• Christian Ranieri Pereira Dias

Ao longo de seu desenvolvimento o ser humano, enquanto criança e adolescente, se depara com inúmeras situações e pessoas que modificam não só suas crenças e ideologias mas como também sua visão de mundo como um todo. E, para além do valioso serviço de docência que prestam à sociedade, os professores são também frequentes vetores de mudanças significativas na vida de seus alunos. Comigo, não foi diferente.

É certo que isso não pode ser dito de todos os professores, invariavelmente haverá aqueles cujas lembranças, assim que recordadas, nos farão revirar os olhos em direção à nuca, tamanho o desgosto a eles associado. Mas, há também aqueles que, com o passar do tempo, crescerão dentro das memórias de seus alunos para se tornarem fontes de inspiração, respeito e carinho pelo resto de suas vidas.

E, é a partir de relações, como a citada por último, que o verdadeiro brilho da profissão dos professores se faz presente. Ser professor não se limita ao simples ato de possuir conhecimento, mas abrange-se também a arte de, antes de tudo, conectar-se aos outros e, através desse estabelecimento de laços de confiança e interesse, transfigurar-se numa espécie de transmissor ativo daquele conhecimento que antes residia exclusivamente em suas sinapses. 

É justamente por ser a mais basilar de todas as profissões que o professor é também uma das mais humanas.

Recordo, em especial, de dois professores que marcaram a minha vida, um de artes e outro de português. Em ambos os casos eram ministradas aulas cujas matérias não eram minhas favoritas a princípio, mas que passaram a ser pontos muito fortes de interesse pessoal depois do contato que tive com suas aulas.

De fato é estranho olhar pra trás e perceber que, em especial quando somos jovens, somos nada mais que um produto das situações e pessoas as quais fomos expostos. Nesse sentido, posso ter a certeza de afirmar que foi o contato com a disciplina de arte ministrada por aquele professor que me fez começar a encarar pinturas, arquiteturas, história da arte, movimentos de expressão popular e até mesmo constructos historicamente acomodados em nossa sociedade de maneira mais crítica que despertavam e ainda despertam cada vez mais a fome incessante de conhecer e compreender o mundo ao meu redor.

Paralelamente, é também o acesso a língua portuguesa que, dentre inúmeras capacidades despertadas, me possibilitou estar aqui transmitindo esses valores e recordações numa folha em branco. Que fez possível o meu encontro com o amor à escrita.

Considerando o quão importante à sociedade o trabalho de docente é. E, também o quão intrínseca é a boa relação com professores para a formação de um ser humano em fases de amadurecimento. É extremamente triste o quanto os mesmos são subvalorizados pela nossa sociedade. 

Movidos muitas vezes pela pura paixão, vários deles passam pelos problemas diários de baixos salários, humilhações constantes e problemas de ordem pessoal, para entregar aos seus alunos o máximo de si sempre. 

É importante, então, que nós, enquanto sociedade, tomemos cada vez mais consciência com relação a esses fenômenos e nos revoltemos ainda mais com o status quo vigente. Pois é somente através da revolta popular organizada que podemos mudar o mundo ao nosso redor, para um mundo que seja moldado para acomodar e valorizar aqueles que de fato constroem e estruturam nossa sociedade, e não somente para aqueles que mandam construir e nada fazem para ajudar a não ser olhar de cima para baixo.

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