Jornal Pires Rural – Edição 203 | SÃO JOÃO DEL REI, Agosto de 2017 | Ano XII

Eurico Tarôco, conhecido como seu Riquinho, concorreu pela primeira vez na vida em um concurso do ‘Queijo Minas Artesanal’. Não foi um simples concurso, foi o principal evento do estado de Minas Gerais referente ao queijo Minas Artesanal, que neste ano, a competição foi promovida pela primeira vez no Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes – MG, onde o Jornal Pires Rural esteve presente para conferir as atrações gastronômicas que tiveram como tema homenagear Minas Gerais.
Após conhecermos os ganhadores do concurso, fomos até a propriedade de seu Riquinho, que fica na Colônia do Felizardo, cidade de São João Del Rei, vizinha a Tiradentes. Lá, conhecemos sua esposa dona Trindade e todo o processo que envolve a manufatura do ‘Queijo Minas Artesanal’. Segundo esclareceu seu Riquinho, o ‘Queijo Minas Artesanal’ mantém as características de produção artesanal, a partir de mão de obra familiar, com produção em baixa escala e utilização de leite cru (não é permitido leite pasteurizado). Outra exigência é que o queijo precisa ser maturado entre 14 a 23 dias. O modo de fazer do queijo é um conhecimento passado entre gerações e foi registrado como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN. E, para preservar essa tradição e garantir a qualidade do queijo, existem leis e normas que regulamentam a produção.  “É o IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária), quem vai falar se pode fazer a queijaria pertinho do curral ou em outro lugar. Eu aproveitava o soro do leite para alimentar o porco que tinha aqui do lado. O IMA tinha falado que eu podia fazer a casinha do queijo. Depois que eu fiz, o pessoal do IMA veio aqui e falou que a criação de porco tem que ficar mais de 100 m da queijaria. Como, pra fazer o queijo, tem que usar o leite logo que tira da vaca, foi mais fácil mudar os porcos. Porque, pra fazer a casinha do queijo longe, eu tinha que carregar o leite, e pra carregar o leite é pior, então, eu tirei os porcos daqui de perto”, contou seu Riquinho. Outro detalhe sobre o IMA que desenvolve o programa do ‘Queijo Minas Artesanal’, no estado de Minas Gerais, sendo o órgão responsável pela inspeção sanitária, bem como a coleta de amostras da água nas propriedades. Conforme contou seu Riquinho, “o IMA vem cá, eles mesmos colhem a água e levam para Belo Horizonte, faz a analise e traz o resultado permitindo fazer o queijo”.

Leite puro
Na fabricação do ‘Queijo Minas Artesanal’, o processamento deve ser iniciado até noventa minutos após o começo da ordenha. O leite não poderá passar por nenhum tratamento térmico. Só podem ser utilizados como ingredientes culturas lácticas naturais como pingo, soro fermentado (ou soro-fermento), coalho e sal. Dentro da queijaria as fases são as seguintes: filtração, adição de fermento natural e coalho,  coagulação, corte da coalhada, mexedura, dessoragem, enformagem,  prensagem manual, salga seca e maturação.

Programa Queijo Minas Artesanal
O Governo de Minas Gerais, por intermédio da Secretaria de Estado de Agricultura, Emater – MG e Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), desenvolve o programa do ‘Queijo Minas Artesanal’ pelo estado, onde trabalha com número estimado de 30 mil produtores de queijos artesanais. 9 mil produtores estão nas sete regiões tradicionais, caracterizadas e reconhecidas sendo: Araxá, Campo das Vertentes, Canastra, Cerrado, Serra do Salitre, Serro e Triângulo Mineiro.  Segundo a Emater, a produção aproximada dessas regiões é de 50 mil toneladas por ano.
A Emater também orienta os produtores em boas práticas de fabricação, para garantir a segurança alimentar e facilitar o cadastramento das queijarias no IMA. O Programa contempla a organização dos produtores, com cursos para a padronização de produtos, melhoria de embalagens, qualificação dos produtores e técnicos, comercialização e, finalmente, a melhoria da qualidade dos queijos. O produtor só se enquadra como fabricante de Queijo Minas Artesanal após passar por um desses cursos e receber aval do Instituto.

O concurso
O Concurso Estadual do Queijo Minas Artesanal de 2017, foi promovido pelo Governo de Minas Gerais, por intermédio da Emater, em parceria com o Projeto Fartura Gastronomia, que realizou o 20º Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes, evento que reuniu durante 10 dias, centenas de profissionais da gastronomia, apresentando mais de 180 atrações gastronômicas que teve como tema homenagear Minas Gerais. Trinta e um queijos participaram no concurso que chegou a sua 10ª edição. O julgamento e o anúncio foram realizados no sábado, 26 de agosto. Os queijos foram avaliados de acordo com os critérios de apresentação, cor, textura, consistência, paladar e olfato. Seu Riquinho, que iniciou em 2013 sua produção do queijo, foi convidado a participar de seu primeiro concurso apresentando seu Queijo Minas Artesanal ‘Tarôco’, representando a microrregião do Campo das Vertentes e foi vencedor na categoria Bronze, recebendo um certificado e um troféu. O produtor tem uma produção média de 250 litros de leite, diariamente, sendo uma parte destinada a produção do queijo artesanal, com tamanhos de 12 litros e 8 litros, e o restante do leite é entregue na Cooperativa Del Rios, “somos cooperados e eles vem buscar o leite aqui em casa. O preço que eles pagam pelo litro não chega a um real e fazendo o queijo, esse litro chega a quase R$3”, afirmou. Tendo auxilio da esposa na manufatura do queijo e a filha, Joelma, nas vendas, a família está entusiasmada pela participação no concurso, “foi muito bom ter recebido o prêmio, ficamos todos felizes. Esperamos brevemente participar de outros e subir de colocação. Eu espero que esse concurso aumente bem as vendas para os turistas, embora o movimento tem aumentado desde abril pra cá. Todo leite que tem, eu uso, só não faço queijo de domingo”, completou dona Trindade Tarôco.
Os queijos das sete regiões produtoras possuem características próprias que lhes conferem uma identidade regional, em função da altitude, temperatura, tipo de solo, pastagens e umidade relativa do ar. São aspectos que favorecem o desenvolvimento de determinados micro-organismos no processo biológico de sua produção e maturação. As condições naturais e o saber fazer característico de cada região, dão ao ‘Queijo Minas Artesanal’ uma identidade própria, de acordo com o local onde é fabricado.

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