A convivência mundial com o surto de Covid-19, em todas as nações, está completando um ano. Poderíamos afirmar que estamos caminhando no escuro sem encontrar a tal luz no fim do túnel diante dessa pandemia do coronavírus? Perguntas sem respostas práticas como essa se tornou frequente em nosso cotidiano. Frequente também foi a introdução de novos hábitos quer seja no trabalho, no uso do elevador, na loja de roupa, na farmácia e principalmente no supermercado. Buscando entender como as mudanças no modo de relacionarmos com o outro impactou nossas atitudes, iniciamos uma série de reportagens que aborda a vida um ano depois da Covid-19 nos setores de serviço, indústria, poder público e comércio. 

Começamos com os depoimentos de Alberto Nespini, dono de um mercado no bairro Labak e de Marcelo Antônio Rosseti Zucolo que trabalha há 35 como representante comercial.

Adalberto Nespini comerciante
Alberto Nespini comerciante

Alberto Nespini nos conta que seu pai inaugurou o mercado no ano de 1976, de lá pra cá, com muita luta, assumiu o negócio em 2010. “Era muito complicado o comércio naquela época, hoje está mais fácil trabalhar na comunicação com o cliente. A parte de publicidade, antigamente fazia muito folheto, é caríssimo esse folheto pra deixar ele pronto, por na rua e, a tecnologia que é o ‘Zap’ aboliu o panfleto, não precisa mais. Na pandemia todos os comércios de supermercado foram surpreendidos, as vendas foram gigante. Coisa que nunca existiu em supermercado, de tanto que se vendeu. Inclusive chegou a faltar item porque o fornecedor não tinha mercadoria para atender. Depois que acabou isso, ficou ao contrário, as mercadorias subiram de uma tal maneira que está complicado. De dezembro pra cá a coisa complicou porque subiu demais. A mercadoria não subiu 5%, 10%, ela chegou a dobrar o valor. Então, nós supermercados, estamos sentindo isso na pele porque, agora, as vendas caem. O salário não teve aumento significativo mas, a mercadoria explodiu o preço. Eles falam que a China está comprando a carne brasileira, quem tem mercadoria para exportar está mandando pra fora, e o preço pra fora é tudo em dólar e nós brasileiros temos que pagar o preço lá de fora. Então, ficou difícil trabalhar, uma margem de lucro mais curta e o cliente não teve o salário aumentado”, citou o comerciante.

Falando da situação enfrentada no início da pandemia entre os meses de abril e maio Alberto revelou, “medo! Foi maior o medo do que a própria situação. Tínhamos a preocupação do medo de pegar isso (Covid-19) e, pensava que iria ser coisa de 40 dias, 50 dias, coisa pequena, rapidinho. Precisávamos precaver, o álcool gel sumiu do mapa, ficou difícil de comprar, não tinha. Hoje, se acha álcool gel a reveria mas, até então, não existia. Usávamos o álcool líquido 70, foi difícil, hein?!”, disse.

Segundo a percepção de Alberto, o consumidor pensavam que essa pandemia ia ser rápida, “40 dias, quarentena. A criançada não estava indo à aula, então, era festa, era churrasco todo final de semana, o que se vendia de mercadoria era coisa impressionante. Nessa pandemia foram poucos que pouparam, a turma estava de férias, notava que todo final de semana era churrasco em tal lugar, passeios e festa ali, mais festa mesmo! Pensando que era jogo rápido vamos aproveitar agora, logo volta ao normal, mentira! Muitas indústrias pararam outras fecharam, teve muito desemprego, muitos ficaram sem receber. Aqui no comércio a gente percebe. Agora, todo mundo está sentindo essa pandemia”. 

Na opinião dele para voltar a normalidade, “a gente sabe que precisa de uma vacina. Conseguiu a vacina, agora é questão de tempo para erradicar essa doença. Então, Limeira tem o plano de vacina, as cidades vizinhas e assim em termos de Brasil, eu acredito, falando alto, uns cinco meses nós vamos voltar a rotina normal. Vai tirar essa máscara, esse é o meu pensamento”, afirmou. 

O comerciante aponta que um ano depois do coronavírus, “as vendas caíram, não só supermercado. O preço está alto, no momento não querem abaixar, falam que está faltando matéria-prima e está subindo plástico, subindo embalagem de alumínio, as indústrias não querem abaixar. No momento a tendência é de aumento, todos os vendedores que passam é somente aumento, nada de abaixar. Hoje, tem a mercadoria a vontade, o que precisar tem mas, as vendas caíram e não adianta comprar bastante por causa da data. Tem que ter calma, nada de comprar demais, porque eu acredito que é impossível esses preços continuarem alto assim. Agora é hora da calmaria, ter paciência, esperar passar essa fase aí, não é para sempre, impossível, até as coisas ir se reajustando novamente”, acredita. 

