Apreciar uma boa taça de vinho para Carlos Bellon e para sua esposa Simoni Giovanini, começou pela afinidade com um casal de amigos onde, experimentar vários tipos de vinhos, fazendo anotações sobre cada garrafa de vinho que saboreavam, tornou-se frequente. 

Conversamos com Carlos, um entusiasta que há quinze anos se interessou pelo mundo dos vinhos e nos conta sobre os diferentes tipos de uva, qual é o caminho para acertar na escolha de uma boa garrafa de vinho, a temperatura ideal da bebida e qual o vinho ideal para iniciantes. Leia a seguir;

“Nas visitas que fazíamos e recebíamos de nossos amigos, antes da pandemia, surgiu em conjunto a vontade de experimentar os vinhos. Começamos a provar vários tipos, cada um trazia uma garrafa diferente e comentávamos ‘esse é mais doce, esse é mais ácido. Gostei daquele’. Foi uma curiosidade em querer saber mais e conhecer e, nisso, já se passaram quinze anos. Logo no começo, o primeiro ponto na escolha dos vinhos levava em conta o fator preço. Eu pegava os mais baratinhos, isso foi fundamental. Como eu não sabia nada, a garrafa e o rótulo que chamava mais atenção, também me atraiam. Não fazia conta da procedência, se era nacional ou importado, tanto fazia. Depois que começamos a degustar, por conta própria, fazíamos as anotações em um caderno. Marcações tipo as diferenças que sentimos em dois vinhos diferentes, como o tanino e a impressão alcoólica que percebíamos. O interesse foi aumentando e começamos a assistir alguns vídeos pela internet, pra conhecer realmente o que estava bebendo, não só pegar uma taça, virar e boa. Isso se tornou frequente nos finais de semana, buscava provar novos rótulos, não era porque um vinho estava mais barato que na semana anterior eu comprava novamente, não! Pegava um outro, na mesma faixa de preço, para fazer a comparação. É só assim que vem o conhecimento”, descreveu Carlos.

Nessa trajetória de 15 anos provando vinhos, ele diz que hoje em dia as degustações não ocorrem todo final de semana pois, ele acredita que os preços estão fora da realidade mas, pelo menos duas vezes ao mês tem uma garrafa especial para saborear. Com o passar do tempo Carlos ficou mais criterioso com as escolhas, “comecei a comprar alguns livros contando histórias do vinho, livro só de vinho tinto, livro só de vinho branco, eu tenho um livro que aborda um pouco de cada detalhe como os tipos de uva, as regiões produtoras, o método de fabricação do vinho. Isso vai ajudar desde que faça na prática, prove de acordo com que está escrito, porque só ler e depois comprar um vinho e nem prestar atenção no que esta bebendo, vai ser como a cerveja de antes que só tinha três marcas: Skol, Antarctica e Brahma, bebia e não tava nem aí para as diferenças. A ideia é aumentar o conhecimento, isso muda a história pois, vai despertar o interesse na fabricação, a qual é melhor e qual é pior. Quanto aos preços, realmente, não tenho nada contra os vinhos de R$30,00, tem coisa boa mas, já sei que um de R$150,00 ou mesmo de R$80,00, vai ser ‘o’ vinho”, aponta.

Sommelier 

De tanto fazer anotações, Carlos resolveu ir em busca de um curso de Sommelier lá no Senac de Águas de São Pedro, SP, em 2016. Segundo disse, o curso teve duração de dois meses com aulas duas vezes por semana. Era abordado a história do vinho, a região de produção e claro, havia degustação de vinhos. “Toda aula, praticamente, tinha degustação de vários tipos de vinho, com tipos de uvas diferentes e depois estilos diferentes. Tudo aquilo que fazíamos na brincadeira com as anotações, aprendemos profundamente no curso. Após a degustação, cada um falava suas impressões sobre cada vinho como aroma, sabor e assim fomos aprendendo e percebendo mais diferenças. Era legal, sempre tinha seis uvas diferentes ou a mesma uva produzida em regiões distintas. O professor do curso é um Sommelier de vinhos, cervejas, charuto o que perguntava ele tinha a resposta na ponta da língua. Aprendemos a ordem das anotações começando pelo nome do vinho, a safra, o ano que foi elaborado, o tipo de uva, a vinícola e o país. As percepções no olfato, o aroma na degustação, no retrogosto (sensação do gosto ou do cheiro deixadas por uma comida ou por uma bebida). O professor estimulava a gente perceber cada detalhe, pelo olfato dá pra perceber se um vinho é alcoólico, se é frutado, tem o cheiro de fruta, menos de uva, nenhum vinho tem cheiro de uva. É o conjunto do paladar e olfato trabalhando para sentir as características da uva. No curso eram apresentados vinhos seletos, rótulos que dificilmente achamos no mercado variando de R$300 a R$400 a garrafa. Gostei da aula que teve degustação às cegas, tapou todos os rótulos e teve de tudo até vinho Chapinha”, relatou.

