Independente de Limeira

Nelson Pedro Sturion, foi jogador de futebol durante dez anos no XV de Piracicaba, em Piracicaba, sua cidade natal, veio para Limeira para jogar no Independente de Limeira, o Galo. “Eu estou em Limeira desde 1975 e, em 1976 por uma contusão, que eu tive na perna, eu conheci a minha esposa Cleide Stein. Ela trabalhava na Secretaria Municipal de Esportes, a SME, eu fui fazer o tratamento lá e ela ficava olhando pra ver quem eram os jogadores, estava eu e o João Miguel e, ela me escolheu, acho que por causa do meu cabelo, né?”,  ele brinca. O preparador físico, Careca, levou o Nelson na SME para fazer uso do forno, pois a Secretaria oferecia atendimento médico e fisioterapia para todos os atletas amadores do município. No mesmo local funcionava também o ginásio de esportes. Cleide trabalhava na Secretaria meio período e no período inverso a atleta treinava basquete. 

Nelsinho em dois momentos; quando jogador do XV e nos dias atuais

Nelson é o caçula dos homens de uma família de 10 irmãos (quatro falecidos), e o único que nasceu na cidade. A maior parte da infância foi no sítio – bairro Arraial de São Bento, do lado de Saltinho, SP – a família migrou para a cidade quando o menino tinha cinco anos. Todos os irmãos arrumaram um serviço e as irmãs, duas eram costureiras de mãos cheias, costuravam muito bem e a outra irmã trabalhava na fábrica de tecidos Boys, lá no rio Piracicaba, por trinta anos. A mais velha trabalhou durante quarenta anos como enfermeira na Santa Casa de Piracicaba e os outros irmãos, um caminhoneiro, outro mecânico. 

“Eu fui crescendo e quando eu tirei o meu diploma não queria mais estudar. Eu sempre gostei de bola e lá nós jogávamos no campinho porque aquela época tinha muito campinho (nos bairros), hoje não existe mais, existe Society. Jogava bola na rua. Trabalhava e na hora do almoço jogava bola. Eu só não jogava bola à noite por que não enxergava. Eu comecei trabalhar com 10 anos, ia na escola e trabalhava na sapataria – infelizmente a gente tinha que ajudar a mãe e tudo o que eu ganhava eu dava em casa. Quando eu passei a ganhar um pouco mais eu ficava com 50 Cruzeiros pra mim e o restante eu dava para a minha mãe. Meu pai trabalhava numa pedreira quebrando pedras (pra você ter uma ideia), ele fazia as dinamites para estourar. Comecei jogar no amador, com quinze anos de idade. O pai não incentivava, infelizmente na minha casa todos gostavam de bola, mas incentivar não. Foi superando (todas as dificuldades) pela vontade da bola”, conta. 

Quando criança ouvia a rádio com as transmissões do futebol por que não tinham televisão em casa. O menino sonhava com os grandes times; Santos, Palmeiras. “Será que um dia eu vou jogar nesses times? Por que eu adorava a bola. Minha vida era a bola. Eu almoçava, jantava, noutro dia ia pra escola, bola, ou ia trabalhar, bola. Sábado, após o almoço eu jogava bola. No domingo de manhã, eu jogava bola e a tarde eu jogava bola. Teve um dia que a minha mãe ia até ligar para a polícia por que eu tinha sumido. Eu estava jogando bola desde cedo até às seis horas da tarde”, disse. 

No amador, ficou até os 18 anos e, foi direto para o XV de Piracicaba. Mas, a vida não era só bola, Nelsinho trabalhou aos 16 anos (por um período de 2 anos), na fábrica de urna do Bignotto, em Santa Bárbara D’Oeste, na função de entalhador, fazendo os desenhos  (hoje são feito pela máquina). “A fábrica do Marcos e Aurélio Bignotto, em Santa Bárbara D’Oeste, era no quintal da casa dele. Eu pegava o ônibus em Piracicaba às 6:30h, chegava em Santa Bárbara às 7h e aos sábados e domingos, eu jogava bola. Fomos eu e um amigo trabalhar pra ele no entalhe. O desenho já vinha praticamente formado, a gente inventava alguma outra coisa; eu colocava em cima da tampa do caixão, riscava e ali, com formões eu deixava naqueles modelos que se vê, lindos – tanto na tampa como na lateral. Fiz esse trabalho até jogar no jogo misto do XV com o misto do Corinthians”, disse Nelsinho.

