Andréa Gonçalvez professora
Andréa Gonçalves, professora da rede municipal de ensino do município de Limeira, SP

Andréa Gonçalves, professora da rede municipal de ensino do município de Limeira, SP, efetiva na Educação Especial, na escola municipal Maria Paulina Rodrigues Provinciatto; idealizou o projeto durante a pandemia da Covid-19, a partir da necessidade de um aluno com laudo de Transtorno do Espectro Autista – TEA.  “Na escola Maria Paulina nós temos alunos com laudo diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista – TEA com graus diferenciados: TEA severo, TEA leve, TEA moderado. E um TEA que seria numa antiga nomenclatura considerado como altas habilidades, com o cognitivo totalmente preservado e ele vai além — pra ele eu não tenho que adaptar utilidades, apenas suplementar. Nós fazíamos as aulas remotamente pelo Zoom, pelo aplicativo onde eu compartilhava esses materiais para interagir melhor. Para uma aluna com TEA mais severo foi dado um tablet — ela está no início da alfabetização — com jogos mais adaptados com o nível que ela poderia trabalhar melhor. Eu priorizo nos jogos específicos para o início da alfabetização, tanto para os deficientes intelectuais — ou uma boa parte deles – e crianças com dificuldades na alfabetização”, conta Andréa Gonçalves. 

Os resultados na interação e aprendizagem dos alunos através do uso de um computador surpreendeu a professora e o projeto cresceu. Andréa almeja conseguir doações de computadores para todos os estudantes do município que carecem do acesso à informática. 

Leia a seguir a entrevista e, se possível, doe um computador que não esteja sendo usado.

Jornal Pires Rural: Qual é a realidade dos seus alunos? 

Andréa Gonçalves: A realidade dos meus alunos é bem diferenciada. Por ser da educação especial nós atendemos todos os tipos de deficiências que nós temos na escola, acompanhamos todas as crianças de inclusão. Devido a pandemia o nosso trabalho ficou um pouco mais trabalhoso por conta de que já eram crianças que apresentam uma deficiência ou transtorno. Então, esse ensino remoto, o ensino à distância pra eles e para os familiares é um pouco mais complexo. 

Se já havia uma dificuldade no presencial, no remoto ela dobra. No caso da educação especial dobra num grau um pouco mais avançado porque são crianças totalmente dependentes e eu preciso da participação efetiva da família. Muitos alunos só tem o celular como o único meio de comunicação e aquilo me limitava dentro das atividades que eu poderia ofertar para aquele meu aluno na educação especial. 

Quando a gente fala em educação especial nós imaginamos logo de cara que é uma criança que tenha extrema dificuldade, mas eu tinha alunos de altas habilidades também — que se viram muito bem sozinho. E, foi baseado justamente nesses alunos, um aluno meu que é um autista e tem um cognitivo todo preservado e aprende super bem e gosta dessa questão tecnológica. O projeto surgiu basicamente pensando nesse aluno, em como eu poderia oferecer uma melhor aula pra ele. Ali no início (da pandemia) eu sai pedindo tablets e notebooks para que eu pudesse fazer uma melhor aula pra ele. Foi então que eu consegui o tablet a princípio, depois eu consegui o notebook, comecei fazer as aulas e vi que deu resultado. 

Eu comecei a pedir para os amigos e para ir compartilhando e eu fui conseguindo (computadores) para todos os alunos da educação especial. Eu instalo alguns jogos de alfabetização e matemáticos, porque aqueles que não tem acesso à internet eles já tem uma ferramenta de estudos diferenciadas. Eu também acompanhava alguns alunos que residem lá no assentamento Elizabete Teixeira, lá eles não tem acesso à internet, são poucas as casas de lá que tem, eu fiz quatro entregas para alunos do assentamento. As crianças conseguem ter uma ferramenta de estudo diferenciada — não simplesmente uma folha impressa —, muitos alunos não estão alfabetizados e um computador é mais dinâmico porque tem jogos interativos.

