A fruticultura é um modelo de produção muito incentivado na cidade de Socorro (SP). A extensão rural conta com técnicos especializados, a prefeitura mantém uma comunicação próxima aos produtores, bem com uma estrutura funcional com a manutenção de um espaço de uso diário pelos agricultores, sem falar do cuidado todo especial com a atividade pelos agricultores, chegando a ser uma vocação da cidade. 

Uma fruta que despontou na área rural do município foi a pitaya, para relatar sobre o cultivo, tratos culturais e suas variedades, visitamos o produtor rural Zé da Pitaya no sítio São João, bairro Camanducaia de cima, área rural de Socorro. 

O Zé da Pitaya pretende converter sua propriedade rural em agricultura orgânica, está recebendo a visita de técnicos para vistoriar o local e conduzir para o enquadramento no SPG (Sistema Participativo de Garantia da produção orgânica), onde explicam o funcionamento da certificação orgânica, as auditoria e OCS (Organismo de Controle Social), além das vantagens e desvantagens dos sistemas de certificação. Se o produtor aderir ao Sistema Participativo, recebe todas as orientações e normas que devem ser seguidas por ele e seus familiares. Para ir adequando a propriedade, no caso da fruticultura é preciso esperar a carência de 18 meses antes de receber a certificação orgânica SPG.

O agrônomo Hiromitsu Gervásio Ishikawa atravessando a ponte improvisada, observado pelo produtor José Franco de Moraes tendo afundo, atrás da casa, o pomar de pitayas
O agrônomo Hiromitsu Gervásio Ishikawa atravessando a ponte improvisada, observado pelo produtor José Franco de Moraes tendo ao fundo, o pomar de pitayas

O sítio São João fica distante uns 30 minutos do centro da cidade. Zé da Pitaya já nos aguardava para conduzir pelo caminho até sua casa. Servindo de passagem, havia uma uma ponte improvisada com dois troncos de eucaliptos. Devido as fortes chuvas no final do ano a antiga passagem foi levada pela correnteza e a nova ainda não ficou pronta. Os sete metros de altura do curso d’água parceria trinta, mas devagar e com equilíbrio tudo se vai, o segredo é não olhar para baixo. 

Zé da Pitaya, Zé Cará ou melhor José Franco de Moraes é casado com Dona Rosina. Ele contou que é conhecido na região como Zé Cará desde criança, por causa do peixe. “Tinha um senhorzinho que pescava no córrego que passa aqui, e só pescava lambarizinho. Eu, quando chegava só pescava aqueles bitelão. O senhorzinho ficava doido e começou a me chamar de Zé Cará, aí pegou o apelido”, revelou, então, passamos a chama-lo de Zé Cará. Ele completou dizendo que é nascido e criado na propriedade de três alqueires, “onde não é pomar de fruta, é pasto. Então, aproveito 100% da área do sítio. Esses cavocados (terraplanagem e escavação), era para estar pronto. Demorou três anos para liberar o projeto e agora já está com um ano de atraso no serviço. Daqui a pouco eu já estarei produzindo peixes”, afirmando que fez um projeto para armazenamento de água e piscicultura, num total de cinco tanques. 

Pitaya de polpa branca recém colhida

A fruta-do-dragão

Sobre o cultivo de pitayas Zé Cará nos conta, “a pitaya veio do nada. Um rapaz comprou madeira minha pra plantar pitaya e depois não conseguia me pagar. Aí, fui pegando em boi e outras coisinhas, chegou numa altura ele disse; ‘tenho mudas de pitaya. Leva pra terminar a dívida’. Naquela época peguei 200 pés de pitaya. Plantei 80 pés num cantinho do sítio e fui aumentando e mudando de lugar, aos poucos. Isso já tem 15 anos”, falou. 