 “Nunca tive um empresário, aquela época, os contratos entre os atletas e os clubes eram de ‘gaveta’. Hoje, se eu tivesse 20 anos de idade, com o futebol que tinha, poderia estar jogando fora do Brasil”, relata. Como jogador nasceu na época errada. Tudo muda. Hoje, o atleta é uma empresa. Deixou de ser um trabalho amador pra ser um trabalho profissional e gente por trás ganhando. Emenda Nelsinho, “se isso ocorresse, talvez eu nunca tivesse vindo pra Limeira. Eu tinha a chance de jogar no Guarani, de jogar na Ponte Preta, de jogar até no Corinthians mas, infelizmente, como eu não tinha um empresário, eu não fui. Na realidade dependia só de mim. Os diretores do XV de Piracicaba viram que a gente jogava razoavelmente — porque eu sou humilde —, me levaram para o XV. Eu jogava no amador, no Mafhe e o treinador do XV na época, era do amador, aí ele foi treinar o XV. Num certo dia teve um jogo entre o misto do Corinthians e o XV, em Piracicaba — eu estava trabalhando, o treinador pediu se não dava pra eu ir, pra ficar no banco, pra completar a quantidade de jogadores. Eu fui. Saí do serviço, jantei, fui e fiquei no banco e, eu joguei meio tempo. Por ter jogado esse meio tempo, eu fiz contrato com o XV — à meia-noite eu estava fazendo o contrato com o XV de Piracicaba. Só que era um contrato de gaveta — ao assinar o contrato ele guardava numa gaveta. Se, por ventura um time grande quisesse me comprar, o clube entrava com esse contrato na Federação pra ganhar dinheiro em cima de mim. Infelizmente, teve três times que me queriam mas, eles não deixaram. Aí eles me profissionalizaram como jogador”, revelou. 

XV de Piracicaba
XV de Piracicaba em 1973, jogo contra a Ponte Preta. XV de Piracicaba 1 X Ponte Preta 0. Presidente Gustavo Jaques Albin, médico Dr. Mello Ayres, jogadores; Tutu, Mococa, Samuel, Vomil, João Miguel, Nelsinho, Piccinato (casaco). agachados, Roberto Dem, Ademir Mello, Armando, Gatãozinho, Ditinho, massagista: Baltazar.

Como jogador Nelsinho permaneceu por 4 anos jogando no XV, com o contrato de gaveta, sendo um jogador profissional. Jogou contra o Santos; o Corinthians; a Portuguesa; contra os maiores que existem nesse mundo: Pelé, Ramos Delgado, Toninho, Clodoaldo. “Mas também não gosto de ficar falando — eu nem falo que eu joguei futebol. Eu não tenho fotos, somente aquelas ganhas, por que eu não gostava de ficar tirando fotos com esses jogadores, por isso não gosto nem de falar”, disse. 

“Aí o meu salário foi aumentando. Não ganhei dinheiro. Antigamente não se ganhava muito dinheiro por que o time do interior, infelizmente, não tinha dinheiro e não tinha base. Você vê que eu fui do amador direto para o profissional. Hoje, existe uma base desde o infantil então, o jogador vai longe. É como jogar tênis, o cara começa jogar tênis com 5 anos de idade e hoje é um Roger Feder, um Nadal. E, na minha época, nem o Pelé ganhava muito dinheiro, ele foi ganhar dinheiro nos Estados Unidos. Eu jogando no XV aumentava o meu salário, um pouco mais. Só que eu fazia o que eu gostava. Eu comprei um terreno e um carro e sempre ajudei em casa – até depois de casado eu dava um dinheiro em casa para a minha mãe”, disse.

