Carmen Cristiane da Silva, Médica Veterinária, graduada pelo Centro
Universitário Unifian no ano de 2007. Especialista em atendimento
médico domiciliar. Atualmente realiza atendimento clínico domiciliar
em São Paulo capital, Limeira e região.

A pandemia trouxe uma nova perspectiva de vida, uma análise de vida bem desafiadora para todos nós. Não só no âmbito socioeconômico, mas principalmente no âmbito relacional, emocional.

Inicialmente, acreditava-se ser momentâneo, passageiro, contudo, nos deparamos com o tempo passando e a necessidade de readaptarmos, remodelar e criar novos condicionamentos que no fundo, nos fizeram crescer e evoluir nos tirando da nossa zona de conforto. O que fortaleceu e provou mais uma vez que a capacidade humana pode ir além do imaginável. Mas como a pandemia e tudo isso influenciou na rotina dos pets e seus tutores?

Economicamente falando, o mercado pet contrariou os demais segmentos crescendo cerca de 30%. E acompanhando este crescimento, em 50% vem a procura de pets para adoção. Ou seja, aqui temos um RX do perfil brasileiro, um perfil que aprecia uma boa companhia e que tem dificuldades em lidar com a solidão.

Observamos três grupos, três cenários curiosos que nos trazem aprendizados valiosos. A pessoa que vive sozinha, que se relaciona fortemente com o trabalho, tendo as demais relações como opcionais ou oportunas. As famílias que tem seu pet de estimação, ocupando um lugar especial. E aquela família que tem um pet de estimação, na qual ele tem seu lugar como pet, animal, contudo vai descobrir seu valor estimado verdadeiramente na pandemia.

O primeiro grupo, este, que na maioria das vezes estava em casa apenas para pernoitar, se viu diante de uma nova rotina solitária e isolada, a qual trouxe-lhe muita angústia e inseguranças diante não só da situação pandêmica, mas também diante do desafio de lidar com sua única e exclusiva companhia. O pet neste caso, chega como o companheiro perfeito, suprindo emocionalmente estas fragilidades humanas e ganhando a oportunidade de um lar, uma nova chance e um lugar especial no coração de alguém.

Por outro lado, temos o pet que já faz parte da família, o qual é tratado como filho, que é mimado e muitas vezes exageradamente superprotegido e cuidado. Este pet durante a pandemia ganha na loteria, os risos, os brinquedos diversos, os petiscos variados, as visitas ao veterinário aumentam, objetivando mais cuidado. E ele ganha muito mais qualidade com a presença e interação com a família. Este pet possivelmente não sentirá tanto a volta da rotina familiar quando a pandemia acabar, já que tudo isso já fazia parte da realidade de vida dele.

Quanto ao último grupo vive um desafio diário, o pet já faz parte da família, contudo ele é tratado como pet, e não tem nada de errado nisso! Porém, quando essa família se vê em isolamento social, todos em casa obrigatoriamente isolados, ou parcialmente isolados, este pet que ficava sozinho durante o dia, enquanto as crianças estavam na escola, ou na casa das vovós e vovôs para que os papais trabalhassem, ele tem sua rotina completamente alterada. Fazendo com que ele manifeste com mais ênfase alguns comportamentos que os tutores achavam que aconteciam somente quando estavam na presença deles. Ter a família toda em casa, traz ao pet um movimento de companhia, a qual ele não tinha, o que aproxima emocionalmente tanto a família quanto o pet, resultando muitas vezes em dificuldades para lidar com tais comportamentos.

A pandemia trouxe alterações comportamentais, muitas vezes de fundo emocional, ocasionada, por exemplo, pela restrição aos passeios. Trouxe também apegos emocionais a uma pessoa da família, a qual ganhou ou enfatizou a preferência, gerando disputas e alguns casos agressividade. Nestes casos alterações de manejo, estabelecendo uma nova rotina, entretenimento ao pet e até introdução de terapias alternativas como florais, aromaterapia, trazem grandes resultados e benefícios para todos. 

O pet que só era acompanhado normalmente no final do dia, quando a família chegava em casa, este ganha a oportunidade de receber atenção e cuidados médico mais imediato, precoce em situações patológicas como por exemplo, em quadros dermatológicos, coceiras, irritação de pele e ouvidos. Ou em quadros gastrointestinais, tão comum na clínica médica, vômitos e diarreias. 

Tanto para este pet, quanto ao pet do primeiro grupo, quando a rotina do lar voltar, eles precisarão de atenção e de certa forma de um “desmame” desse excesso de presença, para que não sofram danos emocionais, que podem trazer prejuízos comportamentais e de saúde. Se faz importante estar em comunicação com o veterinário de confiança, para que estabeleçam juntos uma nova rotina sustentável, desta forma o animalzinho não voltará aos velhos hábitos e conseguirá manter a qualidade de vida.

Os benefícios adquiridos durante a pandemia, foram para todos, o pet e os humanos, privilegiados. Contudo, em todas as situações de crise, uma estatística ganha força, a do abandono e denúncias de maus tratos. Com a perda do emprego, algumas famílias não tiveram condições de manter suas moradias, com a restrição do básico vem a opção, com a escolha, os pets indefesos terminam na rua a própria sorte. Com o falecimento de seus tutores em decorrência da doença, algumas famílias conseguem realocar os pets dentre os próprios familiares, porém, nem todos têm a mesma sorte, sendo levados para abrigos e destinados para adoção ou até mesmo abandonados. E a situação avassaladora de maus tratos que lidera o ranking, qual sempre injustificáveis.

Como mencionei no início, a pandemia nos trouxe muitos aprendizados e o maior, sem dúvidas, é que todos necessitamos uns dos outros, sejamos humanos ou animais. E que eles independentemente da situação, sempre nos oferecem o seu melhor, o seu mais supremo amor, seja lá em qual for o desafio que enfrentamos.

Os animais são vidas, vidas inocentes que merecem cuidados e atenção, que merecem nosso respeito e nossa dedicação.

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