Pertencente à família Cactacea, a pitaya ou pitaia ou ainda fruta-do-dragão (dragon fruit), ela tem ganho espaço nas propriedades produtoras e nas gôndolas dos hortifrutis. Chama a atenção sua cor vistosa e sua forma exótica, o sabor é suave e adocicado, com muita suculência. As variedades cultivadas no sítio do Zé Cará são de polpa branca e polpa vermelha, são 350 pés de cada espécie, ambas apresentam casca na coloração vermelha. “Tenho uns pés da variedade amarela que estão desenvolvendo ainda. A amarela aqui na minha região se desenvolve muito lento, tenho uns cinco pés que plantei há três anos e até agora não colhemos nada. Eu acho que pitaya vai, se der bem com o lugar”, cita.

Descritas como plantas perenes, crescem como trepadeiras em copas de árvores, muros e até mesmo pedras. No plantio comercial são conduzidas por mourão de 1,5 m até 2 metros de altura, fazendo um suporte no topo, em forma de cruzeta para a formação da copa. Tem caule repleto de espinhos e flores grandes, brancas e aromáticas. Com a abertura noturna de sua flor, ela dura apenas uma noite e, se não houver polinização, não ocorre a produção de frutos. Com três anos a planta entra em sua melhor fase produtiva, chegando a produzir de 180 a 200 frutos por pé.

Perguntamos a Zé Cará se conhece a procedência da fruta, ele destacou que foi “num encontro de pitaeiros em Lavras (MG), juntou gente de todos os estados. Veio gente de fora do Brasil e ninguém cravou de onde ela é. Tem pitaya que ainda é desconhecida. Já ouvi dizer que é Asiática e outros falam que é da Bolívia”, apontou.

A esquerda pé de pitaya de polpa vermelha e a direita pé de pitaya de polpa branca

Polinização

Sobre as características e os cuidados com o manejo das pitayas ele cita, “é uma fruta que dá cruzamento, felizmente. Tenho uma variedade vermelha e, se eu não cruzar com pólen da variedade branca a fruta sai pequena. No cruzamento, feito manualmente, a fruta chega numa média de 750 gramas. Como a floração é noturna, trabalhamos no final da tarde encapando as flores com um copo plástico descartável, se não as mariposas e outros insetos comem o pólen e não acha mais. Por volta das oito da noite, quando abre totalmente a flor, nós retiramos os copos e catamos o pólen. No outro dia, no meio da manhã, na hora que está começando a murchar a flor fazemos a polinização com a ajuda de um pincel. Não faço muito cedo, quando as abelhas estão trabalhando, porque elas retiram o pólen que nós colocamos”, detalhou.

Pomar de pitaya todo florido, ao fundo, atrás da casa

Colheita

“Começamos a colheita em dezembro e vai até maio. Aqui (as safras) quase se encontram, começa uma e vai escalando, com a florada a cada semana. Tem pitaya que foi colhida hoje, tem fruta no ponto pra colheita daqui dois dias, tem pitaya verde pra semana que vem e tem botãozinho, nisso vai dando sequência durante o ano com as outras frutas. Não é todo lugar que se consegue esse tipo de produção, estou com florada na sequência, tem região que não tem nenhuma ainda e, nem tem como explicar porque isso acontece. Geralmente faço uma colheita de mil quilos da fruta na semana, que chegam a duas mil unidades. Cada caixa cabe mais ou menos quarenta e cinco frutas, o peso varia de 22 a 30 quilos. Vendendo no “limpa pé” (todo tipo de fruta, miúda, médias, bonitas, feias) sai a R$6,00 o quilo, dá uma média de R$140,00 a caixa. Se der uns quatro quilo de descarte na colheita é muito”, destacou. 

Pés de pitaya com flores abertas e carregado com frutos

Outra questão que Zé Cará foi percebendo no cultivo da pitaya é referente ao suporte, “os pés mais velhos eu tive que arrancar porque usei uns mourão meio fraco e depois de sete anos começou a cair e, não compensava tentar levantar o pé. Quando eu mudei de local, coloquei cimento na base do mourão, só que o cimento esquenta com o sol e queima a raiz da planta. O mourão de concreto não é bom porque apodrece rápido. Mourão tratado também não funciona, o produto que usam para tratar a madeira queima a raiz da pitaya. Daqui pra frente eu vou usar dormente dos trilhos de trem. Pelo que o povo comenta é uma madeira de seus setenta anos, acho que pelo menos aguenta mais uns vinte anos segurando um pé de pitaya”, comentou. 

