Baseado em uma pesquisa realizada pela Embrapa Agrobiologia (RJ) a pesquisadora Juliana Freire revelou que a produção de mudas para reflorestamento sofreu uma retração de 30% no estado do Rio de Janeiro, nos últimos dez anos. Na matéria divulgada pela Embrapa, o estado do Rio de Janeiro possui metade do seu território coberto por áreas degradadas e a baixa produção de mudas de espécies florestais em viveiros pode ser um dos maiores entraves para a restauração. Originalmente, a Mata Atlântica cobria cerca de 98% da área do estado e hoje ocupa apenas 17%. Na questão que demanda aos viveiros atender projetos de reflorestamento o gargalo está na baixa rentabilidade da atividade, altos custos de produção e dificuldade para aquisição de sementes e comercialização das mudas estão entre as razões para a queda da produção de acordo com levantamento da pesquisadora e, o planejamento e ações de incentivo são essenciais para a manutenção da atividade. 

Produção de mudas nativas em bancadas (Foto: Associação Mata Ciliar)

Para sabermos da realidade aqui no estado de São Paulo, entramos em contato com a equipe do viveiro de mudas nativas da Associação Mata Ciliar com uma unidade na cidade de Pedreira (SP) e a outra em Jundiaí (SP). Samuel Nunes, coordenador de comunicação da Associação Mata Ciliar nos informou que “nossa produção de cerca de 200 espécies diferentes de árvores características de Mata Atlântica e Cerrado, atendem principalmente a demanda para a recuperação de áreas degradadas e cursos d´água, formação de corredores de biodiversidade e criação de módulos agroflorestais. Como também trabalhamos com reabilitação de animais silvestres, priorizamos árvores nativas frutíferas, para que a fauna, além do abrigo, também tenha alimento em seus habitats. Em 35 anos de trabalhos, a Associação Mata Ciliar já plantou mais de 10 milhões de árvores, recuperando mais de 60 milhões de metros quadrados de áreas degradadas. As nossas ações de reflorestamento sempre contam com a participação das comunidades locais, tornando-as gestoras da área e zelando pela integridade da floresta, como é o exemplo da recuperação da mata ciliar do Rio Jaguari, em Pedreira (SP)”, destacou, nos encaminhado fotos do local, bem como as respostas de nossas perguntas relativas a retração na produção de mudas para o reflorestamento de áreas de Mata Atlântica no estado de São Paulo, as quais foram respondidas por Jorge Bellix de Campos, engenheiro agrônomo, presidente da Associação Mata Ciliar e Coordenador de Flora. Acompanhe a seguir a entrevista. 

Jornal Pires Rural: Segundo a pesquisadora Juliana Freire revela que a produção de mudas para reflorestamento sofreu uma retração de 30% no estado do Rio de Janeiro, nos últimos dez anos. Sabe dizer se houve uma percepção na retração desse setor em nosso estado? Há dados sobre o setor de produção de mudas para reflorestamento no estado de SP?
Jorge Bellix de Campos:
Sim, apesar de não termos os dados oficiais essa retração também ocorreu em São Paulo principalmente quando se começou a discutir o novo código florestal, o que resultou em uma redução de mais de 60% na procura por mudas nativas e por projetos de restauração florestal.
 
Jornal Pires Rural: Complementando a pergunta anterior, segundo o estudo da Embrapa, os viveiros produzem somente 22% da diversidade de espécies nativas da Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro. Associação Mata Ciliar tem conhecimento de dados dessa ordem para o estado de SP?
Jorge Bellix de Campos: Como base em nossa produção, acreditamos que essa porcentagem também se aplique a São Paulo. Das cerca de 1.300 espécies que ocorrem na Mata Atlântica, nós produzimos pouco mais de 200 espécies diferentes durante o ano.
 
