Jornal Pires Rural – Edição 228 | LIMEIRA, Maio de 2019 | Ano XIII

Edilson Giacon relata sua experiência como viveirista, atividade que aprendeu com seu pai, pertencente a umas das famílias mais tradicionais nesse ramo da agricultura de Limeira. Hoje, Edilson é referência em produção de mudas e métodos de propagação de espécies nativas e exóticas.

Edilson Giacon, viveirista (clique na imagem para ler mais)

Recordando como era o foco do trabalho Edilson diz, “em 1970 no viveiro do meu pai – ele já formava mudas desde meados de 1950 – com quatro anos idade eu comecei acompanhá-lo na roça. A gente aprendeu, tanto eu como meus irmãos e meus primos, que o trabalho no viveiro de mudas era formar bastante mudas – especialmente laranja, manga e abacate – e depois arriscar, pra ver se no futuro essas plantas estariam com um bom valor. A gente torcia para dar uma geada na Flórida (no caso das laranjas), torcia para o governo fazer uma lei pra liberar novas áreas de plantio – na época tinha uma região muito grande do país, vários estados estavam afetados pelo cancro cítrico, portanto, proibido o plantio. Então, somente quando acontecia isso, se conseguia, na realidade, ter lucro. Mas, como acontecia uma vez a cada dez anos ou um pouco mais, quando tínhamos lucro, tínhamos  que investir em irrigação nova, caminhão, trator, implementos, ou até comprar uma nova área para plantar. Tínhamos a esperança que no ano seguinte teria um pouco de lucro e não acontecia”, relembra. 

Com o tempo Edilson começou a conhecer os macetes para as coisas darem certo no viveiro, “eu fui vendo que tinha algumas variedades, que alguns clientes, pediam para a gente enxertar. Por exemplo, todos estavam enxertando laranja pera e outras espécies mas, vinham pedir laranja barão, laranja seleta, uma mexerica que uma pessoa trouxe de Santa Catarina que dava um fruto doce. Antigamente, a gente podia enxertar as plantas porque não tinha muito legislação que impedia. Essas mudas tinham um ótimo valor comercial. As plantas diferentes você tinha enxertado para um cliente mas, atraiam outros, de outros estados. Eu pensei, preciso divulgar. na época, o melhor meio que existia era os Correios e, começamos a enviar cartas. Mas eu mandava cartas aleatoriamente e não tinha um resultado muito bom. Até que percebi, que os técnicos da Cati de Limeira vinham até o viveiro e, às vezes, indicavam clientes. Pensei ‘se eles indicavam, vou ver se existia um catálogo com o endereço das Casas da Agricultura do estado de São Paulo’. Consegui uma relação completa de todas elas. Imprimi listas com as variedades de plantas que eu tinha e comecei a enviar pelos Correios. Isso me deu um bom retorno. 

Depois de um tempo, com o sucesso da divulgação através das Casas da Agricultura, tentei outros locais públicos, órgãos confiáveis e enviei para a Emater – MG e órgãos do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. No final as correspondências foram para todo o Brasil. 

Esse investimento na divulgação trouxe além de clientes, bastante credibilidade para o viveiro, para as mudas. Porque quem estava indicando pra vir comprar em Limeira, no nosso viveiro, eram engenheiros agrônomos, técnicos ligados ao governo. Eles não se arrependeram de indicar porque sempre procuramos trabalhar com mercadoria correta, formar mudas de qualidade e estamos até hoje no mercado”, informou. 

Edilson Giacon e o filho Gustavo
Edilson Giacon e o filho Gustavo – Clique na imagem para assistir

Plantas nativas

“O caqui da restinga é uma planta muito rara na natureza, a informação que tem na internet é nossa e serve de referência (além de mais uma ou duas). Essa fruta apresenta uma casca peludinha, fica avermelhado quando maduro e por dentro ele tem uma massa amarelada. Só que tem um problema, ele produz frutos tendo uma única planta mas, ele não dá sementes. Pra ter sementes é preciso plantar de três a quatro mudas para ter polinização cruzada. Agora eu providenciei mudas novas e estou plantando. A pessoa que me arrumou essa muda, também tem apenas uma planta e não sabia da necessidade de polinização cruzada. Uma forma para poder produzir sem sementes seria tentar enraizar um pequeno galho – uma técnica meio difícil mas, é possível. O caqui da restinga trata-se de uma planta indicada para reflorestamento de áreas litorâneas”, ele destaca. 

caqui da restinga
Caqui da restinga

“Há dez anos atrás (aproximadamente) eu tinha um cliente que que vinha comprar muitas plantas diferentes para uma coleção. De início, ele começou a comprar mudas cítricas – já com umas cinquenta a oitenta variedades de cítricas, começou a procurar mais variedades na Estação Experimental de Limeira (hoje Cordeirópolis). Depois ele ampliou sua coleção para frutas diversas. Passado um tempo ele veio conversando comigo sobre a proposta de formarmos a Associação Brasileira de Frutas Raras, achei bem interessante. Fomos amadurecendo a ideia e reuni um grupo com muitos colecionadores pelo Brasil. Um colecionador bem famoso é o Helton de Campina do Monte Alegre, SP, que faz um lindo trabalho de preservação. Temos colecionadores espalhados para fora do Brasil também”, Edilson revelou. 

Outra peculiaridade destacada por Edilson são as novas descobertas, “é interessante que a gente descobre que é nativa do Brasil, como foi o caso da planta fruto do Imperador e, teve que buscar, inicialmente, as sementes na Austrália por que ela foi considerada extinta no Brasil”, exemplificou.

Edilson comenta que formaram a associação, “eu sou sócio fundador – junto com o Dr. Sérgio Sartori, presidente na época e continua até hoje. Temos associados que colecionam jabuticabas,  um do estado do Rio de Janeiro e outro do estado de São Paulo, na cidade de Casa Branca- a maioria das pessoas conhecem de três a cinco espécies de jabuticabas – que chegam a ter oitenta espécies. Outra pessoa muito importante na associação é o Harri Lorenzi, do jardim botânico Plantarum, de Nova Odessa, SP. Seus livros são obras fantásticas para a identificação de plantas. E, formando a Associação – na primeira reunião há dez anos, formada a diretoria é feito o Estatuto – melhorou muito a venda e a procura de espécies raras. Eu sempre gostei de formar mas, ninguém conhecia essas plantas. Hoje, eu tenho em torno de quatrocentos a quatrocentos e cinqüenta espécies de frutíferas em geral mas, dá pra chegar a três mil espécies de frutas”, descreveu. 

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