Jornal Pires Rural – Edição 233 | PIRACICABA, Outubro de 2019 | Ano XIV

Afirmação dita acima é de Gustavo Junqueira, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, presente em Piracicaba no ESALQSHOW.

Gustavo Junqueira
Gustavo Junqueira, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

Durante três dias, membros da academia, profissionais do mercado e lideranças do agronegócio estiveram reunidos no ESALQSHOW – Fórum de Inovação para o Agronegócio Sustentável, com o objetivo de estreitar e fortalecer cada vez mais a relação entre universidades e demais elos do segmento. Gustavo Junqueira, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, esteve presente, em Piracicaba, onde participou do painel – O Agro Brasileiro e seus caminhos. 

Acompanhe o que disse Gustavo em sua abordagem, “a visão do Marcelo Britto, da Abag, mostrando de fato, os desafios e quais serão esses grandes embates onde nós estamos metidos aqui na Esalq, que de fato, faz parte desde o início, do começo dessa agricultura do Brasil e que são várias (agriculturas), se voltarmos em 1901, certamente em cada momento da história, essa casa (alunos e ex-alunos da Esalq) –  eu diria que 50% tivesse a certeza de que aquela agricultura que estava sendo feita era o melhor que se podia fazer, era a melhor maneira de se fazer e os outros 50% talvez tivessem debatendo. Será que é isso mesmo? Será que não precisamos olhar algo diferente seja sob a ótica de tecnologia seja sobre a ótica do território? E com isso nós fomos, então, aos desafios e, enfrentamentos, construindo o que o Brasil é hoje. 

Ontem (primeiro dia da Esalqshow), foi bem lembrado aqui, que o Brasil e os Estados Unidos foram os dois países que fizeram revolução agrícola, um na metade do século passado e outro na segunda metade. Estes países mostraram que a terra, pode e deve e, está sendo a todo tempo gerenciada pela capacidade e inteligência humana”. 

Olhar o futuro

“Xico Graziano lembrou de fato, que as projeções não contribuem para olhar o futuro. Eu talvez contestaria elegantemente: acho que não. Acho que o futuro, nós estamos construindo todo dia e o futuro são daqueles que conseguem contestar o presente. Conseguem de fato sentar numa mesa e debater de uma maneira inteligente as possibilidades, o que pode ser feito”.

O governo liberal de Bolsonaro 

“Trazendo essa discussão para o mundo político, o Marcello Brito tocou aqui na questão liberal. Nós elegemos um governo com uma base liberal. No entanto, o Brasil não é liberal. O Brasil talvez seja ignorante na relação e no conhecimento do que é ser liberal mas, com certeza não é liberal. E nós estamos nesse momento debatendo esse liberalismo. Muita gente está defendendo o liberalismo sem saber o que é. Não sabe a consequência que isso levará pra nossa sociedade. O ponto de vista, hoje, está sendo tratado de uma maneira, como se o ponto de vista diferente, se tratasse de um inimigo. O modelo liberal não tem a igualdade como o seu pilar e sim, a liberdade. Cada um deve fazer aquilo que lhe compete da melhor maneira com responsabilidade. De maneira geral esses dois mundos (liberal e não liberal) não estão conseguindo conversar, não estão respeitando-se, não estão tentando entender como achar um caminho do meio. Acredito que o caminho do meio é o futuro, onde nós conseguiremos como sociedade colocar o Brasil numa posição melhor do que a que a gente tem hoje”.

Os desafios do Agro

“Quais são os desafio para o Agro que foram colocados? Inovação, infraestrutura, mercados, política agrícola. São temas técnicos, amplos, que nós temos debatido no Agro ao longo do tempo. No entanto, eu diria que a inovação, a infraestrutura e os mercados são temas, são premissas, são fatos do negócio. Eu diria que o grande desafio hoje, do Agro não é a domesticação da tecnologia, a descoberta de novas tecnologias. Mas sim, eu acredito que o grande desafio que nós temos são divididos em: gestão e governança e, isso está levando a desigualdade. Uma desigualdade que pode ser olhada por um lado positivo para aquele que tem gestão financeira, que tem gestão de pessoas, que tem gestão dos ativos, tem gestão de risco, está seguindo a diante. Está consolidando. Tem acesso a crédito, tem acesso a mercados. E a gestão, obviamente traz a governança, porque traz a responsabilidade junto com ela. 

