Nas festas juninas o cardápio das guloseimas tradicionalmente caipira se encontram e o milho não pode faltar, seja curau, pamonha, canjica, milho verde cozido, refogado ou ainda, milho de pipoca, sua versatilidade faz presente acompanhando as celebrações. Enquanto tem milho, tem receita boa na mesa, melhor ainda se for o ano todo pois, não é a toa que existe o Dia Nacional do Milho, comemorado dia 24 de abril. 

Para selecionar as melhores variedades de sementes, obtendo maior produtividade e resistência às doenças e pragas, muitas pesquisas são realizadas, com destaque para o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. 

Em 2022, o IAC irá completar 90 anos de estudos dedicados ao milho pois, implantou no ano de 1932 o primeiro programa de melhoramento de milho híbrido no Brasil, as pesquisas contribuíram para revolucionar o modo de cultivar, colher e consumir o milho brasileiro.

Enviamos perguntas a pesquisadora do IAC, Maria Elisa Ayres Guidetti Zagatto Paterniani, que desenvolve diversos trabalhos com o grão, é através de seus estudos que o milho permanece compondo as nossas receitas culinárias e levando tecnologia aos pequenos e médios agricultores, a pesquisadora afirma,”o programa de melhoramento de milho do IAC busca desenvolver cultivares com alta produtividade, resistência a pragas e doenças e elevada sanidade de espigas”. Acompanhe entrevista; 

O “cabelo” da “boneca” (inflorescência feminina) do milho – Foto:Aquivo IAC

Jornal Pires Rural: Cada “cabelo” da espiga de milho fertilizado pelo pólen resulta um grão de milho, como isso ocorre?  

Maria Elisa Ayres Guidetti Zagatto Paterniani: O milho, Zea mays L., é uma espécie monóica, ou seja, apresenta os dois sexos na mesma planta,  e de fecundação cruzada. A polinização é feita pelo vento e por abelhas. O pólen é produzido no pendão (inflorescência masculina) e durante a polinização é depositado no “cabelo” da “boneca” (inflorescência feminina) do milho. Durante a fertilização, o grão de pólen germina em cada cabelo (estilo-estigma), forma o tubo polínico que vai até o ovário, onde ocorre a fecundação do óvulo e formação dos grãos e de seus constituintes. Assim, cada “cabelo” origina um grão. 

Jornal Pires Rural: As cultivares do IAC e híbridos de milho são transgênicos? 

Maria Elisa Ayres Guidetti Zagatto Paterniani: Não, todos os nossos híbridos de milho IAC são convencionais (não transgênicos). 

O custo da semente é o grande diferencial entre o híbrido intervarietal  e os híbridos simples transgênicos. A semente do intervarietal  (obtido do cruzamento de duas variedades) custa bem menos, refletindo diretamente em  menor custo na implantação da lavoura, uma vez que a produtividade do híbrido intervarietal não difere muito de alguns híbridos convencionais e transgênicos. 

O menor custo da semente é devido à maior produtividade e resistência às doenças e pragas das variedades sintéticas utilizadas como parentais do híbrido e porque não há a necessidade de obtenção de linhagens, o que é um processo caro.  

Maria Elisa Ayres Guidetti Zagatto Paterniani, pesquisadora do IAC em trabalho de campo – Foto:Aquivo IAC

Jornal Pires Rural: Qual é o público-alvo do IAC, vocês visam o produtor que tem qual tamanho de área? 

Maria Elisa Ayres Guidetti Zagatto Paterniani: O programa de melhoramento de milho do IAC busca desenvolver cultivares com alta produtividade, resistência a pragas e doenças e elevada sanidade de espigas. Esses híbridos convencionais, isto é, não transgênicos, são direcionados ao mercado de média tecnologia para atender pequenos e médios produtores que atuam em nichos de mercado. “Trabalhamos para oferecer novos tipos de híbridos intervarietais e cultivares de milhos especiais para a alimentação humana”.

Considero que o tamanho de área não seja o que diferencia o público prioritário do nosso trabalho. Procuramos atender os produtores que exploram os nichos de mercado e aqueles com menos recursos para investimentos em insumos. O produtor de milho orgânico também é atendido, já que na agricultura orgânica não é permitida a utilização de cultivares transgênicas. 

