• Felipe de Oliveira Campos

Dentro da educação pública brasileira existem muitos sonhos, muitos traumas e muitas vontades. Inclusive existiram – e existem – as minhas. Sempre sendo proveniente de escolas públicas, a educação sempre foi para mim mais que uma obrigação ou um direito, era um dever. Mas, não porque me impunham, e sim porque eu entendia que era somente por meio da sala de aula que poderia mudar a realidade da minha vida. 

Recordo-me que, ainda pequeno, sempre tive um amor pelos meus professores. Era aquela criança que gostava de levar flores, que cultivava em casa para eles, fazer cartas e os olhar com admiração. Isto talvez seja pela minha mãe, que trabalha na educação, não é professora, mas que eu considero a grande primeira professora da minha vida, uma vez que quem marcou minha vida primeiro ensinando-me as grandes coisas como educação, afeto e importância das coisas fora ela. E, ela sempre gostou muito de ter um filho que gostava de estudar – e eu amava que ela gostasse de mim. 

O entendimento, desde pequeno, que um professor bom ou ruim, faria toda a diferença em sala foi essencial pela minha paixão na educação. Eu consigo sentir até hoje as aulas que meus olhos brilharam quando tive a honra de presenciar aulas que deixavam de ser abstratas, para tornar-se algo que eu entendia que levaria aquilo para minha vida, de influenciar colegas meus a aplaudirem fins de algumas aulas de professores muito excepcionais que tive em meu Fundamental II (6º ao 9º ano) e, obviamente, como um apaixonado pela educação, do meu primeiro contato com a educação freiriana. 

Não se pode falar em educação, sem citar Paulo Freire que foi, e continuará sendo, o maior educador que esse mundo pôde presenciar. Sempre existiu uma parte de mim freiriana, mas que nunca soube disso, antes de encontrar um breve conhecimento sobre um homem que entendia que educação é, antes de tudo, política e um ato de amor. Para o pensador, a educação deve ser emancipadora, tornando quem aprende, também um educador, numa via dupla em que o educador ensina, para, assim, também aprender. 

E, é necessário que a educação seja um reflexo disso. Que possamos eternizar ainda mais Paulo Freire e colocar uma educação em nossas escolas que tornem pessoas críticas. Que entendam não só a importância da educação, mas, possam a questionar, que possam enxergar outras perspectivas e arrumar novas soluções. 

É dentro disso que nasceu, também, meu amor por educação pública que primeiro cogitou-se em uma carreira na educação, até que entendi que é dentro da gestão pública, área que faço graduação atualmente, que poderei fazer o mesmo papel que eu sinto dos meus professores: o de mudança social e perspectiva de vida. 

Se hoje, eu posso estar numa das melhores universidades da América Latina e do mundo, é porque alguém lá atrás sonhou por mim. Foram, primeiramente, a minha grande educadora conhecida como “mãe”, mas aqueles também que por 18 anos estiveram em salas de aula comigo, me incentivando, nunca desistindo de mim – até mesmo quando eu desisti – e mostrando qual era o meu lugar nesse mundo. 

É obvio, no entanto, que como um futuro gestor público, não se pode falar de professores sem falar de sua desvalorização contínua e infeliz. Como podemos celebrar uma data como dia 15 de outubro, sabendo os baixos salários e formação incompatível com as cobranças vigentes de reformas – muitas vezes desconexas – que estão sendo feitas? Ainda que educar seja um ato de amor, é necessário que também seja digno e reconhecido. É necessário que se haja maior investimento na educação pública, de base, na formação desses professores e, consequentemente, em seu pagamento, porque se os reconhecemos como o pilar de nossa sociedade, como é que admitimos que possam estar em condições incoerentes com seus papeis?

É pensando, propriamente, nesses papeis que encerro meu texto retornando em Paulo Freire. Para ele, a educação não muda o mundo, ela transforma as pessoas e as pessoas mudam o mundo. Foram os professores, transformados pela educação, que mudaram o meu mundo, é por mim – e por eles – que eu quero transformar a vida de outras pessoas e, dessa forma, juntos podermos mudar o mundo. É por causa de cada pessoa que um dia entrou em uma sala de aula, disposto a ensinar-me sobre algo, que hoje eu posso publicar um texto em um jornal e que eles – se lerem isso – saibam que parte de cada vitória minha, tem um pouco deles. 

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