Ricardo Ojima, mestre em Sociologia (Unicamp, 2003), desde agosto de 2011 é professor, em Demografia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Jornal Pires Rural – Edição 225 | CAMPINAS, Janeiro de 2019 | Ano XIII

A apresentação de Ricardo Ojima é o resultado de um conjunto de trabalhos na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, um grupo de trabalho com as questões demográficas mas, particularmente nesse grupo, sobre migrações e mobilidade, trazendo um pouco do recorte específico do nordeste. “Uma das questões que me motivou muito depois de ter mudado pra Natal e começar a trabalhar com migração lá com um olhar de quem vive lá, faz a gente começar a perceber que é muito difícil conseguir comparar essas ` a partir dos referenciais que a gente tem aqui do Sul e Sudeste – pra pensar os movimentos migratórios e a própria dinâmica demográfica lá na região nordeste. Sobretudo as grandes transformações que aconteceram nos últimos anos nessa região como um todo. Juntamos alguns trabalhos de pesquisadores todos formados aqui na Unicamp, agora explorando essas interfaces de um olhar nordestino para o nordeste”, contou.
Ojima trouxe como objetivo um recorte espacial que privilegia a região nordeste, as regiões metropolitanas nordestinas e para além das regiões metropolitanas nordestinas, as tradicionais mas também, todas as outras que vem se desenvolvendo recentemente. “Pensar noutros recortes espaciais menos tradicionais nos estudos sobre migração, um recorte especial na região do semiárido. Pensar as questões de mobilidade nessa região metropolitana e no interior”, afirmou.

Segundo Ojima, quando o pesquisador compara as escalas nordestinas com São Paulo, o que acontece lá, parece insignificante e muitas vezes, se compara o que acontece só nas regiões metropolitanas nordestinas, considerando essa comparação para o nível nacional também fica mais insignificante ainda, dado os volumes pequenos de municípios, quase todos que não estão nas regiões metropolitanas tem menos de 50 mil habitantes.

“Uma cidade média no Rio Grande do Norte tem 40 mil habitantes – trata-se de uma cidade super importante, influente na região, no interior – então, é uma outra forma de entender as relações regionais e a dinâmica das redes de cidades que começamos explorar nos últimos cinco anos e, a questão das políticas sociais dentro desses contextos”, explicou.

Os dados apontam uma forte influência do bolsa família, das aposentadorias rurais, outras previdências e toda essa política de movimento regional dos últimos vinte anos, sobretudo o impacto sobre a mobilidade, a questão da interiorização do ensino superior no nordeste. “Dentro desse contexto, o que temos percebido, porque é importante pensar nessas outras escalas, essas outras formas de pensar a questão migratória, a dinâmica demográfica nesse contexto. A gente vê que tem diminuído um pouco o ímpeto das migrações interestaduais no Brasil, em geral, a região nordeste sempre foi um celeiro da oferta de mão de obra de baixa qualificação e, esse dado acaba sendo um desses pontos importantes dessa análise”, revelou.
Outro dado que chama atenção do grupo de pesquisas, nas últimas décadas, é uma diminuição muito significativa dos fluxos interestaduais de percurso de longa distância. Ojima explica que isso não quer dizer necessariamente estagnação de fluxos, continuam sendo grandes (interestaduais, do nordeste para o Sudeste) mas, diante dessa redução muito importante, do ponto de vista dos volumes, da sua importância relativa dentro do contexto regional, outras mobilidades, outros fluxos migratórios passam a ter importância cada vez maior. “Existe ali, um rearranjo da migração interna e da migração dentro da própria região nordeste. Novas modalidades aparecem dentro desse contexto com maior ênfase nas questões intra e inter regionais e intra estaduais no nordeste. Pra entender o papel das regiões metropolitanas neste contexto de transformações no nordeste não podemos deixar de pensar o que aconteceu no nordeste como um todo. As regiões metropolitanas acabam sendo um reflexo muito importante daquilo que aconteceu no interior, até por conta das próprias dinâmicas internas. Uma região muito grande, segunda maior concentração de população no Brasil e, com uma desigualdade interna de desenvolvimento muito grande. Então, essas dinâmicas migratórias da região são marcadas profundamente com oscilações entre as áreas de expulsão de atividades migratória, isso tem mudado muito nos últimos anos, são reflexos desses processos intrarregionais”, ele assinalou.

Os anos dos fluxos interestaduais tem uma queda importante entre 1995, 2005 e 2010 e os fluxos intraestaduais ganham bastante peso. Segundo Ojima, esse conjunto de modificações, o crescimento dos fluxos intrarregional, destaca a migração interestadual como um crescimento importante mostrando que começa a ter, por um lado, uma diminuição dos fluxos de emigração e fluxo migratório dentro do nordeste e, Sudeste diminui esse peso. “Dentro das próprias regiões começa a ter uma mobilidade muito maior. E porque isso acontece? Essas são as grandes questões que temos tentado investigar melhor. Mesmo quando analisamos sub regiões usando as meso regiões como um recorte de análise colegiado, vemos dentro das próprias meso regiões também aumenta o peso relativo dos fluxos migratórios, enquanto o de longa distância diminui o peso relativo”, afirmou.

