• Cláudia Modenez Bittencourt, psicóloga clínica e organizacional 

O suicídio é a pior das tragédias humanas, representando um sofrimento insuportável para o indivíduo, uma dor perpétua e questionamentos infindáveis para os que ficam. O assunto é conhecido pela humanidade desde os primórdios e os estudos, que inicialmente era predominantemente do interesse teológico e religioso, atraíram o interesse médico, visto que do século XVIII em diante o suicídio passou a ser considerado cada vez mais patológico. 

No atual contexto falamos com frequência sobre algumas temáticas, como o câncer e AIDS por exemplo, de uma forma mais aberta, porém nem sempre foi assim. Hoje, infelizmente, alguns assuntos, principalmente os relacionados a saúde mental, ainda são estigmatizados, ou seja, evitados e censurados pela nossa sociedade. Falar sobre depressão, morte e suicídio ainda é um grande desafio. Todos os assuntos difíceis podem se tornar um tabu e, por isso, não se fala claramente e abertamente. 

Existe um equivocado pressuposto que, falar sobre suicídio pode ser um estímulo para o ato, porém acredita-se que falar de forma responsável, disponibilizar informações e orientações que promovam o autocuidado e a prevenção, é válido sim. O diálogo pode salvar vidas. 

No mês de setembro ocorre mundialmente a campanha Setembro Amarelo, que tem como objetivo a prevenção ao suicídio. A campanha é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). 

Embora seja importante e necessário falarmos sobre o assunto o ano todo, o mês de setembro foi escolhido devido o dia 10 de setembro ser o dia mundial da prevenção ao suicídio. Nesse mês abre-se espaço para debates, além de locais públicos serem iluminados com a cor amarela simbolizando e apoiando a campanha. 

E aqui estamos nós, contribuindo ao falar sobre a temática com o objetivo de apoiar pessoas que estão passando por momentos de desesperança e sofrimento.

Dentre os fatores de risco podemos mencionar:  

  • As doenças mentais: Depressão, transtorno bipolar, transtornos mentais relacionados ao uso de álcool e outras substâncias, transtornos de personalidade, esquizofrenia; 
  • Aspectos psicológicos: Pouca resiliência, traumas de infância, como abuso físico ou sexual, dificuldade em lidar com certas situações, como por exemplo término de relacionamento, perda de emprego ou ente querido, dificuldade financeira, desesperança, entre outros. 
  • Condição de saúde limitante: Doenças orgânicas incapacitantes, dor crônica, tumores, AIDS, doenças neurológicas (Epilepsia, Parkinson). 

E a pandemia? Vale lembrarmos que o atual contexto nos trouxe mudanças significativas para as nossas vidas alterando consideravelmente nossa rotina, não é mesmo? O atual contexto pode ser considerado para alguns um fator de risco, por ser um desencadeador de sofrimento, visto que os transtornos ansiosos e depressivos aumentaram consideravelmente, causando adoecimento físico e mental. 

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), 3.000 pessoas se suicidam diariamente. Isso significa que a cada 40 segundos, alguém se suicida no mundo. O Brasil está entre os 10 países que registram o maior número de suicídio, sendo 79% homens e 21% mulheres. 

É um índice muito alto e, infelizmente, está em crescimento, principalmente na fase da adolescência. É comum que nessa fase várias mudanças aconteçam, como por exemplo, mudanças no corpo, dúvidas sobre o que estudar, inserção no mercado de trabalho, crise existencial seguido de questionamento sobre o real sentido da vida. Por isso, é fundamental observar e buscar apoio de um profissional mediante mudanças de comportamento, pois, atrás dos comportamentos existe um ser humano. 

Estamos na era digital e as redes sociais influenciam consideravelmente na vida das pessoas. Já observaram nas fotos e vídeos que a grande maioria está sempre feliz? É um mundo irreal, em que muitos fingem ser o que não são e isso causa um grande impacto negativo na sociedade, pois desperta o sentimento de termos obrigação de estarmos bem e feliz o tempo todo. É necessário filtrar os conteúdos acessados, ter consciência do funcionamento e não se deixar influenciar. 

Vale salientar também que o suicídio é um ato de desespero, impulsivo ou premeditado. O ato é cometido não porque a pessoa quer morrer, mas sim porque não quer mais sofrer e por isso ter alguém por perto nesses minutos de desespero pode ser determinante. 

Ninguém se suicida de repente, esse processo de adoecimento geralmente acontece aos poucos de forma silenciosa, porém é possível atentar-se a alguns sinais (comportamentos): 

– Isolamento social;

– Pessimismo ou falta de esperança;

– A pessoa começa se desfazer de objetos pessoais sem motivo; 

– Se despedir; 

– Verbalização sobre o desejo de morrer; 

– Compra de acessórios ou pesquisa sobre formas de cometer o ato. 

Como ajudar uma pessoa que está em sofrimento? 

– Seja empático e se coloque no lugar no outro; 

– Mostre que está disponível, verbalize o quanto essa pessoa é importante e valiosa;   

– Ouça sem preconceito. Ao falar o peso diminui e amplia sua possibilidade em ajudar; 

– Não minimize o sentimento da pessoa;

– Questione se ela tem pensamentos suicidas ou se tem um plano sobre como pensa cometer o ato; 

– Oriente e estimule a busca por ajuda profissional; 

– Não omita a informação aos familiares, mesmo que a pessoa lhe peça para não contar. 

Sobre o tratamento: 

– Peça ajuda, isso não é sinônimo de fraqueza; 

– Amplie a rede de apoio de modo que essa pessoa não fique sozinha; 

– Busque orientação e apoio de profissionais (psicólogo), se necessário fazer intervenção medicamentosa (psiquiatra), participe de grupos de apoio;

– Fortaleça a espiritualidade. Independente de religião, é importante acreditar na vida e em um ser maior; 

– Desenvolva hábitos saudáveis: atividade física, alimentação saudável, se socialize; 

– Busque autoconhecimento, desenvolva habilidades emocionais para melhor entender seus sentimentos. 

O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional e atua na prevenção ao suicídio, disponibilizando por meio de voluntários atendimento gratuito a todas as pessoas que querem ou precisam conversar, funciona 24 horas por dia, sob total sigilo por telefone (188), e-mail ou chat. Consulte o site cvv.org.br

Você não é só o seu sofrimento. Você não está sozinho. 

 “O sentido da vida está na própria vida” – Viktor Franklin. 

Um forte abraço da psicóloga Cláudia Modenez Bittencourt. 

Esclarecemos que os colaboradores não possuem nenhum vínculo empregatício com esta publicação. E os textos não reflete necessariamente a opinião do Jornal, sendo a inteira responsabilidade de seu autor.

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