O termo agrotóxico no Brasil
Jornal Pires Rural – Edição 227 | LIMEIRA, Abril de 2019 | Ano XIII

Fomos conversar com Luiz Oda Honma, engenheiro agrônomo responsável pelo centro de pesquisa Agro Cosmo, em Engenheiro Coelho, a respeito do uso abusivo de agrotóxicos na prática agrícola. 

Agro Cosmo, em Engenheiro Coelho
Luiz Oda Honma, engenheiro agrônomo responsável pelo centro de pesquisa Agro Cosmo, em Engenheiro Coelho

Historicamente, a utilização de agrotóxicos na agricultura se inicia na década de 1950, nos Estados Unidos, com a chamada ‘Revolução Verde’, que teria o intuito de modernizar a agricultura e aumentar sua produtividade. No Brasil, esse movimento chega na década de 1960 e, com a implantação do Programa Nacional de Defensivos Agrícolas (PNDA), ganha impulso na década de 1970. O programa vinculava a utilização dessas substâncias à concessão de créditos agrícolas, sendo o Estado um dos principais incentivadores dessa prática. O termo agrotóxico passou a ser adotado no Brasil a partir da Lei Federal nº 7.802, de 1989. É comum o uso de agrotóxicos na agricultura, não somente em nosso país, como ao redor do mundo. Geralmente usados para evitar algum tipo de praga em uma plantação, esses produtos acabam sendo utilizados inadequadamente, gerando riscos à saúde das pessoas. As mortes e intoxicações pelo uso desses produtos acabaram tornando-se um grande problema de saúde pública. Abordamos essas questões com Luiz Oda Honma especialista em testes com produtos agroquímicos realizados na unidade do centro de pesquisa. Acompanhe a seguir como o engenheiro agrônomo lida com o tema agrotóxicos. 

O que é o mau uso de agrotóxicos na agricultura? 

Oda: Há vinte anos atrás, um produto dava conta de uma série de problemas (que atingisse a planta) na agricultura. Hoje, devido ao resultado da resistência das pragas à aplicação de defensivos é necessário o uso de produtos específicos para cada alvo, onerando ainda mais a produção agrícola. O produtor está tendo problemas com tal praga então, a indústria vai desenvolver produtos para tentar controlar determinada praga. O mau uso está naquela situação em que o agricultor faz uso de um produto que não tem registro pra determinada cultura – isso é considerado contaminante. Por exemplo, aplicar um produto no repolho que tem registro para ácaro em cítrus. As consequências disso, na análise que o Ministério da Agricultura faz pode aparecer aquele acaricida, que não tem registro, e ser considerado o uso de produto contaminante. Contaminante é tudo que é diferente do que deveria ter. 

Um produto considerado contaminante não quer dizer que não pode ser ingerido pelo humano? 

Oda: Não. Por isso aquele relatório, noticiado recentemente, com os contaminantes encontrados na água potável traz uma lista grande de produtos. Aqueles contaminantes estão presentes na água (segundo a reportagem) mas, não quer dizer que se você tomar aquela água você vai ter problemas (com a saúde).  

O mesmo acontece se o produtor fizer uso de um acaricida de cítrus no repolho? 

Oda: É considerado mal uso. Antigamente, as orientações da indústria se restringia à dose de aplicação e os cuidados (com o produto). Hoje, o cuidado que a indústria está tomando frente, é limitar o número de aplicações. Porque esse mau uso acabou complicando a eficácia dos produtos. Quando você faz a aplicação de um determinado produto, é esperado que funcione direito. Mas, se o produtor faz uso desse mesmo produto várias vezes numa sequência muito grande, começam os problemas como resistência – o que matava antes, hoje não mata mais. Vocês já devem ter reparado aquele capim amargoso (com flores brancas) aumentou muito nas áreas. Esse capim nunca havia sido um problema até dez, quinze anos atrás. Aplicava-se o herbicida e matava o capim amargoso. Começou-se a fazer uso com uma frequência de aplicações de determinado produto, muitas vezes no mesmo ciclo e, apareceu a resistência ao produto. São plantas que não sofrem a ação do produto, não se controlam mais. Na época não se teve noção de o uso indevido pudesse dar mais resistência as plantas. Hoje, o rótulo traz a orientação do número de aplicações por ciclo da cultura. Ou então, nunca fazer uso numa sequência deste mesmo produto, sempre alternar um produto de um modo de ação diferente, de uma classe diferente, pra não ter esse tipo de problema. Isso está acontecendo com plantas daninhas, ácaros. Antes, aplicava-se um fungicida que atingia várias doenças, só que hoje, está mais difícil a indústria descobrir um produto que controle uma variedade grande de doenças. Isso encarece a cultura porque a indústria só consegue vender para o controle de três a quatro fungos ou pragas que ela controla. 

A falta de registros para todas as culturas agrícolas é uma realidade no país?

Oda: É. Porque o fabricante não vê oportunidade econômica para isso. Trata-se de culturas que exige, mas não tem. No caso do repolho, da couve-flor, do brócolis e da couve de folha, os órgãos de controle criaram um registro de “cabeça de cultura”. O registrante escolhe uma determinada cultura e registra pra ela e por extrapolação – acaba cobrindo as outras culturas. Para o repolho tem um mercado grande (de produtos registrados) mas, para brócolis e couve de folha, o mercado de produtos com registro é pequeno. Mas tem necessidade. Por isso abriu essa oportunidade, ou seja, o produto abrange a família de culturas (por extrapolação).

A realidade traz um mercado paralelo de defensivos devido ao fato de não ter registro de produtos para todas as culturas? 

Oda: Pode até ter. Ilegal é considerado aquele produto de contrabando que é importado ilegalmente. 

Qual é a diferença entre o defensivo ilegal e o defensivo sem registro? 

Oda:Ilegal quando é proveniente de contrabando, então, contrabando não tem registro no Brasil. Todo produto que não tem registro no Brasil é considerado contrabando. Por isso, parte daqueles municípios que estão próximos da linha de fronteira compram (defensivos) em outro país. 

A burocracia para aprovação de registros de novos produtos retarda ainda mais o processo de aprovação? 

Oda: A burocracia sempre teve. Existe a preocupação na parte ambiental e na parte de saúde. Então, quando é feito o desenvolvimento de um composto novo, já vão fazendo o protocolo de estudos de danos para a saúde e meio ambiente. É o resultado desses estudos que levam as empresas registrar o produto ou não. Se tem problema na parte ambiental ou de saúde, a indústria não leva adiante. É descartado. Por isso que o desenvolvimento de produtos demora de dez a quinze anos para ter um produto registrado. 

Qual é a sua opinião a respeito da liberação de certos defensivos que são proibidos em outros países e liberados no Brasil? 

Oda: Nós, nessa condição de agricultura tropical, o que diferencia é que no Brasil chove muito mais, muito mais umidade e insolação. Isso faz os produtos se decomporem muito mais rápido. Então, o tempo de decomposição dos produtos na Europa é diferente dos daqui. 

Por que existe a resistência dos europeus em não aceitar alimentos que são cultivados com os agrotóxicos liberados no Brasil? 

Oda: É fácil dizer ‘eu quero que vocês produzam mas, não quero que façam uso de tal produto’. Se quer que produza sem utilizar tal produto, eles têm que pagar. Paga-se essa diferença? Trata-se do uso de produtos mais específicos para cada tipo de controle. Antigamente eu usava enxofre que atingia várias pragas. Fazia uso de cinco quilos (do produto), era o suficiente para limpar a lavoura. Hoje não dá mais para usar um só produto para atingir várias pragas.

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