Usando uma corda para amarrar dois suportes; um mourão de concreto e outro de madeira, para sustentar e conduzir o pé de pitaya, ao lado

Carro chefe

Além da produção de pitayas, Zé Cará tem outras frutas como atemoia, uvas Niágara “em alta produção” e abacates “começando a produzir”, diz que pretende plantar mais da variedade avocado. Contudo, “pra nós aqui a pitaya é o carro chefe das frutas. Quando sai uma florada boa, a colheita é diária. Estou vendendo para uma pessoa de Santo Antônio de Posse (SP), que depois distribui nos mercados. Ele virá buscar no domingo a tarde, porque até lá tem umas verdes atrasadas para colher, aí ele carrega e leva tudo. Também vendemos participando da licitação para merenda escolar em três cidades, Pinhalzinho (SP), Águas de Lindóia (SP) e Socorro. Acredito que se eu entrar com plantio orgânico eu ganho mais cidades para entrega na merenda escolar”, avaliou.

Dona Rosina, José Franco de Moraes e o agrônomo Hiromitsu Gervásio Ishikawa, com a plantação de pitaya ao fundo




Uns contos

Durante nossa visita na propriedade de Zé Cará, percebemos que ele conta com maior alegria seu cotidiano no sítio, gosta de narrar os fatos curiosos que acontecem. Desses fatos curiosos vale a pena citar dois, para compreender o pensamento do homem do sítio. Com a palavra Zé Cará;

Quando a espiga de milho fica com a ponta para baixo, a maritaca não pega mais

As Maritacas;

“Tinha um bando aqui de duzentos a trezentas maritacas voando. Nesse pedacinho aqui, em uma semana elas comem tudo o milho plantado. Eu estava conversando com um amigo que me disse, ‘a maritaca não aguenta chegar o milho, ela come tudo antes mas, a hora que o milho madura e vira a espiga elas param de comer’. Então, se virando a espiga param de comer eu vou “adiantar” a espiga, aí fui e arrebentei tudo. E, deu certo! Quando a espiga ainda é milho verde, fica apontando para cima e depois que a espiga seca, naturalmente ela se dobra, com a ponta ficando para baixo. Se fica dobrada, a maritaca não pega mais. Depois que eu fiz isso não teve mais nenhuma espiga comida. Para pouca coisa plantada, como é o meu aqui, dá pra fazer, agora se for quantidade, já é difícil. É proibido soltar bomba ou rojão, dá uma baita de uma multa”, relatou.

Zé da Pitaya e seu pé de pêssego branco

O Pêssego;

“Se eu contar essa história você vai dar risada. O porta-enxerto da ameixa é num pé de pêssego, daquele branco que solta caroço. Eu deixei crescer porque o enxerto de pêssego tava bonito, com umas flores bonitas. Pensei, vou deixar produzir, depende do pêssego que for deixo, nem que morra o pé de ameixa, não ia ter problema. Interessava mais no pêssego do que na ameixa. Aí, deu um pêssego bitelo, parecido com aqueles amarelão (da lata de doce), mas só que eram brancos. Quando madurou, eu achei meio estranho que o passarinho não tinha comido. Passei um dia e catei um pêssego madurinho, meti o dente! Pensa num negócio azedo! Falei, isso não é possível, acho que não madurou de acordo. Deixei passar mais um tempo, tinha mais uns vinte pêssegos. Falei pra minha mulher catar e fazer um doce, pra ver se fica bom no doce. Nossa, você corta o pêssego no meio, o caroço pula, ele é solto. Aí, ela colheu tudo, fez a calda, certinho, caprichou no doce. Rapaz!! Quem comia aquele doce de azedo? Nem com muita açúcar, de jeito nenhum teve jeito. Depois, tava comentando com os amigos, um deles falou, ‘esse pêssego que você está falando que é porta-enxerto, ele aguentou aquelas bombas atômicas no Japão. Foi o único que não morreu o pé’. Falei, caramba!! Por isso que o bicho é tentado!?”.

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