A importância da globalização sempre nos proporciona experiências culturais diversas, e quando falamos em cinema isso não se torna diferente. 

O SESC Piracicaba proporcionou uma mostra de curtas metragens do cinema de animação da República Tcheca surrealista antigo, “Curtas de Animação de Jirí Trnka — A Mão (1965) e Jan Svankmajer — Comida (1992), Darkness/Light/Darkness (1989) e Dimensions of Dialogue (1983)”. Antes e depois da sessão aconteceu um bate-papo sobre a Escola de Animação da República Tcheca com o professor, pesquisador, crítico de cinema e roteirista Celso Sabadin, convidado do SESC. 

Estamos falando de uma criação com o surgimento datado aproximadamente em 1892, na França. Poder ver e analisar essas animações de um país o qual não é os Estados Unidos, foi muito instigante. Foram quatro animações, as quais datadas entre 1965 a 1992. Parar e analisar o contexto vivido pelos criadores é compreender o cenário do surrealismo estando presente em um país (Checoslováquia) cuja características políticas abrangeram duas Repúblicas antes da Segunda Guerra Mundial, depois a ocupação alemã. Após a rendição da Alemanha nazista, a Checoslováquia caiu na esfera de influência soviética, tornando-se um Estado satélite da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Uma era comunista do socialismo controlado pelo estilo soviético como política governamental. Só em 1993 sentiu o fim do regime socialista no território, se dividindo, tornando-se República Tcheca e República Eslovaca. 

Na época em que foram produzidas as animações ainda tinha uma grande influência da literatura na sociedade, principalmente a infantil, e do teatro de marionetes que vêm desde a Idade Média, trazendo um contexto político em seu conteúdo.

Para o governo da União Soviética (URSS), o fazer coletivo de cinema voltado aos indivíduos, e não para as massas, era o fazer pragmático do poder político. Com esse ideal foi possível ir revolucionando o mundo com os estilos de montagem em filmes como: “Encouraçado Potemkin” e “A Greve” ambos do cineasta  Sergueï Mikhailovich Eisenstein. A influência governamental, com a disponibilização de todos os instrumentos técnicos para as produções, fortaleceu o mercado de filmes, por mais que as temáticas eram passadas e autorizadas de acordo com aquilo que faria o Estado sentir-se bem.

O cinema Tcheco partiu dessa criação, e também com o desenvolvimento de escolas de animações do Centro Leste Europeu. Seu pioneiro, no desenho animado russo, Ladislas Starevich, o pai dos animadores naquela região, por ser diretor de um museu de ciências naturais, começou a fazer fotografias de animais como besouros e baratas. Com essas fotografias ele acabou desenvolvendo a técnica de Stop Motion – técnica de movimento utilizando várias fotografias exibidas em um curto período de tempo -, criando histórias com aqueles animaizinhos do museu em que trabalhava. Dessa forma, produziu mais de cinquenta animações; ganhando prêmios e sendo reconhecido no mundo todo. 

Naquela época, tornava-se um cineasta com mais facilidade, tratava-se de pessoas que se jogavam nas experiências de criar pois, não existia ainda escolas de cinema, principalmente para ensinar produções de animação.

Infelizmente, com a gigantesca influência da cultura americana sob a nossa sociedade faz-nos esquecer que as animações vão além dos estúdios Disney. Conhecer outras produções é entender também que animações não são somente desenvolvidas para o público infantil. 

Jan Svankmajer, hoje com 87 anos, é outro criador das animações exibidas na mostra do SESC (Comida -1992; Darkness/Light?Darkness – 1989; e Dimensions of Dialogue -1983), trabalha muito no fantasiar um terror sob relações cotidianas, ele foi um dos principais membros do grupo de artistas surrealistas produzindo um material com essas características e recursos em Stop-motion, as quais chamam a atenção pela sua história codificada. 

A dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) fez com que essa área de produções fosse privatizada, gerando uma crise. Então, criou-se uma fundação de animações na Checoslováquia, com a ideia de continuar o incentivo nessas produções, com uma verba anual de dois milhões de euros, infelizmente considerada baixa com tamanho trabalho para desenvolver esse tipo de obra.

Uma crise muito grande, desde 1989, com a dissolução da URSS e consequentemente a crise econômica de vários países que estavam sob o comando da União Soviética, toda essa atividade produtiva foi privatizada. Essa atividade cultural dependia como toda atividade cultural depende de verba pública, de políticas públicas, e a partir do momento que tudo foi entregue a sorte do mercado acontece essa autofagia. Porque a cultura fica a mercê das leis de mercado e quando emperra a lei de mercado você tem a predominância do produto comercial, da Disney, da Pixar – e faz parte da política deles eliminar as expressões culturais locais.

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