Os estudos apontam que as pessoas na região nordeste tem feito movimentos migratórios cada vez mais de curta distância, assim como em outras localidades do Brasil, São Paulo, por exemplo. “A migração de curta distância também são importantes, no caso do nordeste como um todo. Na análise da região nordeste vemos que é uma região muito grande e as regiões metropolitanas estão concentradas todas na região litorânea então, não poderia ser tão diferente que os fluxos migratórios de mais curta distância fossem importantes também mas, nunca foram tão importantes como estão sendo agora”, constatou.
Segundo Ojima, o censo 2020 deve demonstrar as mudanças e grande parte dos reflexos e consequências dos investimentos que aconteceram em termos de desenvolvimento regional, da última década – “se o Censo acontecer de fato. A região metropolitana de Salvador diminuiu a mobilidade pendular, o peso relativo do movimento do entorno do núcleo tem uma diminuição importante desse tipo de movimento. Diminuindo o peso do movimento contrário. Considerando os não migrantes no caso de Salvador, o que foi diferente é que o movimento do núcleo para o entorno são muito mais relevantes para a região metropolitana de Salvador do que os outros movimentos nesse caso”, explicou.

No caso de Fortaleza, Ojima revela que seguiu a mesma tendência, tanto para os migrantes pendulares quanto os não migrantes pendulares. “O que mostra mudanças importantes acontecendo dentro do contexto dos municípios que compõe as regiões metropolitanas nordestinas. E quando analisamos outras, que não só aquelas regiões metropolitanas tradicionais, como os dados da região metropolitana de Natal, que é um pouco menor em termos de peso, e também mais recente aparecem evidências de transformações que vem acontecendo em outras regiões metropolitanas. Tem uma diminuição do número médio de moradores, por domicílio, considerado muito grande num período bem mais curto. Enquanto a gente vê as mudanças acontecendo, nesse ritmo de crescimento, de domicílio cada vez maior em relação ao ritmo de crescimento populacional, a gente tem uma diminuição muito importante do número médio de moradores por domicílio”, exemplificou.

No período de 1970 a 2010, a taxa de crescimento de domicílio foi da ordem de 4% ao ano, enquanto a taxa de crescimento populacional (no mesmo período), foi pouco menos de 3% ao ano. Ojima traz os dados que demonstram o aumento do tecido urbano com uma disponibilidade muito maior de domicílios, consequentemente domicílios maiores com menos pessoas morando em cada domicílio. “Isso fica evidente entre 1991, período que a média de moradores por domicílio é de 4,7. Em 2010, chega perto do que é a região metropolitana de Campinas. O mais interessante é essa mudança do que aconteceu aqui na região Sudeste que seria mais ou menos de 1980 pra 2010, num processo um pouco mais lento na região metropolitana de Natal, que aconteceu entre 1991 e 2010. Essas mudanças que acontecem reproduzindo o que já aconteceu em outras regiões do Brasil agora, acontece no nordeste numa velocidade muito maior”, avaliou.

O estudo traz a importância do impacto do processo de interiorização do ensino superior no nordeste pois, esta região foi a que recebeu maiores investimentos no processo de interiorização do ensino superior, com universidades e institutos federais. “O impacto que isso teve na mobilidade pendular da população residente nessas regiões, se deve a esse processo. A gente vê que o aumento foi bem expressivo considerando só o período de 2000 a 2010 que nem foi o principal momento de investimento na interiorização do ensino superior. Portanto, o censo de 2010, deve revelar ainda uma dinâmica muito mais expressiva desses movimentos pendulares no interior do nordeste”, disse.

A região nordeste ainda tem as taxas de fecundidade muito alta mas, de fato o que tem acontecido nos últimos anos é de uma redução generalizada nos índices de fecundidade. De acordo com Ojima, aquela hipótese de que o nordeste seria um celeiro da origem do migrantes para o Brasil, tende a diminuir, dado a queda na taxa de fecundidade na região do semiárido norte, a mais pobre do estado. “Os dados mostram a velocidade da queda de fecundidade nessa região do nordeste, acontece entre 2000 e 2010 equivalente ao que aconteceu no Brasil entre 1970 e 2000. A velocidade é muito grande pois, tem municípios que o número de filhos passa de seis para dois, entre 2000 e 2010. O que o Brasil demorou 50 anos para fazer, em algumas regiões do nordeste , isso aconteceu em uma década. E, contrasta com a hipótese de que, por exemplo, políticas de transferência de renda pudessem estar incentivando a natalidade nessa região. Obvio que não, porque com essa queda, desse tamanho, é impossível que qualquer política de transferência de renda pudesse ter afetado a natalidade. A taxa de fecundidade caiu na maior parte dos municípios, dos 665 municípios da região, 40% desses já estão com baixa taxa de fecundidade. Na metade deles a queda foi da ordem de 30%, ou seja, considerando ainda uma região que tem efeitos migratórios, são negativos, com taxa de fecundidade baixa. O bolsa família, tem indícios de ser um bom elemento que contribui para a fixação da população”, concluiu.

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