Estamos vivendo uma pandemia no ano de 2020, todos tiveram que abrir mão de algo, principalmente da rotina antes estabelecida. Com as crianças não foi diferente, pois elas tiveram que se afastar da escola, dos amigos, dos familiares, introduzir novos hábitos como o uso de máscaras. Fui conversar com a família de Patrícia Barbosa de Alcântara e Ariel Silva Catapani, eles residiram no bairro dos Pires, em Limeira, até agosto de 2020; mudaram para a cidade em plena pandemia. E desde então, estão vivendo uma adaptação radical pois, os filhos Miguel Antônio Alcântara Catapani, com sete anos, e Gabriel Alcântara Catapani, de quatro anos, viveram na área rural desde o nascimento. Infelizmente a família contraiu a Covid-19, “foi uma mudança muito grande, porque eu amava aquele lugar, eu por mim, se eu tivesse condições de levar as crianças todos os dias lá pra escolinha eu não tiraria de lá. Tanto o Gabriel quanto o Miguel a Escola Martim Lutero me dá muito apoio, mesmo sabendo que eu mudei de endereço”, Patrícia diz.

Miguel Antônio Alcântara Catapani, com sete anos, e Gabriel Alcântara Catapani, de quatro anos e os pais Ariel Silva Catapani e Patrícia Barbosa de Alcântara

A infância dos meninos

Os meninos iam pra escola desde o maternal e agora na primeira etapa eles têm os amiguinhos, moravam numa chácara, tinham os vizinhos. Os irmãos brigam mas são “grudados”, dormem juntos, brincam, se abraçam. O Miguel está sempre cuidando do irmão mais novo.

A mãe relata que seu filho Miguel já acordava de manhã e ia brincar na terra, na grama, desde quando engatinhava, também gosta muito de andar de bicicleta, ama dinossauro, ama coisas diferentes tipo Pokemon — “coisas que quase não acha hoje em dia” — ele é uma criança muito curiosa.

Patrícia explica que o caçula, Gabriel, tem a Síndrome de Joubert, sempre foi mais sensível mas, adorava o espaço na chácara. “Acordava de manhã, tomava sol, muito calmo, ele não gosta que fique em cima dele porque ele é independente e gosta de fazer as coisas do jeito dele. É genioso. Gosta muito de brincar com blocos de montar, com objetos de encaixe, é muito esperto para brincar com essas coisas, adora e tem um bom raciocínio”, contou. Gabriel faz várias terapias na APAE desde os seis meses de idade.

“A nossa vida era toda organizada com a rotina dos horários de todos os compromissos. O Miguel ama ir pra escola, ama a professora. O Gabriel, por mais que não falasse, expressava que estava feliz e gostava de ir pra escola, era o segundo ano na Escola Martim Lutero. Eu tinha uma expectativa muito grande para o ano de 2020, porque o primeiro ano que o Gabriel foi pra escola ele passou por duas cirurgias e mexeu com o desenvolvimento dele. Esse ano de 2020 eu pensei, nossa, o Miguel já está aprendendo ler e está lendo super bem. Eu estava muito otimista com o desenvolvimento dos meninos”, ela descreveu.

Gabriel Alcântara Catapani, brincando em sua casa

A mudança de endereço e o coronavírus 

“Mudamos em agosto durante a quarentena. Cinco dias depois da mudança, o Gabriel começou apresentar os sintomas do coronavírus. Foi quando eu, meu marido, minha sogra, meu sogro; ficamos todos doentes. Todos nós fizemos o exame para a Covid-19 (teste rápido) e todos testamos negativo. O Miguel não teve nenhum sintoma. O Gabriel tinha febre de 39,5º, eu o levei no Posto de Saúde (como ele tem a Sindrome de Joubert), o médico disse: ‘pra prevenir, é uma criança mais fraquinha, de risco; vou entrar com o antibiótico para sete dias’. Ele tomou. No segundo dia estava bem. Eu e meu marido passamos quinze dias ruins, dentro de casa, fizemos o isolamento mesmo testando negativo. Não sabíamos de onde a gente pegou (o vírus) e não queríamos que outras pessoas passassem pelo que a gente passou porque foi muito difícil.