Concha Y Toro

O entusiasmo pelo vinho levou Carlos até o Chile visitar uma importante vinícola, “fomos ao Chile planejando já visitar a vinícola Concha Y Toro. Eu já conhecia bastante os vinhos produzidos lá mas, nunca tinha visitado o Chile. Fomos em dois casais. Existe um monte de vinícolas e optamos pela Concha Y Toro por ser a mais conhecida. Os passeios pela vinícola são divididos em 3 tipos e, cada um tem um preço. Escolhemos o mais completo que inclui, além da visita guiada por toda vinícola, apresentando a plantação de uvas, a parte interna dos toneis e a degustação, tem uma outra degustação separada com vinhos mais especiais e queijos. É aquele ritual, a sommelier explica a característica de cada vinhos e provamos e comemos, são vinhos para todos os bolsos, pra quem gosta é muito bacana. Mas recomendo se informar antes sobre as vinícolas e os passeios, para não ter surpresas desagradáveis”, aconselha.

Carlos Bellon e a esposa Simoni, na vinícola Concha Y Toro, ao lado as garrafas que aguardam a melhor ocasião para serem abertas e o parreiral da vinícola na região do Valle Del Maipo, distante poucos quilômetros de Santiago, Chile

O que é um bom vinho? 

“Os vinhos tem um padrão até certo ponto, por exemplo, o local que é plantada a uva, o tipo da uva, a colheita na mesma época e a diferença pode acontecer na questão do clima aí, pode mudar o sabor da uva no produto final ou a safra de um ano ser totalmente diferente no ano seguinte. Resumindo, um bom vinho é um vinho bem equilibrado, ou seja, quando você prova e sente se é muito alcoólico, se tem muito tanino, se é um vinho fraco, a acidez de um vinho chama demais sua atenção, então, durante a degustação você vai identificando cada característica e um bom vinho tem um equilíbrio em todas as características”, revela Carlos.

A bodega (subterrânea) onde hiberna um dos vinhos mais famosos, o Casillero Del Diablo

Quando um vinho está pronto para beber?

Todo vinho que encontramos no mercado ele é produzido para ser consumido logo, então, quanto antes tomar é melhor. 90% dos vinhos produzidos no mundo é pra consumo rápido, principalmente os que são encontrados no supermercado. Safra do mesmo ano e no máximo de 3 anos está pronto para consumir. Não é todo vinho quanto mais velho melhor, isso não é verdade. Tem alguns vinhos que tiveram um ano bom de colheita e essa produção pode ser guardada por mais tempo, seria o vinho de guarda, quanto mais tempo guardado melhor. É um vinho preparado para isso. É a própria vinícola produtora quem vai dizer se é um vinho de guarda ou de consumo rápido. Se por um acaso você tomar um vinho e ele tiver um sabor parecido com vinagre, esse vinho foi armazenado incorretamente, sofreu com temperatura altas e baixas ou passou do tempo de consumo. Normalmente quando você abre um vinho, deve ser consumido imediatamente, no máximo no dia posterior, deixar apenas um dia na geladeira depois de aberto, porque já começa a ter o gosto avinagrado. O vinho perde sua acidez, não tem mais tanino, vai estar uma porcaria, vamos dizer assim. A única exceção, são as embalagens bag de 3 litros dos vinho, porque o vinho não tem contato com o ar, mesmo assim acredito que um prazo máximo, razoável, seria de duas semana, para ir tomando um pouquinho por dia. 

Quanto a temperatura na hora de servir, como no Brasil é muito quente, a gente aconselha deixar uns dez minutos na geladeira, só para dar uma resfriada, para não servir quente e também não gelado, porque aí você não vai sentir todos os aromas. O vinho deve estar frio. No inverno dá para consumir o vinho sem colocar na geladeira. Seguindo uma regra: o vinho branco é mais gelado que o vinho tinto e, o vinho espumante mais gelado que o vinho branco. Não é legal deixar o vinho na geladeira e a garrafa ficar suando antes de abrir, é apenas pra deixar ele frio. 

