Atualmente eu estou meditando três vezes ao dia para me reconectar sempre, para não me esquecer de quem eu sou. Não me deixar levar por energias que não são minhas e que tudo vai dar certo. Não adianta eu ficar ansiosa e comer um bolo de churros inteiro”, pondera sobre o assunto. 

Permacultura e agrofloresta

Depois da conclusão do curso de olericultura Monika preparou um projeto de permacultura (com apoio de técnicos) sendo premiado em terceiro lugar pelo Instituto Pindorama, com o valor de cinco mil reais, concorrendo com outros cem projetos. Ela foi orientada a fazer um projeto de permacultura devido ao fato de ter dado início ao projeto de agrofloresta, a permacultura “fecharia o ciclo”. “O nosso projeto permacultural abrange hortas em áreas urbanas, nas escolas, na Apae, no Lar São Camilo. Com esse projeto a gente queria mostrar para a população o que é ter a mente e o coração tranquilo, saber que você pode sim ter a soberania alimentar. Com a diversidade de plantas alimentícias não convencionais, as pessoas matando as Pancs que são alimentos, uma farmácia viva – isso é uma vertente muito forte a fazer. E ainda, tem a parte cultural no sítio com saraus, aula de balé, as minhas terapias ocorrem lá, além da horta orgânica, o reflorestamento, a proteção das nascentes, a bioconstrução, o jardim alimentício e o turismo rural”, destaca.

Muitos agricultores estão desistindo da agricultura por vários motivos, Monika acredita que um dos motivos para não acreditam na técnica de permacultura e agrofloresta, é porque querem resultado rápido. Por isso ela juntamente com o extensionista e engenheiro agrônomo Hiromitsu Gervásio Ishikawa recorrem ao 5S. Método foi criado no Japão e implantado nas empresas japonesas a partir do fim da Segunda Guerra Mundial. Essa metodologia 5S visa implementar 100% de qualidade no ambiente de trabalho. O método recebe esse nome por ser dividido em 5 etapas cujos nomes iniciam-se com a letra “s”. Se referem as técnicas que compõem a ideia: Seiri (utilização), Seiton (ordenação), Seiso (limpeza), Seiketsu (padronização) e Shitsuke (disciplina). Gervásio afirma, “se incorporados aos poucos, com o tempo estes conceitos serão ótimos aliados na sua rotina. E coerência ética, o que a gente fala a gente faz”. 

O agrônomo Gervásio Ishikawa, Daniela Labegalini e Monika. Vagens para debulhar, Ian Vieira Benvenuto e Monika

As orientações técnicas para o plantio do “feijão do Divino”, de acordo com o engenheiro agrônomo Gervásio, deve ter o espaçamento entre linhas de 40 a 45 cm, e um número de plantas por metro entre 10 a 12. Na semeadura e espaçamento entre covas seguir 10 cm – 1 semente/cova (10 sementes/m), 20 cm – 2 sementes/cova (10 sementes/m), 30 cm – 3 sementes/cova (10 sementes/m), 40 cm – 4 sementes/cova (10 sementes/m). Plantio período das águas é setembro a novembro. Plantio período da seca, janeiro a março. Plantio período outono – inverno ou terceira época: maio a julho. O ciclo varia de 80 a 100 dias contando da germinação. Segundo Gervásio, “a colheita pode ser feita manualmente ou através do maquinário adequado quando as vagens do feijão estiverem secas ou começando a secar”, orientou.

Monika conclui chamando a atenção para a reverência ao alimento. “A importância de fazer a reverência ao alimento, o agradecimento. Porque, por exemplo, a gente começa comer e nem presta atenção no que está comendo. A importância de fazer aquela intenção de que o alimento vai nutrir as minhas células, vai me fazer bem, vai me dar saúde, me dar força, energia, me trazer boas notícias – essa é a intenção. E o feijão do Divino traz tudo isso por ser um alimento sagrado desde quando você vê as pombinhas ali”, concluiu.

2 thoughts on “Feijão Divino Espírito Santo”

  1. Bom dia.
    Desejo receber 5 sementes do feijão do espírito santo.
    Sou professor na escola Waldorf ,Aitiara em Botucatu, tenho um pequeno viveiro de mudas de floresta,panc’s e medicinais.Viveiro da Cuesta..
    Veja qual o custo de correio ou coisa assim.
    Desde já, agradeço
    Marcio

  2. Parabéns por esse trabalho importante de conscientização de valores básicos da vida. Acredito nessa busca do simples e essencial, e o eu espiritual.
    Parabéns Monika, Engº Agr. Gervasio, Salete e Sindicato Rural de Socorro

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