Jornal Pires Rural: Originalmente, a Mata Atlântica cobria qual área do estado de SP? E hoje, ainda temos qual porcentagem?
Jorge Bellix de Campos: Originalmente a Mata Atlântica cobria mais de 80% do Estado de São Paulo. Atualmente essa área é de pouco mais de 7%, com algumas informações divergentes que podem chegar a 12%.
 
Jornal Pires Rural: Qual principal setor e região o viveiro de produção de mudas para reflorestamento da Associação Mata Ciliar atende?

Carregamento de mudas no viveiro da Associação Mata Ciliar (Foto: Associação Mata Ciliar)

Jorge Bellix de Campos: No nosso caso a maior demanda é do setor privado, principalmente produtores rurais e empresas que precisam cumprir termos de compensação ambiental, principalmente da região metropolitana de Jundiaí e Campinas, municípios do Circuito das Águas Paulista e Sistema Cantareira.
 
Jornal Pires Rural: No que tange a produção, quantas espécies diferentes são produzidas pela Associação e, dessas espécies quais são nativas da Mata Atlântica? Há produção de espécies endêmicas e ameaçadas?
Jorge Bellix de Campos: Atualmente a Associação Mata Ciliar produz uma diversidade de pouco mais de 200 espécies diferentes ao longo do ano, sendo que 70% delas são nativas de Mata Atlântica e o restante são de espécies do Cerrado. Dessas espécies de Mata Atlântica buscamos priorizar a produção de espécies ameaçadas como a palmeira-juçara, o jacarandá-da-Bahia, a peroba-rosa, o jequitibá-vermelho, a cabreúva, a araucária entre outras.
 
Jornal Pires Rural: A pesquisa da Embrapa citada, aponta um gargalo no que tange a baixa rentabilidade para os viveiristas, altos custos de produção e a dificuldade para aquisição de sementes e comercialização, como sendo fatores para uma produção abaixo da capacidade, levando em conta uma demanda existente. Essa percepção também é sentida na atuação da Associação Mata Ciliar ?

Jorge Bellix de Campos: Esses fatores também são aplicados em nossa área de atuação e soma-se a isso também o recente sistema de comércio eletrônico de mudas que mudou muito o sistema de comercialização. Observamos também que nos últimos anos está havendo uma irregularidade muito grande nas épocas de floração e frutificação e diversas espécies, o que interfere diretamente na programação de coleta e produção de mudas. Algumas espécies estão frutificando mais vezes ao ano mas com baixa qualidade enquanto outras frutificam fora época. Essa situação dificulta o processo programado de coleta de sementes em campo e, mesmo aquelas sementes coletadas apresentam uma taxa de germinação menor. Acreditamos que tal fato esteja relacionado às mudanças climáticas já que, com a irregularidade do clima e de chuvas, as árvores estão tendo que se adaptar a esse novo cenário.
  
Jornal Pires Rural: A retração na produção de mudas para reflorestamento indica que os projetos de reflorestamentos foram diminuindo? E isso impacta o meio ambiente de que forma?
Jorge Bellix de Campos: De maneira geral, os projetos de restauração florestal diminuíram bastante. Isso também em virtude dos novos sistemas adotados para o aceite e fiscalização de projetos de restauração que utilizam conceitos de regeneração natural e poleiros. Além de diminuir os projetos, boa parte deles apresentam baixos resultados, com poucas áreas apresentando desenvolvimento satisfatório. Mais de 60% dos projetos de restauração florestal não “vingam” como deveriam, também em razão de deficiências na manutenção, ocorrência de queimadas recorrentes e invasão de gado que destroem as mudas. Como resultado, os projetos que deveriam restaurar áreas degradadas deixam de cumprir seu papel, deixando para trás solos expostos, cursos d´água e nascentes sem cobertura vegetal e áreas fragmentadas que não criam conexões florestais para a circulação da fauna. O resultado disso é uma diminuição da qualidade ambiental que impacta diretamente na qualidade do ar, quantidade de água, conservação do solo e produção de alimentos que prejudica a vida da sociedade.

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