Mario Botion, prefeito de Limeira (SP), veio até a EMEIEF Martin Lutero, dia 27 de setembro, para se reunir com professores da escola, vereadores e moradores do bairro dos Pires, onde foi anunciado as obras de recapeamento das vias Matin Lutero (Lim 253) no Pires de Cima e Santo Antônio (Lim 340) no Pires de Baixo, sem data prevista para início, apenas com a promessa “após as eleições”. 

Durante a roda de conversa, estabelecida por Mario Botion, estavam presentes os vereadores Lemão da Jeová Rafá (PSC), Helder do Taxi (MDB) e Lu Bogo (PL), a diretora da escola, Diná Dibbern Fischer fez um relato sobre o andamento das atividades escolares e o atendimento aos alunos que segundo ela, está diretamente impactado pela chegada de novos moradores nas chácaras pois, anteriormente eram locais de lazer aos finais de semana, porém, hoje em dia, está servindo como moradia. Ao discutir o Projeto Político Pedagógico da escola para os próximos 4 anos, baseado em uma pesquisa interna na escola a opção, da diretora e sua equipe, será a volta de classes multisseriadas. Nestas classes, alunos de idades e níveis educacionais diversos são instruídos por um mesmo professor. “Eu não tenho como abrir um primeiro ano com 32 alunos. E aí, o que nós vamos ter que fazer o ano que vem? Nós vamos ter que voltar, depois de 20 anos, multisseriar as salas novamente. Então, nós vamos ter que, o ano que vem, fazer primeiro; um primeiro ano junto com o segundo, depois; mais um primeiro e mais um segundo e vamos ter que multisseriar também a educação infantil”, afirmou Diná.

Diná: “Nós vamos ter que voltar, depois de 20 anos, multisseriar as salas novamente”

Leia na integra o relato da diretora Diná; “Eu queria trazer um comentário sobre a questão das chácaras. A gente está em processo de elaboração do PPP (Projeto Político Pedagógico) da escola (EMEIEF Martin Lutero e Alfredo Christiano Stalberg, no bairro Bairro dos Frades). Pra quem não sabe todas as escolas e universidades, fazem isso a cada 4 anos e, nesse projeto a gente coloca um raio x da escola e quais são as propostas que a gente quer para os próximos 4 anos. Sempre fazemos uma pesquisa com os pais. Uma pesquisa que eu fiz em 2018, voltei a fazer esse ano, porque a gente tem que conhecer a nossa clientela aqui. Então, para vocês terem uma ideia na questão de quantas pessoas, quantas famílias estão morando no bairro a quantos anos. (Ao todo) 145 famílias responderam o questionário da escola e o resultado foi o seguinte; 

-apenas 15% sempre moraram no bairro;

-18% das famílias moram há mais de 10 anos no bairro;

-34% das famílias moram de 4 a 10 anos;

-17% das famílias moram de 1 a 3 anos;

-11% das famílias moram há menos de 1 ano.

Então, se eu juntar as famílias que estão aqui no bairro há menos de dez anos eu tenho 62% da população. E, aí, o que acontece? Tudo isso reflete nos problemas e, acaba refletindo aqui na escola porque, novamente, nós estamos no gargalo. Ontem no htpc (horário de trabalho pedagógico coletivo) tivemos que tomar uma decisão muito difícil e dolorida. Nós temos a opção de não atender o maternal 2, ano que vem e, abrir mais um primeiro ano. Porque em três semanas chegaram seis novos alunos para etapa dois, que vão frequentar o primeiro ano, ano que vem. Eu não tenho como abrir um primeiro ano com 32 alunos. Primeiro ano requer muito esforço, muito envolvimento da professora, eu não tenho como abrir dois primeiros anos. Então, qual foi a decisão técnica que nós tomamos ontem? Que nós vamos manter o maternal 2, porque os estudos dizem que um ano a mais na vida da criança faz diferença lá na frente. E, nós aqui concordamos que o maternal é extremamente importante. Nós temos aí o Luiz e a Miriam que são pais de uma criança do maternal e estão percebendo quanto essas crianças evoluíram no maternal.