Além de cultivares para atender o mercado de grãos, o IAC dispõe de cultivares de milho pipoca e de milho para produção de milho verde, os quais têm sido demandados por agricultores de outros estados, além de São Paulo, para implantação de pequenas até extensas lavouras. O programa de melhoramento de milho pipoca, coordenado pelo colega e pesquisador do IAC, Eduardo Sawazaki, é um dos mais importantes do país e tem lançado cultivares de elevada qualidade e alta capacidade de expansão da pipoca.

Jornal Pires Rural: No que se baseiam as pesquisas científicas do Programa de Melhoramento de milho do IAC?

Maria Elisa Ayres Guidetti Zagatto Paterniani: O objetivo do Programa de Melhoramento de milho do IAC já foi explicitado. Obviamente, cada tipo de milho (milho grão para ração animal, milho verde, milho pipoca, milho branco, etc.) demanda um processo de seleção diferente de caracteres específicos, em função dos tipos de grãos e do consumo serem diferenciados. Para milho grãos há maior interesse em milhos mais duros e alaranjados; para milho verde, de grãos mais moles e dentados, de espigas maiores; no milho pipoca, são selecionados materiais de alta capacidade de expansão, etc. A variabilidade genética é conservada em Bancos de Germoplasma.  

Todo o projeto de pesquisa é fundamentado em hipóteses, que são comprovadas cientificamente em ampla experimentação de campo no Estado de São Paulo, nas unidades da APTA e da Fazenda Santa Elisa, no IAC. No caso do nosso programa de melhoramento, os objetivos são baseados em demandas reais, para atendimento dos produtores de milho e de milhos especiais. 

Jornal Pires Rural: Qual a história e importância do trabalho para a preservação do Bancos de Germoplasma de milho? 

Maria Elisa Ayres Guidetti Zagatto Paterniani: O trabalho de preservação de Bancos de germoplasma é fundamental para os programas de melhoramento de milho e para a manutenção da variabilidade genética desse cereal, que é enorme, e deve ser mantida para as gerações futuras. 

O IAC teve o primeiro programa de Milho híbrido do Brasil, em 1932. No Banco de germoplasma temos desde variedades antigas até gerações avançadas de híbridos de empresas, que já não são encontrados no mercado. As populações, bem como as variedades crioulas, são fontes de genes para resistência a pragas e doenças, estresses como seca, calor, cor  e tipos de grãos, etc., a serem utilizados futuramente em diferentes programas de melhoramento genético. 

Todo o trabalho de manutenção de germoplasma é feito pelos dois melhoristas de milho, através de polinizações manuais, todos os anos, para manutenção da viabilidade de germinação das sementes, que são mantidas em câmaras frias no IAC. 

Jornal Pires Rural: Como o IAC tem trabalhado para se chegar em janelas de colheita mais amplas e maior tempo de prateleira para o milho verde e outras variedades? 

Maria Elisa Ayres Guidetti Zagatto Paterniani: O milho verde é um produto altamente perecível. Por isso, em seu melhoramento genético devem ser buscadas janelas de colheita mais amplas e maior tempo de prateleira. Para o consumidor, as características desejáveis neste produto são: sabor adocicado dos grãos, que também devem ser amarelos e bem empalhados, envoltos em casca fina e com facilidade para soltar os “cabelos” da espiga. Os trabalhos de pesquisa nesse sentido estão em andamento e os resultados ainda não foram publicados. 

O IAC lançou recentemente o híbrido IAC 8053, destinado para milho verde, ou para confecção de bolos, curau, pamonhas e sucos. Os atributos da espiga são ideais para uso na culinária. Os grãos são grandes, cor amarelo claro, espigas grandes com fileiras retas que facilitam a retirada do cabelo e casca fina.  

Jornal Pires Rural: A parceria com empresas privadas produtoras de sementes, interessadas em fazer produção e licenciar as variedades desenvolvidos pelo IAC acontece desde quando?

Maria Elisa Ayres Guidetti Zagatto Paterniani: Esse trabalho de parceria não tem só o propósito de divulgar as pesquisas do IAC. Para isso, temos os artigos científicos, Congressos, Dias de campo, etc. As parcerias público-privadas têm por objetivo a produção comercial em larga escala de nossos híbridos.

O primeiro híbrido intervarietal, IAC 8333, foi lançado no mercado em 2010, o IAC 8046 e 8077 foram registrados em 2012, e desde então ocorrem projetos eventuais de parceria com empresas de sementes, junto à Fundag (Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola), o mesmo ocorrendo com milho-pipoca.

foto:Arquivo IAC

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