Eu tive dor no corpo, perda do paladar e olfato, uma dor de cabeça insuportável — não aguentava abrir os olhos, nem sair pra fora de casa, de jeito nenhum, mesmo tomando antibiótico não resolvia. Tinha dia que eu acordava e agradecia; ‘Ai meu Deus, obrigada! Eu melhorei!’ De repente, o corpo ficava ruim, com mal estar, eu olhava pra comida me dava ânsia de vômito e não conseguia sentir o cheiro, o gosto. Eu fazia a comida pra mim e meu marido, porque os meninos ficaram com a minha sogra devido o Gabriel ter uma melhora rápida, então, eu fiquei com medo dele ficar com os sintomas mais graves por estar entre nós. Passei eles para a casa da minha sogra, aí o meu sogro começou ficar doente também. O meu marido teve febre, diarreia, dor no corpo e dor de cabeça mas, não teve perda de paladar e olfato. Fomos ao médico, solicitaram o exame, fomos notificados mas, os exames dos quatro testou negativo. Até hoje, eu sinto falta de ar, a comida pra mim dependendo o que eu vou comer, não sinto o gosto – é muito difícil pra comer. Uma corridinha da sala pra cozinha eu já estou cansada, parece que está me faltando o ar. O meu pulmão não está normal como antes. A médica me disse que eu estava com começo de pneumonia”. 

Manifestação do vírus

Patrícia descreveu quando o clima entrou no período de frio, “Gabriel resfriou e o vírus veio com tudo, teve febre alta. Foi levado no Posto de Saúde, examinado, não tinha nada, voltamos pra casa. Eu falei, o Gabriel não está bem, não é normal uma criança ter febre. Eu fui na UPA, colocaram ele no soro, a boca dele estava toda ressecada, ele não bebia água, não comia, não tomava o leite e, ele é uma criança alegre, brinca e, come muito bem. Fala muito pouco mas, consegue se comunicar. Não conseguiram pegar a veia dele. Na troca de plantão, a médica receitou uma injeção de Dramin e Dipirona – eu não entendi o por quê do Dramin. Ele bebeu três copos d’água. Recebeu o medicamento de prevenção para Covid-19. Voltamos pra casa. No terceiro dia de antibiótico, a febre voltou – não é normal. Levei novamente no hospital e contei o que tinha acontecido, o médico escreveu uma carta. O Gabriel teve um inchaço na face, não comia, não mamava, estava desidratado. Mandaram para o Hospital da Criança, lá foi feito Raio X da face, do tórax e do abdômen; e hemograma. O resultado foi de um quadro bacteriano, uma sinusite, prescreveu uma injeção de antibiótico, por cinco dias. Depois de quatro dias, o menino teve febre novamente. Eu falei; ‘não tem outro jeito, vamos pra Santa Casa porque não é normal’. Ele colocava demais a mão na cabeça, chorava e não queria conversar. Eu estava muito agoniada”, a mãe revelou. 

Atendimento na Santa Casa

Segundo a mãe, lá no hospital Santa Casa aplicaram um remédio pra dor para que Gabriel pudesse comer algum alimento. Foram realizados todos os exames pra descobrir o diagnóstico devido a persistência da febre, há oito dias. O resultado do Hemograma com taxa alta, era preocupante, fizeram o Raio X do tórax e crânio (pra confirmar a sinusite) e tomografia dos pulmões. Patrícia detalha, “o Raio X do crânio não deu nada; perguntaram se ele tinha problema nos pulmões, eu disse que não — a médica saiu da sala e não explicou. Colheram mais material para mais exames. Ela voltou com os resultados: ‘vamos pra sala de isolamento’. Meu coração já disparou. Ela me disse: ‘tenho uma notícia ruim e uma boa. Nós não vamos precisar colher o liquido amniótico do Gabriel. E a noticia ruim é que ele testou positivo pra Covid-19’. Aquilo ali foi um susto pra mim, eu estava sozinha. O Gabriel estava deitado ali na cama, conseguiram pegar a veia dele, mas perdeu, teve que furar de novo. A Dra. pediu pra eu ficar calma porque ele não estava precisando de oxigênio. A gente ficou no quarto de isolamento, sem janela, com banheiro e tinha os aparelhos, passamos a noite ali. No outro dia, às quatro horas da manhã, a gente subiu para o quarto. A Pediatria da Santa Casa virou um centro de Covid-19 infantil. Muitas pessoas não sabem e eu como mãe tento orientar, se tiver sintomas, levar os filhos na Santa Casa. Fomos para um quarto com berço e uma cama pra mim, não podia sair do quarto; a enfermeira entrava com equipamento de proteção. Ele ficou sete dias internado. No total, tudo isso durou 14 dias, entre a correria e a internação, fura daqui, fura dali”, esclareceu.

