• Artigo de Maroísa Vilalva da Silva, Pedagoga

Todo mundo, não importa quem seja, até aquela pessoa mais calada e introspectiva tem uma relação com a música. Quer ver só?

Na igreja, no rádio, naquele flash de infância em que a mãe cantarolava para o filho durante os afazeres domésticos. E, se fossemos mais longe ainda escutaríamos as canções de ninar entoadas especialmente para nós, uma tentativa de fazer dormir ou acalmar, é claro!

É incrível e inexplicável o poder da música! Segundo os estudiosos, a relação com a música melhora o fluxo sanguíneo regulando a pressão arterial e libera a dopamina. É um santo remédio!

A música também une as pessoas. Independente do gênero musical preferido, quando se ouve uma “moda de viola”, é como lembrar do avô sentado na cadeira no final da tarde contando um causo, e aí, sem querer você percebe que decorou aquele refrão e ele já faz parte de você, está  em suas veias. É lindo! É como se o passado se cruzasse com o futuro e tudo parasse naquele instante! É uma fenda no tempo-espaço.

Neste período de tristeza em que o mundo ficou parado com a pandemia, algumas pessoas  ficaram tristes em dobro, pois não podiam fazer o que mais gostavam: espalhar alegria.

Estou falando dos músicos populares. Aqueles que tocam em quermesses, barzinhos, em casamentos. 

Consegue imaginar um casamento sem música? Uma missa sem música?A música deixa tudo mais interessante e, mesmo diante de todos esses benefícios a sociedade não consegue enxergar e valorizar a profissão músico.

Certa vez, um músico me falou que para ele a música é uma extensão de sua alma e seu corpo. Penso que nestes dias, os músicos sentiram que faltava um pedaço de si, então… Era a boca que não cantava, era o braço que não tocava, era o coração que não vibrava.

A música é uma arte, através de uma dedicação que encanta e contagia, por este motivo deve ser compartilhada, colocada pra fora, valorizada. O público ouve, canta junto, aplaude, mas não sabe a dimensão e a responsabilidade por trás de cada apresentação, como a precisão das notas, a presença no palco, a empatia de sentir as pessoas e criar assim uma ponte de sintonia.

Em nosso país a profissão de músico arrasta um rótulo marginalizado construído culturalmente.

A sociedade não valoriza e desconhece o trabalho e o estudo para aprender a tocar um instrumento ou cantar uma música na afinação correta.

Numa missão mais importante, a música serve como registro de uma época, pois expressa a necessidade daquele momento. Foi utilizada em vários momentos históricos no nosso país através da contestação contra a ditadura militar, expressa na composição das letras nos anos 1964-1985. A insatisfação estava ali, nas entrelinhas.

Aqui em nossa região de Limeira tivemos muitas imigrações de italianos e alemães que  atravessaram oceanos para tentar uma melhor condição de vida. Estas pessoas sofriam, pois quando abandonavam sua Pátria deixavam um pedaço de si. Na tentativa de não perderem suas raízes e abrandarem a saudade, repassavam suas canções e danças para os seus familiares.

Na década de 1980 a 1990, me lembro da dificuldade pra se ouvir uma música. Era um sacrifício sintonizar a rádio milimetricamente para que não tivesse nenhum chiado e assim conseguir gravar aquela música que tocava naquele horário definido. Mesmo com a voz do radialista cortando, era emocionante, e se era.

Os músicos populares de hoje vieram dessa época em que se respeitava todo o processo para se ouvir uma boa música. Hoje, o acesso à tecnologia tem afastado essa apreciação musical. Ver um músico profissional tocando, resgata este esforço e neste processo se percebe como a música é composta.

Nosso município poderia investir mais em espaços e festivais, dando oportunidade aos artistas regionais e ampliando assim o acesso dos jovens a essa realidade.

Nas escolas a música é ensinada de forma distante e superficial, não se estimula a apreciação e a aprendizagem. Como pode cobrar uma sensibilidade e uma postura de um ser humano em desenvolvimento se não lhe damos suporte? É esta pergunta que deixo aqui para reflexão.

Dedico este texto a todos os meus amigos músicos de Limeira que sempre dão seu melhor em qualquer evento e situação. A importância de vocês é imensurável.

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