A família Cheneviz semeou, "de a meio”, uma pequena quadra de arroz
Jornal Pires Rural – Edição 227 | LIMEIRA, Abril de 2019 | Ano XIII

Plantando de “a meio” com um vizinho, Maurício Cheneviz semeou uma pequena quadra de arroz tipo agulhinha, no bairro dos Frades, em Limeira. Maurício conta que anualmente sua família faz o plantio. No dia 6 de novembro de 2018, foi a data de semeadura e agora, em 4 de abril, dia da colheita. “Foram plantados 35kg e, não podemos parar (de plantar) por causa da semente, pois é difícil encontrar a semente certa (para o arroz de áreas secas). Essas sementes fazem 5 anos que plantamos anualmente. Vai dar uns 15 sacos. Como não tinha terra para plantar mais, foi só essa área. Daqui, o arroz vai pra beneficiar, lá em casa mesmo e depois vamos usar para o gasto. Era para produzir mais, só que a seca de janeiro prejudicou. Então, taí o que Deus deu”, contou Maurício. 

Chegou a hora da colheita.
A família Cheneviz semeou, “de a meio”, uma pequena quadra de arroz tipo agulhinha, chegou a hora da colheita

Ele convidou seu pai, Sebastião Cheneviz, para explicar melhor a tradição de plantio de arroz pela família. Nos altos de seus 89 anos, sr. Sebastião trouxe o podão, importado da Austria, para mostrar como é a colheita manual pois, hoje em dia é feita de forma mecanizada. Ele também revelou que planta arroz desde quando era criança. “Toda vida plantamos, no passado colhia 300 sacos de arroz e vendia. Hoje não vai passar de 20 sacos. A seca na hora de formar os grão veio forte, depois veio uma chuvarada, achei que não iria colher nada mas, é um arroz teimoso, se fosse outra qualidade tinha perdido tudo. Pelo menos pra semente está garantido”, relata sr. Sebastião.

Provocado, porque já pensa em plantar as sementes de arroz colhidas na próxima safra, ele fica sério e saudosista ao se lembrar do passado, “precisamos achar terra para o arroz, porque a laranja acabou, o algodão acabou, todos tem a cana de açúcar mas, não paga nada. Arrendava 7 alqueires no bairro Pinhalzinho próximo da igreja na Nova Campinas, vivi 6 anos lá. Tudo que plantava dava, terra branca, gostoso de trabalhar,  foi lá o plantio de algodão onde colhia mil arrobas. Plantava mandioca, arroz, tinha pomar de laranja. Época boa de mão-de-obra, porque perto dali morava os funcionários da Usina Ester e quando ficavam parados, assim que arrumavam um serviço, corriam fazer e não tinham preguiça. Hoje, você não acha um pra trabalhar. Com a laranja eu ganhei muito dinheiro mas, uma indústria me deu tombo feio. Eu fiz um contrato em dólar com a indústria e peguei o dinheiro, 12 mil dólares, adiantado. Eles estavam colhendo o meu pomar e quando faltavam menos de 200 caixas, abandonaram a colheita e só voltaram quando já tinham caído as laranjas, aí fiquei devendo umas 200 caixas e eles não aceitavam em dinheiro. De um ano para o outro, essas 200 caixas custou 12 mil dólares, era o que eu tinha pego adiantado. Tive que entregar um ano laranja pra eles sem ganhar um centavo”, lamentou o produtor.

Voltando ao arroz de sequeiro recém colhido, chegou o  momento de beneficiar para o almoço da família. Sr. Sebastião, tem uma máquina de beneficiamento, guardada na tulha de seu sítio. Foi para lá que partimos para acompanhar o beneficiamento. Na máquina beneficiadora de arroz ‘Nogueira, modelo rural série B-7’, ele nos conta como é o processo: coloca o arroz no funil da máquina, regula a quantidade de saída dos grãos, ligando o maquinário o processo começa passando pelo descascador, depois o grão passa pelo brunidor, que retira uma parte da camada escura chamada de farelo, a qual é direcionada para uma saída inferior, posteriormente esse farelo é usado para ração animal. O grão branquinho cai em uma peneira separando em tamanhos, com duas saídas, uma dá vazão aos grãos quebradiços e a outra aos grãos que irão servir para a dona da casa. A máquina tem uma saída lateral para a casca do arroz que cai diretamente no galinheiro. Em pouco mais de 10 minutos foi beneficiado cerca de 20 kg de arroz. Sr. Sebastião conta que o modelo de máquina não separa arroz integral ou arroz branco, sendo possível somente arroz branco.

Sebastião Cheneviz trouxe o podão
Sebastião Cheneviz trouxe o podão, importado da Austria, para mostrar como é a colheita manual

Dados 

Na safra do ano agrícola 1983/1984, segundo a CATI/IEA, o Estado de São Paulo apresentava, numa área total cultivada com arroz de 341.200 hectares, com destaque para o cultivo de arroz de sequeiro nas regiões de São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Campinas e Sorocaba.

No ano de 2007, a área total ocupada pela cultura no Estado era apenas 16.762 hectares, segundo a última atualização cadastral das Unidades de Produção Agropecuária do Estado de São Paulo (UPA), realizada de 10 em 10 anos, denominada “Levantamento das Unidades de Produção Agropecuária (LUPA), instituído no âmbito da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado. Desse total, quase 13.000 hectares eram de cultivo do arroz irrigado nas regiões de Pindamonhangaba, Guaratinguetá e Assis, os outros 3.800 hectares de sequeiro, com destaque para as regiões de Itapeva, Franca, Registro, Mogi-Mirim, Avaré, Limeira, Catanduva, Araraquara, Jaboticabal e Itapetininga. O cultivo de arroz estava presente em 1.675 propriedades rurais paulistas, caracterizando-se como atividade tipicamente da agricultura familiar.

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