O agradecimento emocionante de Gabriel ao receber alta do hospital

A infância pós tratamento da Covid-19

“Até hoje, ele dorme mal, acorda aos gritos. Hoje, fomos no Posto de Saúde — ele já entrou aos gritos, até suava de nervoso, ele está traumatizado — porque ele não está dormindo bem nem se alimentando direito. Eu fui pedir orientação sobre o estado de saúde dele. Foi prescrito vitamina, e orientado pra não deixar ele sem comer”, disse Patrícia emendando, “a gente é mãe, na pandemia eles ficam trançados dentro de casa e o Miguel acha que eu estou obrigando ele a fazer as atividades da escola, que não é pra ele fazer. Ele acha que as atividades de escola não é pra fazer em casa, tem que fazer na escola. Ele não aceita fazer as atividades em casa. Isso tudo que aconteceu, a mudança de endereço, a pandemia, tudo mexeu com ele. Enquanto o Gabriel, desde pequeno, perdia muitas aulas devidos muitas fisioterapias, então, a gente sempre fez as atividades escolares, em casa. Não está sendo tão difícil com ele. Ele estava começando uma vida social, começando ficar em meio a tumulto, acostumando com o barulho; já era mais fácil dele aceitar. Hoje, ele se trancou de novo, se fechou de novo. E agora, veio mais esse trauma da Covid-19. Às vezes eu me pergunto, ‘meu Deus do céu! Por que as coisas acontecem comigo?’ Eu mesma me respondo: ‘mas se eu não passasse por isso, eu não seria quem eu sou hoje!’. 

Eu vi tudo o que ele passou e eu sempre pedia pra Deus, passa isso pra mim, deixa eu ter (o vírus), não ele. Ele não merece passar por isso porque ele não entende e não sabe lidar com isso. Aquela situação que ele passou me dói demais – quando a gente vê um filho da gente internado com um vírus, que a gente não sabe a real consequência. Eles trataram a pneumonia, o vírus em si não tem cura. Não tem nada que diz que ele foi curado do vírus. E tem pessoas que levam isso (o contágio do coronavírus) na brincadeira, acham que isso não existe, que é coisa de política – e  ficam espalhando o vírus. Mesmo tendo o resultado negativo para o coronavírus nós ficamos quinze dias dentro de casa pra não transmitir para outras pessoas. Estamos com a consciência livre e espero que as outras pessoas façam a mesma coisa, porque os idosos e as crianças que fazem parte do grupo de risco, como conseguem lidar?”, ela questiona. 

Amor pela família

“A minha vida mudou totalmente depois da pandemia. Muita coisa que a gente conquistou com o Gabriel foram coisas pequenas mas, ele estava conquistando o mundo fora de casa, se adaptando e de repente ele se fechou de novo. O Miguel perdeu todos os vínculos. E eu, como mãe, tinha o momento de mandar as crianças pra escola, o momento da chegada, receber com o cafezinho pronto, fazer a janta. Hoje, é tudo corrido. Tenho que ser mãe, professora, terapeuta; limpar a casa; fazer a comida; agradar o marido; cuidar dos filhos e não estou bem de saúde. Vou fazer o que? Pular do barco? Tenho que enfrentar e pedir muito a Deus pra que tudo volte ao devido lugar. Nós vamos superar e tudo vai ficar bem se a gente tiver amor pela família. Tenho certeza que o Gabriel melhorou pela força, por eu estar ali do lado dele. Ele pegava a minha mão deitava em cima e ficava olhando pro meu rosto. Eu dizia: filho, vai ficar tudo bem tá! Papai do céu vai curar você e vai ficar tudo bem, tá bom! Ele me olhava e dava uma risadinha fraquinha mas, dava pra ver que ele entendeu. Minha sogra, o Miguel, meu marido ligavam pra ele, e ele entendeu que precisava lutar pra poder voltar pra casa. E voltou”, Patrícia concluiu.

One thought on “Dia das crianças; um dia para comemorar a vida”

  1. Nossa esse é meu neto desdo nascimento os médicos não dava espectativa de vida a ele mas Deus é maior núnca desanimamos e hoje Tai nosso meninão agradeço a atenção Adriana obrigada pela reportagem essa minha nota e filho são um exemplo de vida é CUDA muito bem dos filhos obrigada querida

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