Quando as garrafas são abertas o vinho entra em contato com o ar e começa as reações de oxidação. Essa oxidação é capaz de alterar suas características e ocorrem duas coisas: a evaporação do álcool contido na bebida (geralmente em quantidades insignificantes) e reações de oxidação (interação entre os elementos contidos no vinho e o oxigênio). Os processos de oxidação são capazes de liberar compostos aromáticos voláteis, alterando o sabor e o aroma do vinho. No caso do vinho do Porto, como é um vinho fortificado pois, numa certa etapa da produção é adicionado aguardente vinífero, depois de aberto ele dura mais, porém não acredito que esse prazo chega a um mês. 

O vinho é vivo, quando você adquire uma garrafa e deixa guardada o processo natural de fermentação continua de forma mais lenta, por isso quando abre e entra o ar começa a oxidação, é uma bebida viva.

Para armazenar as garrafas, só é necessário deixar o vinho deitado com o líquido em contato com a rolha para os vinhos de guarda, que devem ser armazenado deitados para não ressecar a rolha. Mas lógico, quem tem uma adega deixa as garrafas deitadas. No mercado se for comprar um vinho da safra 2021, vinho jovem, não vai estar estragada a rolha. Por isso, hoje em dia tem garrafas com tampas plásticas, outras tem rolhas sintética e isso não traz nenhuma perda ao vinho e não é porque tem essas tampas que os vinhos são porcarias, não precisa ter esse preconceito”, Carlos ensinou.

Conhecendo

Vinho tinto, vinho branco, espumantes, Moscatel, Cava, Champagne, é um mundo infinito de opções, para orientar aos iniciantes pedimos uma sugestão de uvas que são mais fáceis na degustação, Carlos indicou uma uva de vinho tinto, a Pinot Noir pois, na opinião dele, é mais “fraquinha” porque a uva tem uma pele fina e gera um vinho “delicado”. “Tem a Tempranillo que é da Espanha, não tem como errar, é comprar e fazer sucesso, tem um tanino bom”, disse. Outra bem mais fácil de achar produtos do Brasil, Chile, Estados Unidos ou Argentina é da uva Cabernet Sauvignon e, seguindo naquela tendência de sair apreciando variedades, ele também indicou a Syrah e a Merlot.

“O primeiro passo é ter a curiosidade de conhecer mais sobre vinhos, pode ser escolhendo por rótulo ou preço, pelas regiões produtoras ou países. Depois é começar a degustar, percebendo os sentidos e fazer as anotações pois, aquelas marcações que eu fiz lá no começo, pelo meu interesse nos vinhos, valeu a pena, eu comecei a identificar as características para comparar um com outro. Não adianta comprar um monte de livro, fazer cursos e não provar continuamente”, destacou.

O caderninho de anotações com as percepções de quê encontrou em cada garrafa

Harmonizações

“As harmonizações de vinho e gastronomia é um mundo à parte. A turma fala do acompanhamento entre pizza e vinho, macarronada e vinho, eu mesmo prefiro churrasco com vinho. Pra mim vinho com macarronada não fica legal, porque o molho vermelhão forte, muito temperado pode sobrepor, sobretudo se um vinho não combinar, não vai ficar legal. Basicamente é assim; provar da comida, nem que seja um queijo ou um Doritos, em seguida beber o vinho, vai sentir o sabor dele pela boca, a bebida passa pelo palato, aí vai ter aquela combinação. Quando for comer novamente, o vinho preparou sua boca, então, essa combinação que é interessante. E quando você sentir que um sabor está evidente, está desequilibrado, é porque teve realce de algo que não caiu bem. Pode acontecer de sabores opostos da comida e do vinho, que na teoria não ficava bom mas, na prática ficou bom, foi uma combinação inusitada. É possível fazer uma noitada de vários estilos de vinho, isso é interessante. Por exemplo, pode começar com um espumante antes do jantar, depois pode ter um prato de entrada com vinho branco, depois um prato principal com vinho tinto e finalizar com um vinho de sobremesa, acompanhado de um pêssego ou um bolo pois, o vinho de sobremesa tem sabor doce e bem frutado, mas ele não tem adição de açúcar, é doce pela própria uva”, sugere Carlos para instigar o mais contido paladar.

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