No Independente

Independente de Limeira
Independente de Limeira, em 1975, um amistoso contra a Portuguesa de Desportos, de São Paulo, em pé; Bassinho, Loca, Tuti, João Leonardi, Licão, Chiquinho, João Miguel, Zequinha. Agachados; Betinho, Teleco, João Ferraz (in memorian), Sormani, Tato, Nelsinho, Nestor, Dadonna, (ao fundo dois jogadores da Portuguesa: Calegari e Isidoro, do outro lado meio corpo Enéias (in memorian). No campo do Pradão, em Limeira.

O falecido Toninho Maldonato – treinador do Independente, de Limeira, trouxe muitos jogadores do XV, numa época – ele queria trazer Nelsinho desde 1972. “Só que ele me queria mas, o XV não deixava; ‘o Nelsinho não. O Nelsinho não vai’. Vieram 12, 13 jogadores pra cá mas eu não. Até que em 1975, eu vim”, disse. 

Quando saiu do XV, era solteiro, ainda não conhecia a esposa Cleide. “O time do XV era formado em sua maioria por jogadores do amador que se tornaram profissionais. Naquele ano, um antigo presidente, o Ripolli pegou a presidência novamente e mandou toda a molecada embora e eu estava no meio. Eu peguei o meu passe, eu vim para o Independente. Eu e o João Miguel”, disse.

O Galo, na época, estava muito bem por que o Internacional tinha parado. “Foi o Galo que fez o Internacional ressurgir em 1975. Os dérbis aqui era uma maravilha, o campo ficava lotado. Fiquei por dois anos, depois eu joguei em outros times, no Rio Branco, em Americana; em Indaiatuba, em Laranjal Paulista; em Mogi-Guaçu. Eu machuquei a perna, até hoje eu tenho o problema no joelho por que eu não quiz operar. 

Futebol passado e presente

“Muita gente diz que o futebol de antigamente era melhor que o de hoje, na beleza, no jogador, era por amor pela bola. Tinha muita gente boa antigamente. Hoje, você pode contar nos dedos das mãos. A preparação física mudou, antes, era adequada àquele tempo, andar agachado, fazer corrida, a caminhada na cidade; e o normal dentro do campo. E tinha lá dez estações como abdominal, bola, um porquinho de areia que colocava nas costas, correr na areia, pular cavaletes e assim por diante. Hoje, a preparação física é feita dentro de um ginásio, numa sala com máquinas, no campo é só bola. Hoje, tem um Centro de Treinamento – CT, com máquinas suficientes para fazer todos os tipos de exercícios físicos. Até os exercícios com bola é feito dentro do C.T. Excessão de um coletivo (treino 11 contra 11), feito no campo grande. O atleta era tratado como um ser global. O atleta de hoje não sai do C.T.; ali ele tem comida, alojamento, centro médico”, destaca. 

“A paixão pela bola vem de você. Você nasce com ela. Ninguém ensina você jogar futebol, você nasce sabendo. Eu joguei futebol por que? Porque eu nasci para aquilo. Eu nasci sabendo jogar futebol. Hoje, você é lapidado, não significa que não goste e não saiba jogar. Hoje, eles tentam ensinar jogar bola”, descreve. 

“Eu estou em Limeira e é a minha segunda cidade. Eu já tinha muitos amigos aqui por causa do futebol, até hoje, o pessoal me reconhece ou por Nelsinho da Skol ou Nelsinho do Galo. Quando eu vim pra Limeira, o município tinha 70 mil habitantes, em 1976. Conheci a Cleide, nos casamos em 1979 e eu adorei Limeira”, conta.  

“Eu tive um problema na perna, eu não quiz operar então, pra mim jogar não dava mais, eu dei sorte de arrumar um serviço de vendedor de cerveja, por 26 anos. Aposentei e estou aqui no sítio agora, de volta às origens”, afirma. 

“Não parei de jogar bola ao longo da minha vida, só parei agora. Joguei durante 27 anos na MerkBak (tanto na chácara como na firma deles), no Centro Rural do Pinhal, no amador e fui campeão. Os últimos dois anos, joguei no Master do X, existe lá o Master do XV e Amigos. Só que agora eu vou apenas para tirar fotografia”, concluiu Nelsinho do Galo. 

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