Marcelo, Luis Zabin e Márcio
Jornal Pires Rural – Edição 221 | LIMEIRA, Outubro de 2018 | Ano XIII

    A área rural vem sofrendo uma urbanização com o passar dos anos, o fluxo intenso de carros é a principal consequência observada, além de novos comércios, igrejas, chácaras de aluguel pra festas ou moradias. Mas dentre essa urbanização de “novos lugares”, um é exclusivo, o posto de combustíveis São Francisco. Instalado no Bairro dos Frades, em Limeira, na rodovia Limeira – Artur Nogueira (vicinal José Santa Rosa) é do início da década de 90, foi montado pelos sócios Luis Zabin e Sérgio Franco de Moraes.

    2 Fuscas e uma moto

    Na época de abertura do posto na via que liga as cidades de Limeira à Artur Nogueira, tinha o pavimento de asfalto até a divisa com o município de Artur Nogueira. É uma estrada vicinal de aproximadamente 20 km, cheia de curvas, mão dupla, rodeada por propriedades rurais com lavouras de milho, mandioca, citricultura e mais recentemente predomina a cana de açúcar. Próximo ao posto tem uma ponte sobre o ribeirão Pinhal, antigamente só passava um veículo por vez.

    ‘Agora, você já pode descer os tanques’

    Para relembrar um pouco da história do posto São Francisco, conversamos com Luis Zabin, responsável por implantar todo o empreendimento. Sr. Luis conta que no ano de 1992, trabalhava com o primo Sérgio no transporte de combustível e, foi quando tiveram a ideia de abrir o posto, “meu primo visitou o bairro e achou que dava certo abrir um posto nesse local. Como eu conhecia o dono da terra (Benedito Pinto), fui falar com ele. Durante uns cinco meses trabalhei sozinho, porque o Sérgio continuou transportando combustível, daí veio meu filho Márcio pra me ajudar no trabalho. Essa sociedade com o Sérgio durou 7 anos, depois disso comprei a parte e passei a sociedade com meu filho”, ele recorda.

    O capital de sr. Luis para iniciar o novo negócio eram 2 Fuscas e uma moto, acabou vendendo a moto e um Fusca, sobrando o outro que usava para ir ao trabalho. Teve um fato curioso envolvendo esse veículo, logo nos primeiros meses de construção do posto, ele revela; “eu já tinha efetuado a escavação, quando o caminhão trouxe os tanques que iam receber os combustíveis. O motorista da carreta escolheu o local onde poderia colocar os tanques, para depois enterrar, foi num barranco próximo de meu único Fusca. Eu falei ‘espera que vou tirar de lá’. O motorista ficou contrariado, falou que nada ia acontecer pois, quando os tanques chegam ao chão se firmam nas pontas, etc. Falei ‘não, não, não. Seguro morreu de velho’. Fui lá e tirei meu fusquinha. Disse: ‘agora, você já pode descer os tanques’. Desceu o primeiro tanque, parou tudo certinho, no segundo, não sei o que houve, escorregou, bateu no primeiro que saiu rolando, rolando, rolando e, só foi parar na árvore onde meu Fusca estava. Precisava ver a cara do motorista da carreta, vendo o tanque rolar, se eu não tirasse o carro dali, ia ficar sem carro!!”.

    Chão batido

    Depois de 3 anos de funcionamento o filho mais novo, Marcelo, passou a ajudar nas atividades do posto, voltava da escola estadual Dorivaldo Danm a tarde e ficava auxiliando até a hora de fechar o comércio. Ficou de vez assumindo a borracharia por 5 anos, trocando pneu de caminhão, trator e carro. “Meu pai fazia serviço de banco, o Márcio no abastecimento e eu na borracharia, troca de óleo e o que mais aparecia, era mil e uma utilidades”, brinca Marcelo.

    Como o investimento foi alto pra atender as exigências da planta da construção, tanques de armazenagem de combustível, bombas, terraplanagem, cobertura do posto, e a necessidade de uma estrutura de alvenaria, sr. Luis conta que não teve dinheiro para comprar móveis, “no começo foi duro, a cadeira era uma caixa de laranja de madeira, com uma tampa de tambor de ferro e minha escrivaninha era uma caixa de bomba, onde usava para preencher as notinhas”, listou.

    Foto Aérea

    O posto começou com a bandeira Ipiranga, ficando 12 anos com a marca, que exigia a compra de 120 mil litros, por mês, de combustível, sendo que não vendiam nem 60 mil. “A primeira compra foi 5 mil litros de óleo diesel, 5 mil litros de álcool, 5 mil litros de gasolina”, citou sr. Luis. O filho Marcelo entra no papo, “tinha bomba de querosene e era mais barato que tudo. O pessoal costumava usar em maquinários e pra lavar peças, às vezes colocavam nos tanques de caminhões pois, servia pra limpar os bicos, coisa de 5 a 10 litros. Usavam de verdade em caldeiras, mas foi proibido por causa de poluentes no ar, aí paramos, hoje quase não tem mais nos postos” lembrou. Voltando no contrato com a Ipiranga, sr. Luis disse que a empresa exigiu uma garantia, e a casa do sócio Sérgio ficou hipotecada. Foi a vez de Márcio falar, “o contrato era de 10 anos, pegávamos de 40 a 60 mil litros por mês e nunca atingia os 120 mil exigidos. Quando venceu o contrato, não podemos sair, ficamos amarrados com eles por mais 2 anos pra tentar chegar na meta e mesmo assim não atingia. Quando o posto fez 12 anos, veio a CETESB com a convocação para a troca dos tanques de combustíveis, só que os tanques e as bombas eram da Ipiranga, pra eles não compensava investir em nós, porque vendíamos pouco. Daí eles ofertaram, pra encerrar o contrato, que teríamos que comprar as bombas e os tanques e pediram um preço lá em cima. Um colega nosso deu a orientação: ‘joga a oferta lá embaixo porque, tirar eles não vão’. Fomos brigando, brigando até que chegou no preço que queríamos. Assim encerrou o contrato com a bandeira, colocamos os novos tanques e bombas, tivemos que pagar pra incinerar os usados pra evitar contaminação”, disse Márcio.
    O pai observou; “nessa região, acaba a energia direto. E as bombas antigas tinham uma manivela pra poder fazer o abastecimento. Isso era uma tristeza. O pior era que acabava a energia aí chegava um caminhão com o tanque vazio. Precisava chamar 4 amigos pra dar conta. Variava o braço, 20 litros com o direito e 20 com esquerdo, aí passava a vez”, foi só risada.