De acordo com sua teoria, o que acredita que possa acontecer, “as indústrias vão ter muita mercadoria, funcionário, despesas, como faz? Isso vai ter efeito lá na frente, acredito eu, que vai cair o preço. No passado eu já vi isso acontecer. Quando está estoque alto, a data vai vencendo, a pessoa é obrigado a vender mais em conta, para poder sair fora. Essa é minha opinião, porque é impossível só vender pra fora, para o exterior e o Brasil, aqui na parte interna ter esse aumento que está. Então, o povo brasileiro vai pagar o preço que os americanos e os chineses estão pagando? Nós não ganhamos o suficiente para isso, nós brasileiros ganhamos menos, bem menos, nosso poder aquisitivo é muito menor. Acredito que durante o ano algumas mercadorias vão abaixar”, profetiza Alberto.

Para finalizar o comerciante aposta, “acredito que o Brasil tem o potencial de melhorar maravilhosamente bem, é só ter um pouquinho de paciência e vacina. O mundo interior está passando por isso”.

Atendimento contínuo

Marcelo Zucolo, representante comercial
Marcelo Zucolo, representante comercial

Conversamos com Marcelo Antônio Rosseti Zucolo, representante comercial, perguntando como foi trabalhar durante o ano em plena pandemia do coronavírus ele disse, “existiu sim períodos de preocupação, como está existindo ainda, por falta de embalagem, falta de matéria-prima e aumento de preço. No entanto, o meu segmento não teve uma parada (por causa da pandemia) até favoreceu. O pessoal que ficou em casa, cozinhou, conheceu o tempero, conheceu coisas novas, então, teve uma vantagem ao meu ver. Porém, existe o medo da gente estar trabalhando e se expondo (ao vírus), esse medo é constante, não tem jeito de falar que não tenho medo! Existe o medo, existe o vírus, tem muitas pessoas que não sabem que são portadoras do vírus (assintomáticos), tem muita gente que não procurou médico, tem muita gente que não faz exame e não sabem (se teve o vírus)”, destaca.

Na percepção de Marcelo, “o mercado está mudando muito rápido, hoje, a tecnologia está atingindo tudo, as pessoas vão ser obrigadas a aprender lhe dar com a tecnologia. Provou-se que de sua casa consegue-se fazer de tudo, compra no supermercado, do shopping, da loja. Fortaleceu o setor de entregas, até então, era um setor zero, a logística era só na rede de supermercado e você dirigindo até os lugares. Agora, no conforto de casa podemos receber de tudo. Vai mudar mais, o comerciante está vendo que existe a facilidade de usar o tempo e acessar uma internet e comprar sem o vendedor fisicamente presente no mercado, consegue selecionar as ofertas, então, eu acredito que a pós-pandemia, quando chegar, muita coisa vai mudar na humanidade”, salienta. 

Referente ao trabalho durante a pandemia, ele revela, “no meu serviço não mandou ninguém embora, justamente porque no meu segmento alimentício de temperos houve uma demanda maior. Não deixei de visitar nenhum cliente, tomando as precauções, com máscara, álcool gel, tentando não por a mão em muita coisa, manter distância. No primeiro impacto da pandemia, entre os 3 a 6 primeiros meses, a venda dobrou, o faturamento surpreendeu muito, pois, foi justamente o período que o pessoal ficou em casa. Hoje, já voltou ao normal, já está como em 2019, os gráficos estão caindo, não está mais dando aqueles picos grandes nas vendas, porque quando teve o fechamento, o pessoal ficava em casa, não tinha como ir a shopping, cinema, show e aí, foi sentindo a necessidade de comprar via internet e, foram aprendendo, começaram despertar pra esse tipo de compra. Eu vejo isso na minha casa, direto chega mercadoria, veem promoção, é interessante porque começa a conhecer lugares com ofertas, lojas que nem conhecia, sites de venda, que são seguros, a comprar chega certo em casa, é legal isso. Aquece o mercado em todos os lados, bem bacana e a tendência vai ser essa. Não vai ter jeito de mudar”, aponta.

Falando de futuro Marcelo está apreensivo devido ao “aquecimento do mercado tecnológico, corremos o risco de ter substituição de profissionais na minha área de representante, de pessoas serem desligadas das empresas, pois, hoje existe a comodidade de fazer a compra de sua casa, na hora que o comerciante fecha o mercado, está com a cabeça fria, vai pensar mais, não está no calor do dia a dia, o cliente esperando no balcão, então, começou-se a despertar isso, não tem jeito de falar que isso não é o futuro. Por outro lado, quem não implantar a tecnologia vai ficar para trás e aí, começa a ser perigoso, onde vai colocar um monte de gente desempregada? Mas vamos deixar o futuro acontecer, vivendo um dia de cada vez. Não sabemos o que estamos lidando com a pandemia é um invisível que não sabemos o que está acontecendo. Tem exemplos de cidade como Araraquara, por causa da nova variante (do coronavírus) está fechando tudo as seis horas da tarde, então, como faz? E se estende para todo lugar? Vai aquecer mais o mercado de entrega dos motoboys e menos funcionário trabalhando. O importante é saber que temos que respeitar o espaço meu e o espaço do outro, pois, não adianta eu sair achando que tudo é lindo e maravilhoso e destruir minha família. Temos que ter consciência e saber que estamos brincado com uma coisa que pode destruir um lar. Às vezes, as marcas vão ficar pelo resto da vida. Temos que fazer valer o amor ao próximo”, afirmou.

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