Andréa Gonçalvez com um tablet pronto para doação
Andréa Gonçalves com um tablet pronto para doação

Jornal Pires Rural: Como surgiu a ideia do Projeto?

Andréa Gonçalves: Enquanto monitora eu desenvolvi o projeto de informática em 2009/2010 com a Roseli Buzinaro (a diretora na época) nós ganhamos alguns computadores e ela sabia que eu gostava muito desse meio tecnológico e tinha uma facilidade também para trabalhar com jogos. E, depois de um tempo ela construiu uma sala de informática desenvolvida por nós. O alunos do Centro Infantil Fábio Franco de Oliveira já tinham esse acesso à informática com esses jogos de alfabetização de raciocínio lógico da matemática. Então, eu tive a ideia de levar um pedacinho da escola pra casa de cada um, porque eu vejo que muitas pessoas tem equipamentos eletrônicos que estão nas casas que são obsoletos e trocam o modelo do equipamento. Eu vi que começou dar resultado, as doações foram chegando a medida que eu comecei a fazer algumas publicações no facebook  mostrando a seriedade do projeto e que os computadores tem chegado na casa das famílias.

Eu comecei fazendo as manutenções (dos computadores) porque eu tenho um curso técnico básico em manutenção de computadores mas, como as doações foram aumentando graças a Deus e, graças a ajuda dos amigos; eu pedi socorro na manutenção para os amigos Lisa Carolini Lima, secretária de escola Martim Lutero, e ao Ricardo Zerneri. O projeto tem crescido com parceiros na área de manutenção dos equipamentos com trabalho voluntário e outros por um preço menor. 

Um computador recebido em doação, sendo testado
Um computador recebido em doação, sendo testado

Jornal Pires Rural: Você quer mais doações de computadores para atingir qual objetivo?

Andréa Gonçalves: O nome do projeto ‘Doe um computador usado e ajude uma criança estudar’. Eu já consegui para todos os alunos que eu acompanhava dentro da educação especial e alguns outros alunos da escola e, de outras. Eu estou indo para a entrega de número setenta. Onde eu quero chegar? Eu quero chegar a atingir a cidade toda. Eu gostaria que todas as casas pudessem ter o acesso a esse equipamento, porque mesmo nós, professores, voltando o trabalho presencial, nós continuamos no ensino híbrido, ou seja, nós estamos presencialmente na escola mas também, estamos atendendo remotamente. As aulas voltaram presencial mas, os alunos estão divididos em grupos então, a criança frequenta a escola uma vez na semana, uma semana por mês. Em casa ela vai precisar fazer o acompanhamento de assistir os vídeos que nós, professores, postamos nos grupos e, assistir um vídeo no celular fica limitado. Estamos criando alguns canais no YouTube, no Google Drive para postar as nossas atividades. 

Nós temos muitas crianças na cidade de Limeira que eu desejo atingir. Eu sei que vai demorar bastante então, eu gostaria de continuar e tenho a esperança de que com o passar do tempo –  vendo que realmente o projeto está sendo encaminhado —, os órgãos governamentais, a Secretaria da Educação olhasse com um pouco mais de carinho e pudesse ajudar. Que tenhamos políticas públicas com internet mais acessível pra todos, porque a questão da pandemia pode se estender e não sabemos por quanto tempo permaneceremos assim. 

Como ajudar

O projeto “Doe um computador e ajude uma criança estudar’ está pedindo doações de computadores modelo desktop, notebook, netbook, celulares; não importa o estado. O projeto remaneja as peças e monta outro. As peças que não são úteis para o funcionamento do computador tem um descarte de venda de lixo eletrônico, esse dinheiro é revertido para o Projeto para pagamento das pequenas manutenções (algumas são gratuitas, outras pela metade do preço) e compras de suplementos como o mouse, a bateria da Bios (a pilha que mantém os dados atualizados). O Projeto tem-se mantido disso. 

Contato facebook Andréa Gonçalves ou pelo telefone (19) 98121 0302

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *