• Carla Stein Sturion

É bem provável que você, caro leitor, já tenha falado algumas dessas frases: “eu não sou bom com as contas”, “matemática é pra quem tem dom” ou até mesmo “matemática? Credo! Me dá até arrepio!”.

Mas será que isso é, de fato, verdade? 

Antes de chegarmos a uma resposta para essa pergunta, peço que puxe na sua memória a época em que frequentava o ensino fundamental. Tente se lembrar de quando começou a aprender a multiplicar ou a dividir, a resolver expressões numéricas ou equações. De quando a matemática foi se tornando aquela disciplina já não tão agradável de estudar. 

Agora, nessa mesma época, tente se lembrar dos seus professores. Sim, os temidos ou amados professores de matemática (ou é 8, ou é 80!). Lembrou? E o que você sentiu?

Pois é, mediante esse sentimento que vou te responder a nossa primeira pergunta.

Foto:Cordel, A peleja do aluno com o professor Autor: Breno Oliveira

Em 15 anos lecionando matemática para o ensino fundamental, pude perceber que 95% dos alunos chegavam até mim com dificuldades em absorver a matéria ou, simplesmente não gostando de matemática, porque tiveram professores que, ou não lhe davam liberdade para errar ou não lhe passavam confiança para aprender.

É isso mesmo que você acabou de ler! As crianças e adolescentes não confiavam em seus professores e tinham receio de errar, com medo de serem julgados.

Qual seria então, o melhor ambiente para uma criança errar e aprender com seus erros, se não a escola? E, é aí que o professor tem papel fundamental no desenvolvimento do ensino/aprendizagem da matemática. Quando um aluno confia em seu professor ele se abre para o aprendizado. Saber que ele pode tentar, errar, tentar outra vez, errar novamente, e que ainda assim ele terá a chance de aprender pois, ele confia no professor e o professor confia nele, muda tudo!

Antes de qualquer coisa, nesse tempo todo em sala de aula, eu compartilhei com meus alunos minhas histórias, minhas experiências, minhas conquistas no esporte. Eu mostrei a eles que a Professora Carla era uma pessoa comum, que acertava e errava, que se frustrava, que sorria e que também chorava. Eu sempre tentei deixar claro que eu estava ali para ajudá-los, e não para julgá-los. Que para mim, não existia diferença entre eles. Que todos eram capazes de aprender a matemática, independente da diferença de tempo que levariam para isso.

O segundo passo era tentar transformar a matemática numa disciplina agradável e divertida. Por que não aprender frações equivalentes fazendo uma deliciosa receita de pão de queijo? Estimular o raciocínio rápido das operações através de um jogo de queimada? Construir polígonos e poliedros utilizando palitos de madeira e massinha? Aprender sobre gráficos através de uma pesquisa que eles mesmos realizassem e não apenas aquelas prontas que vem nos livros?  Ou então, resolver uma série de equações do 1º grau através de um caça ao tesouro de páscoa? A matemática não precisa ser maçante. Ela precisa ser funcional, e legal!

Muitas vezes, adaptei e readaptei a programação das aulas para que fossem melhor absorvidas pelos alunos. Sempre estipulei diferentes maneiras de avaliá-los: provas, listas de exercícios, trabalhos, atividades avaliativas, realização das tarefas de casa, cooperação em sala de aula, criatividade, organização, e sempre fui transparente ao informá-los que a nota que eles tanto almejam se constrói com esforço e dedicação ao longo das aulas.  Afinal, um aluno não pode ser rotulado apenas por uma folha de papel.

E, ao longo desses 15 anos lecionando, 99% dos alunos que passaram por mim, puderam ter uma experiência diferente com a matemática. 

Não, nem todos saíram amando a minha disciplina. Mas todos sentiram que podiam confiar em mim, que eu confiava neles, e então me deram a liberdade de poder ensiná-los. Sem dúvida, isso tem muito mais valor do que qualquer nota 10! Pois, ao final de cada ano letivo, cada abraço recebido seguido de um “muito obrigado professora” ou “eu passei a gostar de matemática por sua causa” era a prova de que eu tinha feito a “minha lição de casa”.

Agora, respondendo a nossa pergunta inicial depois deste meu relato: será mesmo que a matemática é só para quem tem o dom? Será mesmo que você não é bom com as contas?  

Se quando eu perguntei o que você sentiu em relação aos professores de matemática daquela época e a sua resposta foi algo parecido com tristeza, raiva, decepção, agonia, aversão, acredite, o problema não está com você!

Talvez você tenha tido mais professores vilões do que heróis.

One thought on “Professor de matemática: herói ou vilão?”

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