E aí, o que nós vamos ter que fazer o ano que vem? Nós vamos ter que voltar, depois de 20 anos, multisseriar as salas novamente. Então, nós vamos ter que, o ano que vem, fazer primeiro; um primeiro ano junto com o segundo, depois; mais um primeiro e mais um segundo e vamos ter que multisseriar também a educação infantil. Porque eu mal construi, aquelas duas salas na verdade foi pra desafogar mas, continuam chegando crianças pra cá. Estas crianças estão vindo para os condomínios que estão abrindo. Então, eu acho que esse desenvolvimento, a estrutura do bairro não está acompanhando. É a escola, é o movimento na estrada, é a questão do lixo, a energia elétrica, que nós estamos tendo seríssimos problemas de queda de energia, porque a rede (elétrica) é velha. Cada hora, cada um está fazendo mais uma ligação. Então, assim, só pra mostrar com números de quanto o bairro está recebendo alunos. Eu ainda fiz uma outra pergunta (na pesquisa), só para entender, (a escola) Martin Lutero para o MEC (Ministério da Educação) é considerada uma escola do campo e por muitos anos foi uma escola do campo mas, sem ter a identidade de uma escola do campo e, alguns professores daqui, da nossa equipe, tem feito cursos na UFsCar (Universidade Federal de São Carlos), de pós-graduação em escola do campo”, revelou Diná.

Nesse momento o prefeito interrompe fazendo uma pergunta: “Desculpe mas, o que significa escola do campo e escola convencional?”.

Diná lhe responde; “a escola do campo, tem uma identidade, uma legislação pertinente para a escola do campo. Por exemplo, não é o caso do Martin Lutero pois, não estamos localizado no meio de fazendas mas, no Sul (do Brasil) o calendário escolar é conforme a época de colheita. As escolas param, porque de certa maneira, as crianças ajudam na colheita e aí, elas voltam na época do plantio. Tudo isso a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação ou Lei nº 9.394/1996) respalda a escola do campo e, até os recursos. Pela primeira vez, esse ano, o Martin e o Alfredo (Christiano Stalberg Emeief Rural localizada no bairro Bairro dos Frades) recebeu uma verba especial do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola) destinada a escolas do campo. A gente está querendo vestir, realmente, a camisa de escola do campo. Como? Com horta, trazer cursos aqui para esse pessoal de chácaras, buscar essa formação dentro da escola. A escola está a serviço da comunidade”, explica. 

Junto a vereadora Lu Bogo, a diretora da escola Martin Lutero, Diná Dibbern Fischer relata as atividades escolares ao lado das professoras

Pesquisa

“Nós fizemos uma pesquisa com a comunidade e, a comunidade apontou toda a questão, colocando o Martin Lutero como responsabilidade nessa questão ambiental. Nós temos feito um trabalho muito importante na comunidade, aqui dentro da escola com as crianças, justamente pensando no que estamos vivendo no meio ambiente. Olha na frente da escola o que nós vivenciamos: fogo! Pegou fogo do nada? Não! Isso aí foi um crime ambiental, colocou em risco a escola, colocou em risco as pessoas que passavam. A gente perguntou também na pesquisa quem morava no bairro e dependia, o sustento vinha do sítio, da agricultura e quem morava e não dependia. São 92% das 145 famílias, não dependem da agricultura. 8% das famílias vivem e sobrevivem da renda (agrícola).