Temos que mostrar cada vez mais que o Agro Brasileiro é o Agro Brasileiro porque ele não fez a sua evolução por regulação mas sim, por inovação. Foi através da inovação e do desafio do impossível que nós construímos o que nós construímos. Quantas famílias passaram por essas cadeiras aqui, cujos pais, os avós, dividiram as fazendas com a cabeça de quê: ‘você vai ficar com a fazenda de cultura então, você está privilegiado, vou deixar um pouco mais de cerrado para o seu outro irmão’. E hoje, muitos desses outros irmãos que foram de alguma maneira negligenciados ou foram acomodados se fizeram e tiveram gestão no seu negócio estão muito melhor. A história mostra que o futuro precisa ser olhado com várias lentes e não só a lente do presente. Porque as técnicas agrícolas que nós faremos no futuro certamente elas mudarão. Nenhum dos ciclos do Agro que nós passamos, terminaram por falta de produto, nem o ciclo do café, nem o ciclo da borracha, nem o ciclo da cana de açúcar e nós temos que olhar qual é o ciclo que nós estamos vivendo. Esse ciclo também passará. Certamente o ciclo da quantidade chegará ao seu fim. Nós vamos partir para o ciclo da qualidade. Que qualidade é essa? É o alimento como um remédio”. 

O alimento como remédio 

“A minha visão é que cada vez mais a tecnologia será incorporada por meio da agricultura, pra que a gente possa ter uma alimentação, que ao mesmo tempo alimenta e, ao mesmo tempo te mantém são. A minha visão do futuro é que nós teremos um supermercado muito parecido com uma farmácia de manipulação, onde você terá a sua receita e, vai entrar e comprar um produto que vai ter a especificação mais próxima da sua receita. Se você for mais rico, você vai mandar fazer uma alimentação específica pra você, com proteínas e carboidratos. Se você não tiver essa capacidade de compra, você vai até a prateleira e compra o produto mais ou menos parecido com o que os seus exames dizem. Quando a gente escuta isso acha que é impossível. Porque não vamos deixar de comer carne no futuro. Se voltássemos em 1901, se a gente fala que vai comer gafanhoto seria considerado uma loucura. Mas você não pode pensar no animal mas, se você pensar que terá um fluido, terá uma barrinha, um componente com uma série de proteínas e diferentes das que temos hoje, é possível. Será de fato? Acontecerá? Não sei”. 

Xico Graziano e Gustavo Junqueira

Precisamos de um projeto

“A questão da gestão e da governança é onde eu trago um outro elemento que é de homogeneidade. O Agro Brasileiro, se tem um setor da economia brasileira que é heterogênea é o Agro. Ele está presente no Brasil inteiro de formas completamente diferente, com mais riqueza, menos riqueza, maior propriedade, menor propriedade, mais e menos tecnologia, trabalho 100% de mulheres em alguns lugares, trabalho 100% de pessoas sem estudo em outro, alta sofisticação de computadores, terra grilada, e o projeto nunca é de todos, como é que a gente faz política pública com esse cenário? Nós precisamos de um projeto, tivemos um lá atrás e, nunca é um projeto de todos, homogêneo. O dia que o presidente (americano John F.) Kennedy colocou o homem na lua, o brasileiro tomou a decisão de colocar o homem no cerrado. Os dois foram bem sucedidos, não só porque conquistaram a lua e o cerrado mas, porque através dessa determinação, desse projeto se criou ecossistemas, tecnológico, com uma parte estatal e com outra privada. Cada vez mais privada nos dois casos. Porque nós temos uma escala pra conseguir fazer no Agro tudo o que é possível ser feito numa economia de mercado. Nós podemos ter uma indústria de investimento em satélites, porque nós temos Agro. Temos escala pra fazer negócios correlatos e assim vai pra biotecnologia, genética e todos os outros elementos da tecnologia que estão dentro do Agro”.

A sustentabilidade 

“Qual é o efeito de nós, de fato, aplicarmos as políticas climáticas nesses nosso debate, o que nós perderemos? Isso depende. Nós temos exigências daqueles países que compram o nosso excedente de produção, um alimento de qualidade, seja matéria prima, seja competição de mercados mas, de fato, a questão da sustentabilidade à luz deles. A essa pergunta eu responderia com um: depende da nossa capacidade de gestão. De fato, incorporar os custos de observância de maneira com que a gente se mantenha competitivo. Nós não podemos fazer a incorporação de uma série dessas políticas sem que nós tenhamos o planejamento correto de inserção desse custo, porque aí sim, nós faríamos algo que eu sou contra, que é criar mercados por regulação. Nós devemos criar mercado por inovação e não por regulação. Portanto, a incorporação desses custos de observância precisam, de fato, ser estudados do mesmo modo que nós conseguimos ir pra terras mais distantes, explorar antes as terras mais férteis. As terras degradadas são por alguma razão, geralmente é uma razão econômica, porque ninguém abandona a sua fazenda porque quer. Nós criamos esse conceito de terras degradadas mas, no fundo são terras que talvez não sejam ótimas para o desenvolvimento ou sejam adequadas economicamente. A questão de incorporação de custos ela é fundamental pra gente entender em como atender esses mercados, as demandas, de uma maneira positiva inovando e criando. de fato. o nosso próprio destino e futuro”, finalizou Gustavo.

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