Venceslau da Cooperacra

Jornal Pires Rural – Edição 241 | LIMEIRA, Junho de 2020 | Ano XV

Diante da pandemia e decretado isolamento social frente ao surto do novo coronavirus, as escolas paralisaram as aulas, o comércio baixou as portas, juntamente com hotéis, restaurantes e lanchonetes, algumas feiras de alimentos tiveram suas barracas modificadas, ficaram proibidas as vendas de porta em porta e o comércio de ambulantes, bem como os trailer de lanche, exceto aos pedidos para entregas domiciliares. Essa situação afetou diretamente a produção agrícola. Conversamos com Venceslau Donizeti de Souza, presidente da Cooperativa de Agricultura Familiar e Agroecológica – Cooperacra, de Americana, SP, para saber quais alternativas a cooperativa estava tomando para escoar a produção e garantir renda para os cooperados.

De acordo com o relato de Venceslau (foto acima) a “situação do momento é de reinvenção. Essa pandemia pegou todo mundo de surpresa. Na primeira semana ficamos na moita. Na segunda semana saímos pra dar uma olhada na roça e, o mato estava tomando conta dos canteiros. Como um efeito dominó, todas as 6 prefeituras que fornecemos merenda escolar pararam. Aí, a gente começou a se reorganizar pra limpar a roça e a incerteza bateu forte. Começamos pela espontânea vontade de cada um trabalhar apenas meio período. E, começamos articular junto as secretarias de educação e fomentar a ideia das cestas verdes, que estávamos acompanhando nos noticiários, dessas novas experiências. Também passando informações para todos da cooperativa, simultaneamente. Foi assim que conseguimos fornecer nossa produção para a prefeitura de Itirapina, SP, através do PNAE para as famílias assistidas pelo CadÚnico (cadastro que identifica as famílias de baixa renda)”. Venceslau conta que na primeira entrega foram 400 kg de alimentos e, na segunda foi uma tonelada. 

A Cooperacra também acionou a prefeitura de Nova Odessa, SP, e os cooperados se dispuseram a ser os agentes pra montagem dos “kits”, ou seja, as cestas de alimentos para as famílias carentes da cidade. “Na primeira entrega foram 375 kits com quatro itens de hortifrutis cada. Essa semana vamos fazer a segunda entrega de 933 kits, composto por banana nanica, cenoura, abobrinha, espinafre e alface”, destacou.

Venceslau afirmou que “estamos fornecendo kits de cestas para duas prefeituras. A prefeitura de Nova Odessa, fez o seguinte; elegeu dentre as 32 unidades escolares apenas 11 escolas para centralizar a distribuição dos kits, diretamente às famílias carentes, dentro das normas, uma pessoa por vez, com todos apetrechos. Foi um sucesso e agora já triplicou, creio que vai dar quase 3 toneladas de produtos orgânicos”, revelou Venceslau.

Delivery

Em toda a história da Cooperacra muitos obstáculos apareceram para serem superados, com essa pandemia Venceslau diz que novos desafios os colocaram a prova para continuar na atividade. Agora, estão fazendo uso de novas ferramentas e cada vez mais, trabalhando em parceria, para fortalecer a agricultura familiar e o cooperativismo. Uma dessas ferramentas foi implantada no meio da pandemia, “temos uma plataforma on-line para vendas diretas ao consumidor, com delivery. Rapidamente montamos a plataforma e, com quarentena dias, já estávamos com cinco núcleos de venda no delivery. Recomeçamos, aprendendo do zero. Estamos com entrega em Americana, Nova Odessa, Santa Bárbara D’Oeste e Campinas. Os grupos parceiros dessas vendas on-line são Cooperacra, grupo TERRA da Esalq, uma startup chamada Nutrire, a nutricionista Camila e o grupo Livres-Rede de Produtos do Bem de Campinas. As entregas são duas vezes por semana, segunda e quinta, e já temos uma proposta pra atender a cidade de Piracicaba”, frisou.

A pandemia

Sem reclamar um minuto sequer, Venceslau descreveu a situação pela qual a Cooperacra passou, “em abril, segundo mês de pandemia, nosso caixa estava zerado, nossas vendas foram apenas dez por cento. Nós só faturamos um mês, de 18/02 a 18/03, aí travou tudo. Perdemos toda produção de folhosas que estava preparada pra merenda escolar. Replanejamos as quantidades, reduzimos dez por cento das folhas e aumentamos o plantio de tubérculos. Em maio, veio o convite para participar de uma ação em rede para distribuição de mais de 90 toneladas de alimentos adquiridos de 54 diferentes cooperativas da agricultura familiar, em beneficio de famílias carentes nas regiões do ABC paulista, Campinas e Bragança Paulista. São recursos captados na Fundação Banco de Brasil através de projeto da ANC – Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região, Central de Cooperativas Unisol Brasil, Cooperativa Entre Serras e Águas e CooperCentral Vale do Ribeira. A Cooperacra Agroecológica está orgulhosa e grata em participar dessa ação. Vamos escoar mais de 4 tonelada em duas entregas. A primeira já foi realizada com sucesso. Os produtos foram repolho, mandioca, banana nanica e couve”, descreveu.

Projetos futuros

“Já estamos trabalhando das 7 às 14 hs. Implantamos um almoço comunitário, porque está aumentando a demanda e, vimos que turno de meio período não ia dar conta. Nos dias de colheitas trabalhando o dia todo. Estamos muito animados, a produção está bem bonita. Estamos dançando conforme a música. A Cooperacra está apostando em novas aberturas, nestes tempos trabalhamos com fornecimento no PAA institucional para o exército de Campinas e de Jundiaí. Agora estamos orçando para a unidade do exército em Pirassununga. Quando o bicho pegou, todo tipo de cadastro que pensar nós fizemos. Outra coisa, o EDR de Piracicaba, através da CDRS, tem uma proposta junto a associação dos supermercados para abrir a comercialização aos produtores da agricultura familiar para vender nas redes. Estamos tratando com uma rede de supermercados que tem 8 lojas, 4 delas ficam em Piracicaba. Isso é será uma cooperativa regional, se organizar pra ser fornecedor. Nesta empreitada está a Cooperacra, a CooPiHort de Piracicaba e a AssoHorte de Capivari. O mercado vai ficar grande. Nós produtores já estamos fazendo reunião por vídeo conferência. O mundo agora vai ser esse. Coisa de louco, ou vai ou racha”, conclui rindo Venceslau.

One thought on “A resiliência de uma cooperativa agrícola em meio a pandemia”

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