 As perguntas foram com o intuito, de realmente, de que bairro a escola está localizada. O que a escola precisa fazer para estar a serviço da comunidade. Mario, temos trabalhado nessa perspectiva. Temos estudado, procurado resolução com apoio da secretaria de educação e a nossa proposta é a partir do ano quem vem, a nossa camisa, o Martin Lutero seja reconhecido como uma escola do campo e a gente esteja a serviço da comunidade. Vamos começar devagar, pra nós tudo é novo. Temos que estudar a legislação, começar a colocar ela em prática aos poucos mas, nós vamos vestir a camisa para isso. Justamente pela demanda que estamos tendo, precisamos atender a comunidade, buscar formações para esse pessoal também. Ao comprar sua chácara a primeira coisa que as pessoas se preocupam é construir a edícula, a quadra e a piscina. Se perguntar; alguém tem uma horta? A resposta é não. Se tem um pé de fruta? Não. Como a escola pode ajudar nisso? Ensinando formar uma horta, ensinando formar um pomarzinho ali no fundo. Uma composteira. É um trabalho conjunto nosso; escola, escutando os pais, escutando a comunidade”, destaca Diná.

Mario Botion, prefeito de Limeira (SP)

Mario Botion pergunta se “a pesquisa foi feita com pais que já tem filhos na escola”? 

A diretora responde positivamente e acrescenta, “eu joguei a pesquisa no grupo da comunidade e pedi para compartilhar na igreja, para pessoas que não tem filhos aqui”.

Diante dos relatos o prefeito responde; “olha, você tem um número e ele fala por si só. Mas sem ouvir os números, pelo que a gente acompanha, nesses seis anos que estamos à frente da gestão, eu tinha a percepção de que era algo dessa natureza mesmo. Porque, o número de chácaras e de pessoas que passaram a comprar de maneira irregular e vindo para a zona rural foi muito grande. Antigamente era chácara de recreio, hoje, não é mais chácara de recreio, é casa, é moradia. Aí, vem esse descompasso de ter um trânsito aumentado, onde temos que investir mais para manter, problema da escola que está aqui e ato continuo nós vamos ter que aumentar ou construir uma outra escola mas, para isso a gente precisa ter a participação de quem está morando aqui, porque hoje é zero. A gente traz a escola, traz o transporte, cuida da estrada, disponibiliza a saúde e ninguém contribui com absolutamente nada. Acho que nem o INCRA paga mais. Quem fracionou irregularmente não está nem aí. O INCRA, além de ser pequenininho, não vem para o município. A busca de regularizar aquilo que está irregular, dentro do que o regramento federal estabeleceu, também tem essa preocupação. Primeiro é dar dignidade para as pessoas que compraram, que tem um imóvel mas, não tem. Tão importante quanto isso é que passem a contribuir para a manutenção dos serviços públicos. Anualmente, nós investimos perto de seis milhões de reais na manutenção das estradas rurais, coisa que a quinze anos atrás provavelmente não existia isso. Porque a estrada não era demandada. De onde sai esse recurso? Do IPTU. Quem mora na cidade paga a manutenção aqui. Então, com esse processo de regularização, eu enquanto engenheiro, nas minhas convicções, sou sempre contra regularizar. Eu sou a favor de fazer o jeito certo. Mas, as minhas convicções ficam em segundo plano, perto de uma situação que a gente convivia. Por isso, a gente se empenhou em aprovar uma legislação que esta vinculada a legislação federal pra regularizar e, também o município arrecadar e não ficar com essa coisa injusta. Estou falando só de estrada rural, o recurso sai do IPTU e das arrecadações que o município tem e, vem para estrada rural, para atender aqueles que efetivamente moram aqui há muito tempo, quem tem suas propriedades e, atender essa grande massa de pessoas que vem vindo para a zona rural e que não contribui com nada. Mas, vai passar a contribuir com a regularização, que vai permitir a gente continuar fazendo as manutenções e como por exemplo, construir uma escola nova, talvez não vai ser para amanhã. Eu não sou educador, eu entendo no geral mas, fazer série seriada (classe multisseriada), isso não é, por mais capacidade, por mais competência, por mais empenho”, estava falando Mario Botion, quando Diná intervém dizendo “na verdade a multisseriada, a gente está vendo agora com outros olhos. Existia muito preconceito lá atrás: ‘eu não vou por numa escola multisseriada porque é uma professora pra duas turmas’.  A pós-pandemia, nós estamos tendo grupos, eu digo que tem professor que tem três turmas diferentes. Então, multisseriada seria legalmente mas, multisseriada em duas turmas, uma turma, é um retrocesso. Última vez que o Martin Lutero teve turma do fundamental multisseriada foi em 2002, há exatamente 20 anos. De lá para cá, a escola foi aumentando, aumentando, em 2007 derrubou e, 2008 fez aqui, agora estão voltando. Eu disse assim, até no grupo da diretoria, eu não acho justo! Eu fiquei três anos dentro da Secretaria (de Educação). O pai vem aqui, eu não tenho um lugar para atender. Eu tenho direito de ter um lugar digno para trabalhar, para atender uma mãe, atender alguém da comunidade que quer vir aqui. Eu já cheguei a atender pais debaixo da árvore, lá no quiosque, é justo? Não é! Agora, isso é consequência do quê? Desse crescimento desordenado. Percebemos tanto aqui como lá na escola Alfredo, uma rotatividade de crianças. O pai da criança vem matricula, fica alguns meses, vê que o negócio não é bem assim, não é tão fácil de se adaptar. Aí vai embora e, já tem duas aguardando vaga. Eles relatam pra gente várias coisas; não acostumou, é muito longe, tem que andar até a cidade, não tem transporte, só há um carro pra dois, tem o lixo. Cria-se uma certa ilusão de comprar a chácara e vir morar. Aí descobre que o buraco é mais embaixo. Cria-se essa rotatividade dentro da escola e de uma certa maneira acaba atrapalhando o trabalho dos professores. Esse ano deu um boom de crianças especiais e, eu tenho uma professora num lugar adaptado, é um almoxarifado organizado, não é uma sala especial para atendimento. Na verdade somos muito criativos, vamos adaptando e vamos organizando”, efatizou a diretora.

