Jornal Pires Rural – Edição 335 | Engenheiro Coelho, Julho de 2023 | Ano XVII

Valdir Ferreira dos Reis, conhecido como Valdir da Estufa é diretor executivo de Agricultura e Abastecimento da cidade de Engenheiro Coelho (SP). Assumiu o cargo através do convite do médico Dr. Zeedivaldo (PSB) prefeito eleito em 2020, para a legislatura 2021-2024. É a primeira vez que Valdir está à frente de um cargo público, ele é técnico em agropecuária, trabalhou na formação de mudas cítricas e na produção de hortaliças hidropônicas.

A entrevista foi realizada nas dependências da Casa de Agricultura de Engenheiro Coelho e, o primeiro assunto abordado foi sobre a agricultura familiar do município e sua produtividade e agregação de valor. Valdir respondeu, “a agricultura familiar, num pequeno número de produtores, atende a nossa alimentação escolar. Tem um pequeno grupo fazendo vendas em convênio com a (Secretaria de) Educação municipal. São poucos mas, é um projeto muito bem vindo da União e a prefeitura faz a administração. Acho que deveria abrir mais compras, quanto mais desses recursos vir para o município isso melhora. Para atender tudo o que se pede, falta produtores. Precisava alinhar melhor os produtores porque recursos, até vem. Quem administra isso é a Casa da Agricultura que faz os projetos junto com a prefeitura e essa verba é direcionada a cada um que vendeu seu produto. Esse ano abriu mais o leque, além das hortaliças também entregam legumes, mandioca e suco de laranja já processado.

As propriedades rurais do município passam de 600, não tenho os números só de propriedades pequenas. Quanto ao que é produzido em nossa área rural, a laranja era muito forte, hoje, acredito que caiu 80%. Os viveiros de mudas cítricas ainda mantém a produção, pois vendem a maior parte para fora do município. Cana-de-açúcar já tinha um espaço considerado. Aumentou muito o plantio de mandioca, soja e milho. Tem poucos mas grandes produtores de gado de corte. O pequeno produtor tem seu gadinho de leite, as granjas não são de grande porte e poucas existentes. Nosso município é rural, é agricultura. Boa parte da mão de obra está na cidade e desloca para o campo, para o plantio de mandioca ou plantio de milho com máquina ou para a colheita”, descreveu. 

Durante a campanha eleitoral de 2020, que o Sr. acompanhou junto ao Dr. Zeedivaldo, quais foram as demandas dos agricultores(as)? A atual administração está atendendo a quais demandas? 

Valdir citou, “os agricultores são parceiros muito bom de se entender, no caso da administração, a demanda sempre foi estradas, dar atendimento para ele escoar a produção, assistência a saúde, assistência ao filho, ao empregado, ao transporte escolar, então, é atendê-los na questão das estradas rurais, na locomoção. Começamos a fazer um trabalho para melhorar a locomoção, que melhorou bastante no caso das estradas rurais. É o respeito ao produtor rural de forma geral, porque não é só o produtor rural que usa (as estradas) é chacareiro, sitiante, o visitante, várias situações. Temos 103 quilômetros de estradas rurais, juntando com caminhos de servidão chega a 180 quilômetros. Quando assumi a gestão estava muito precário as condições dessas estradas, era buraco e valeta. Tem que ter um trabalho junto com o produtor, não é fácil convencer um produtor que tem água saindo na estrada e precisa ser feito uma caixa de contenção na propriedade. Para fazer isso ou cascalhar uma estrada, tem custo para o município que é pobre. Corremos atrás e fomos beneficiados com muita coisa, diria que já melhorou 50% na parte de estradas rurais. Estamos fazendo um trabalho de conscientização do produtor, trazendo, valorizando e mostrando para ele o que dá para ser feito”, explicou.

A sucessão familiar está acontecendo na agricultura do município? De que forma o Departamento de Agricultura acompanha, e estimula a permanência dos jovens na produção agrícola familiar? 

Valdir descreve, “a sucessão no campo depende mais da família estimular o filho estar dando sequência no trabalho do pai. O poder público pode estar contribuindo com esse tipo de situação dando condições, que lhe cabe, do filho ter motivos de ficar trabalhando na área rural, como exemplo, uma boa locomoção, condições de transporte para o estudo, porque ele visualiza lá na frente. Quem fica hoje na roça, seguindo a carreira do pai, é aquele que mexe com boi, mexe com soja, mexe com laranja, para esses o ganho é diferente.

Assume a propriedade aquele que vê que a família está ganhando. 

