Jornal Pires Rural – Edição 206 | CAMPINAS, Novembro de 2017 | Ano XII

    A Embrapa é um órgão fundado há 44 anos e a unidade da Embrapa Informática Agropecuária existe há 30 anos e está localizada dentro da Unicamp, em Campinas. É composta de uma equipe multidisciplinar para trabalhar soluções tecnológicas de natureza física e digital, como softwares, aplicativos, cultivares (sementes e mudas), animais, máquinas, equipamentos, bebidas, fertilizantes, vacinas e outros. A chefe geral da unidade da Embrapa Informática Silvia Maria F.S. Massruhá, esteve presente ao Seminário sobre ‘Mudanças Climáticas, Gestão de Riscos e Seguro Rural na Agricultura Brasileira’, ocorrido no Instituto de Economia da Unicamp. Silvia diz ter “a experiência de 28 anos na computação aplicada à agricultura”, tendo feito mestrado e doutorado na área de Inteligência Artificial aplicada à agricultura.

    WebAgritec
    Durante o seminário, Silvia destacou os serviços da unidade onde atua, sendo um facilitador para as empresas na organização de dados dentro dos inúmeros projetos de pesquisa que subsidiam as políticas públicas, criando soluções tecnológicas através de programas de computadores, aplicativos, dados censitários e informações geradas a partir de imagens de satélite, disponível na internet para todo o Brasil. Ela disse, “essas ferramentas são elaboradas por causa das demandas que chegam na Embrapa por diversos meios, na ótica da agricultura sustentável sob os prismas econômico, social e ambiental. Uma dessas demandas era dar apoio a assistência técnica e aos produtores. Com isso, foi criada a ferramenta WebAgritec, que integra os dados de clima, solo, zoneamento, relevo, doenças, dados esses que fomos acumulando durante anos em nossa unidade e subsidiam as políticas públicas. Pra atender a assistência técnica e produtores disponibilizamos numa outra linguagem e com outros módulos mais apropriados, pra dar suporte na tomada de decisão”, afirmou. O WebAgritec tem 8 módulos, que vai desde indicar época de plantio, a cultivar apropriada para cada região, indicar informações sobre calagem e adubação, previsão climática para 15 dias, potencial de produtividade das regiões, monitoramento de safra, além de diagnostico de doenças de plantas.

    ZARC
    Uma das ferramentas apresentada pela pesquisadora em relação a gestão de riscos, tema discutido durante o seminário, foi a metodologia do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC – 2.0), onde produtores rurais e analistas de crédito e seguro agrícola poderão saber se a cultura tem probabilidade de 80%, 70% ou 60% de ser bem-sucedida nas condições e locais indicados pela plataforma (http://indicadores.agricultura.gov.br/zarc/index.htm). “O ZARC é um software de domínio público disponível na loja de aplicativos da Embrapa, para instalar nos celulares smartphone ou computadores”, apontou Silvia.

    “Há 3 anos, foi necessário fazer uma revisão no ZARC, pois hoje, as tecnologias disponíveis são diferentes de quando ele foi criado há 20 anos. Isso foi feito através de uma solicitação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pra dar suporte às pesquisas. Fizemos uma definição dos riscos relevantes à cultura que devemos revisar, quando houver solicitação. Com os levantamento de dados e os resultados na mão, vamos até o campo fazer a validação, juntamente com a parceria de outras unidades da Embrapa. Os trabalhos envolvem recolher informações referente a precipitação das águas, temperatura mínima diária, radiação, ventos, etc. Fazemos um trabalho de curadoria em cima disso, rodamos simulações para 33.565 pontos, pra cada ponto 36 comparativos com os nossos dados de 30 anos da série histórica, chegando a resultados de 3 milhões de simulações. Pra cada cultura é exigido analisar os 3 ciclos, em 3 tipos de solos, plantar em datas de plantio e os vários níveis de riscos para validar junto ao setor produtivo da região demandada”, frisou Sivia.

    Os resultados para as próximas safras brasileiras de soja, milho e cana-de-açúcar contarão com avaliações em três níveis de risco climático graças a uma série de melhorias implementadas na metodologia do ZARC, por exemplo, no caso da cana-de-açúcar, ampliou-se o ciclo com avaliações de manejo para a cultura de ano e de um ano e meio. As inovações visam ampliar a ação da ferramenta e dar mais precisão ao ZARC, sistema que, em duas décadas, já economizou R$3,6 bilhões ao País na redução de perdas da produtividade e promoveu segurança à concessão de crédito e seguro agrícolas.