Em seu entendimento prefeito conclui, “é um desafio. Acho que com a transformação da escola em escola do campo, acho que é uma decisão bem propositiva no sentido de acolher a comunidade mas, é um desafio porque aumenta as responsabilidades. Como a ideia é atender a comunidade, nesse assunto, especificamente, podemos envolver a Secretaria de Meio Ambiente, nessa relação de capacitação, de falar das questões do meio ambiente, de horta e pequenas plantações. Acho que a Secretaria de Meio Ambiente pode, de alguma maneira, ajudar. Não sei exatamente qual é a dinâmica disso”, disse.

A diretora finaliza; “a gente tem feito parcerias muito boas. Inclusive vem uma professora da Unicamp fazer um trabalho com as crianças do quinto ano. Todo ano nós fazemos a coleta de lixo jogado no acostamento. Faz um trabalho de consciência com eles, que é pra chocar mesmo. Se encontra de tudo no acostamento, nos divulgamos para os pais. A comunidade tem trazido para a escola os blisters (embalagem do remédio), tampinha, óleo (de cozinha usado), nós temos recebido e depois vendido e fica um dinheirinho para a escola. Cada vez mais estamos tentando abraçar as questões ambientais, de pouquinho, em conta gotas mas, ano a ano, temos aumentado. Temos uma parceira legal com (a Secretaria) de meio ambiente, a Secretaria da Educação vem aqui e participa das ações com a gente. Inclusive, nessa coleta de resíduos que fizemos com os alunos, no acostamento da via, surgiu uma nova demanda que é a reciclagem de vidro, porque, o que eles mais coletaram foram garrafas de vidro, 128 garrafas em um quilômetro. A professora da Unicamp vem falar justamente sobre isso, porque não é o processo de reciclagem do vidro que é difícil, é a logística. Então, ela vem discutir isso com os alunos e a proposta, depois desse período, é fazer uma carta com as crianças do quinto ano e lavar para você (prefeito)”, finalizou.

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