    Pergunta lá

    Quando apareceu a CETESB, no Posto São Francisco, a situação começou a ficar apertada para família, Márcio relembra, “em 2012 foi feito a troca dos tanques e vieram outras exigências por ser área rural. Temos uma lagoa no fundo do posto e eles achavam que era nascente mas, não é. Essa lagoa se formou porque antes era uma olaria e eles tiravam o barro dali pra fazer as peças. Exigiram tanto que pensamos em parar, só não paramos porque viver 3 famílias só do sítio não dá e também, teve uma senhora da CETESB que ajudou muito com os prazos. Só sei que tivemos que medir todo o terreno, medir curva por curva do ribeirão Tabajara, que passa atrás do posto e ao lado da lagoa, fazer levantamento das espécies de árvores e plantas, cadastrar poço no DAE e colocar hidrômetro, fazer fossa séptica, fazer analise de solo, piso de concreto, separador da água e óleo que escorre pelo chão do posto, tanque de 15 mil litros pra captação da água e depois pagar pela coleta e tratamento dessa água pela concessionária de Limeira que lançará no ribeirão Tatu, depois de tratada. O dono do terreno ficou sabendo, que nosso investimento era alto e para nos incentivar a continuar, passou o contrato de 10 para 20 anos. Conclusão, depois de um ano de esforço deu tudo certo”. Sr. Luis emenda “pra você ver como é complicado esse negócio de posto. Eu quero passar minha parte da sociedade para meu filho Marcelo e não consigo mas, se eu morrer ele pode pegar. Pra você ver como é a burocracia. Isso é uma exigência da ANP, pra evitar falcatruas. Por causa dos ruins, o bom paga junto” observou.

    A clientela
    O movimento de clientes no começo foi devagar, sr. Luis apostava que viriam alguns conhecidos, mas nem chegaram perto, entretanto, vieram outras pessoas dos sítios e das fazendas próximas ao posto, foi preciso vender fiado pra poder ter clientes assíduos, hoje em dia sr. Luis fala que não é mais possível, outro fato é que os moradores de Artur Nogueira abastecem mais do que os moradores de Limeira.

    Turma de amigos

    Instigado a buscar na memória algo curioso ocorrido no posto de beira da estrada, sr. Luis recorda que certa vez ao chegarem as 6 da manhã para trabalhar tinha uma pessoa dormindo no banco de madeira que fica na parte externa do posto. “Chegamos cedo e tinha uma dona de meia idade deitada no banco. Passou 6 horas, 7 horas, 8 horas da manhã ela sentou, fomos tentar tirar, ela não falava nada, não respondia nada e nem saia do lugar. Ligamos para a polícia, os policiais chegaram ela se levantou e foi andando em direção a saída do posto. Os policiais foram lá e conseguiram leva-lá embora pra Limeira mas, isso já era mais de duas da tarde. Depois, eles nos contaram que ela informou que foi um caminhoneiro que tinha largado ela aqui”, revelou.

    Citricultores
    Chama atenção de Márcio, o fato de quando iniciaram as atividades do posto, a citricultura era a lavoura que predominavam nas propriedades, hoje, o cenário é bem diferente. “A única judiação que vejo é o problema da citricultura. Até pra gente foi ruim, caiu muito a venda. No auge da laranja, todo mundo tinha pomares, e o movimento no posto era grande. Vinha turmeiro abastecer aqui, os sitiantes traziam as pulverizadoras de 2.000 litros pra encher com óleo diesel, traziam tambores de 200 litros pra encher de álcool e armazenar, porque o preço variava. Foi indo, foi indo caiu a produção de laranjas por causa das doenças, do greening e hoje eu conto, sem pensar muito, uns 20 fregueses que tinham laranja e arrendaram pra cana de açúcar e não vem mais abastecer. Foi isso que estragou” diz Márcio. O pai remedeia “mas tá bom, estamos vivendo bem. O ruim da cana é que ela não é boa para o município, porque não dá lucro, eles pegam tudo direto da fábrica, tem os próprios caminhões, tratores, manutenção dos equipamento, compra de combustíveis é tudo deles. Isso não dá incentivo pra abrir mecânicas, transportadoras, posto, não gera emprego. Temos que inovar, abrimos a loja de conveniência pra atrair clientes. Conforme o toque é a dança”, asseverou sr. Luis Zabin.

One thought on “Pergunta lá: família Zabin servindo como braço direito ao produtor”

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