Pra manter uma família na área rural, hoje, é preocupante. Não está acontecendo e, a prática da produção rural vai cada vez encarecendo mais, porque não consegue um tratorista, um operador de máquinas, uma pessoa para cuidar de um plantio de alface. A faixa salarial desse empregado, o produtor não consegue pagar. Quem está produzindo é porque tem alguns compromissos e tem que cumprir. Então, a filha ou o filho do produtor, vendo o sofrimento do pai, diz que essa não é a vida, então, vai estudar, vai buscar outras coisas. Vai ser mais um produtor ficando velhinho e vai sair do mercado e matou aquilo tudo.

Na agricultura, vai permanecer aqueles que tem rentabilidade e ganhos, mas não é produzindo o alimento que mata a nossa fome, não é quem produz arroz, produz feijão, produz hortaliça, não é!”, destacou.

Valdir ainda acrescentou, “o governo, não só municipal, deve estimular o produtor rural, falo bastante isso, valorizando o produtor rural. Hoje, muitos não seguem o caminho do pai por causa da maneira que é tratado o produtor rural, falta muito (apoio) lá de cima. É uma escala ao contrário, porque o município, não tem força. Falo assim, é valorizar aquele que produz a nossa saúde, a nossa vida, que é o nosso alimento. 

Mas aonde pega segurar o filho do produtor rural no campo, é a valorização da produção dele. Eu falo isso porque aconteceu comigo, o que se produz, só tem valor depois que sai do portão da propriedade. Até (chegar no) comércio são muitas passagens, não tem uma venda direta. Daí o produtor rural começa desviar o próprio filho para ter um estudo e se preparar para trabalhar como mecânico, médico, professor, outros empregos que vai sofrer menos e vai ter um ganho real.

Não tem um acompanhamento, uma fiscalização depois da saída (da mercadoria no sítio) e na chegada final para o consumidor. Porque sai um preço muito baixo da propriedade, tem-se uma travessia que se ganha muito dinheiro e aí, o consumidor paga caro. Só paga para o produtor um valor real quando não tem uma produção abundante. A fonte produtora é judiada e a fonte consumidora é judiada, então, é nesse meio que teria que vir de nossos deputados e senadores leis de preço mínimo para o produtor ter um ganho real do que custa a produção. 

O olhar dos nossos governantes, de quem tem o poder da caneta, precisa ser revisto, porque são duas partes que paga muito caro, o produtor e o consumidor. O pequeno produtor é refém de uma sociedade que falta uma visão de compromisso sério sobre as fontes. O coitado que não tem condição, vai pagar um produto caro para matar sua fome, que está saindo muito barato do sítio e, está condenando alguém. 

Subsídio e empréstimos a juros baixo é maravilhoso mas, se o produtor não tiver um preço mínimo de venda, vindo de quem tem o poder da caneta pra mandar de fato, a lei de oferta e procura é sangrenta para o produtor, ela avalia muito pra baixo. Dou exemplo da mandioca que esses dias estava saindo a R$0,40 o quilo na roça, veja quanto o consumidor vai pagar a mandioca in natura, no mercado ou na rua, não vai ser menos de R$5,00 o quilo. É muito desequilíbrio. O governo até tenta ajudar de alguma forma, mas é muito pouco. Tem fome no Brasil, tem dificuldade de alimentação mas, essa dificuldade diminuiria muito se não tivesse os gargalos de muito ganho até chegar ao consumidor, porque, quem produz o alimento nosso do dia a dia também sofre, precisa ser revisto isso”, detalhou Valdir.

Em sua opinião para onde caminha a produção da agricultura familiar, vamos ficar sem alimentos?

Valdir frisou, “vai chegar num momento que vai ser obrigado a valorizar esses pessoas (produtores), mas isso vai ter um custo maior ainda para pessoas que tem baixo poder aquisitivo. Diminuiu muito a mão de obra na roça, não tem mais moradores, então, tem que levar a juventude da cidade. Com essas pessoas novas se vê a diferença de produção, eles não estão preparados, cai o rendimento de trabalho. Não é isso que a pessoa quer e não fica um mês. Porque o trabalho na roça de hortaliça a campo é sol, chuva, vento, sujeira, é diferente, tem que ter prática na produção. Dessa forma que produz nosso alimento no dia a dia. Vejo que isso é um problema de todo município. Isso me preocupa bastante, já falei sobre isso com deputados mas, é a lei de oferta e procura e, parece que ninguém quer pegar”, concluiu.

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