    De acordo com Silvia, nos últimos 20 anos na Embrapa Informática Agropecuária foram desenvolvidas várias ferramentas para basear as projeções nos períodos de 10, 20 ou 50 anos, referente às mudanças climáticas, previsão de controle fitossanitário, monitoramento de previsão de água no solo entre outros. Essas projeções são subsidiadas por áreas de pesquisa com equipe multidisciplinar para desenvolver estudos e levantamento de dados que envolve o trabalho de aproximadamente 50 cientistas e técnicos de cinco instituições. “São calculadas as matrizes de riscos por mapas, que pontuam simulações para cada cultura como milho, trigo, soja e seus riscos na hora de plantio e colheita, mostrando as janelas mais apropriada para auxiliar pesquisadores e produtores. Também existe ferramentas que auxiliam na gestão de risco ligado aos eventos fitossanitários, mostrando as principais doenças para diversas culturas, podendo usar essas informações para gerar sistemas de alerta, como existe para a maçã e a soja, por exemplo, que utilizam dados cruzados com informações climáticas”, abordou Silvia.

    Para atualização do ZARC, foi necessário todo um processo de fluxo de reorganização, “os modelos eram muito antigos, tivemos de re-implementar e criar uma plataforma de modelagem para fazer simulações com rapidez e dinamismo e colocar em tempo hábil para o Ministério gerar o cálculo de risco que vai subsidiar as tabelas e portarias. Aqui na Embrapa temos uma infraestrutura de alto desempenho, é um armazenamento de nuvem para dar suporte ao processamento de grande volume de dados, porque antes demorava-se 5 dias pra sair o resultado e hoje, dependendo da quantidade de dados leva-se 30 minutos”, explicou.

    Agropensa
    “Estamos repensado uma nova agricultura para o Brasil continuar sendo protagonista, durante os próximos 40 anos, em agricultura tropical. Para isso, temos que estar inseridos dentro do novo contexto da agricultura digital e na gestão integrada, ligando todos os elos da cadeia produtiva. Imaginamos o papel da Embrapa, com a infraestrutura que tem, sendo uma empresa pública e imparcial, ser a articuladora do ecossistema de processamento de dados em alto desempenho, disponibilizando dados direto das pesquisas, de nossos modelos de zoneamento, climáticos, de computação, preocupados em como disponibilizar isso para atender as demandas que provem da agricultura e a gestão integrada de riscos. Temos discutindo como articular e fomentar o mercado em parceria com outras instituições públicas e privadas, universidades e startups. Portanto, nosso papel é ser um facilitador junto as empresas privadas e startups. Como o tema, cada vez mais vem sendo divulgado, sobre Tecnologia da Informação (T.I.) no agro, da agricultura digital, o agro é pop, agro é tech, o agro é tudo, tem aparecido demandas das multinacionais do agro querendo fazer parceria com a Embrapa, porque temos conhecimento na agricultura e somos referência mundial na agricultura”, Silvia revelou.

    O Agropensa é outro sistema da Embrapa Informática que visa a captura e prospecção de tendências, para a identificação de futuros possíveis para a agricultura, buscando agregar valor em todas as cadeias produtivas como inserir a automação, a agricultura de precisão e a tecnologia da informação. “Aqui, somos responsáveis pelo observatório de T.I. no agro, onde discutimos o papel da T.I. em todas as etapas desde produção, pós-produção, e o ponto de vista da T.I. pra auxiliar na agricultura sustentável. Discutimos questões de genética, como genes e doenças resistentes às mudanças climáticas, com suporte das áreas de biotecnologia e bioinformática. Várias técnicas de modelagem, simulação e computação para atender a proposta do Agropensa. Destaco também o pessoal de Sensoriamento Remoto para atuar dentro do campo na parte de automação, pensando em agricultura de precisão, robótica e internet das coisas, que também é outra demanda recente. O novo mundo da agricultura digital é baseado em conhecimento e é um mundo muito colaborativo. Então, a Embrapa é um facilitador nesse ecossistema das novas tecnologias digitais, onde vai fomentar as startups e as multinacionais para vir a trabalhar com a agricultura digital e na gestão integrada de riscos. Temos um modelo de articulação onde envolve tudo; credito rural, seguradoras, governo Federal, é isso que a gente vem discutindo com a diretoria, um projeto de gestão integrada de riscos e resiliência agrícola”, concluiu Silvia.

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