Atanico e Olga de Oliveira Gonçalves, vieram de Cabo Verde, sul de Minas Gerais, para Limeira, SP, montaram uma “vendinha” no bairro Jardim Barão de Limeira. O impulso do comércio, o empenho em trabalhar para vencer na vida e dar conforto para os filhos na cidade, foi logo aumentando sua freguesia, vendendo fiado, na caderneta. A “vendinha”, se fez mercearia acompanhando o seu tempo e a expansão dos bairros vizinhos como o Jardim Vista Alegre, o Jardim Olga Veroni e Profilurb; tomou a forma do Mini Mercado do Povo. Não contentes apenas com o empreendimento construíram uma padaria ao lado do mercado com a aquisição de terrenos vizinhos, tornando-se um dos maiores comerciantes da região. Estamos falando de uma época que a vendinha atendia os trabalhadores que haviam migrado da área rural mas, continuavam se mantendo como mão de obra rural. Os comerciantes Atanico e Olga atendiam às pessoas simples que sonharam sair da roça com a esperança de melhores oportunidades de trabalho, com o sonho de adquirir a casa própria, tiveram que continuar indo pra roça diariamente a bordo do “caminhão de turma” – um caminhão com bancos de madeira na carroceria, trazia uma cobertura de lona, para abrigar os trabalhadores rurais do sereno e da chuva. O “caminhão de turma” transportava os colhedores de laranjas, de algodão, de cana-de-açúcar; o ponto de partida e de chegada era a vendinha onde também faziam as compras e tomavam café e lanches.

Na foto colorida a primeira construção do mini mercado, na outra foto tem, “a direita o portão de madeira do açougue do Pedrão (ali ele estacionava sua carroça e seu cavalo ficava pastando). depois há ao lado a sapataria do seu Sebastião Lima. Ele conserta calçados, bolsas e cintos. Foi inquilino da minha mãe, acho que por uns 30 anos. A seguir a portinha da mercearia (onde tudo começou) que depois virou mercado e ao lado a padaria”, descreve Silvana.

Silvana Gonçalves, a terceira de quatro filhos do casal mineiro, conta a história da sua família. Ela traz as memórias sobre a Vista Alegre, seu bairro vizinho cujo limítrofe era a rua Pedro Elias. 

O bairro Jardim Barão de Limeira é anterior ao bairro Vista Alegre. No Barão de Limeira o transporte público vinha somente até a Ponte Preta, no começo da rua Pedro Elias, dali o pessoal andava a pé. Com o passar do tempo um novo bairro foi surgindo, foram subindo os chamados “embriões” – era o nome técnico que os engenheiros davam para os projetos das casas quando estavam fazendo o alicerce, não era um único alicerce, imagine vários alicerces subindo ao mesmo tempo – porque na verdade, o Jardim Vista Alegre, hoje é um bairro muito bem conceituado, um bairro de casas populares – um projeto da CDHU -, “que a gente viu nascer assim como o bairro Jardim Olga Veroni, o bairro Tancredo Neves, o bairro Profilurb, e mais recente os prédios do Olindo de Luca; que abriga muita gente também e faz com que cresça toda essa região”, disse Silvana.

Olga de Oliveira Gonçalves

“A gente morava na rua Pedro Elias. A rua do lado de baixo é o bairro Jardim Barão de Limeira e do lado de cima é o Jardim Vista alegre. A Vista Alegre é o projeto da CDHU. O bairro Barão de Limeira era o loteamento do Ludovico Trevisan, uma pessoa de Piracicaba, SP, que loteou essas terras e virou o bairro Barão de Limeira. E a rua Pedro Elias era a linha divisória, na verdade, nós morávamos na rua Pedro Elias que pertence ao bairro Barão de Limeira. Mas pela escritura ela está como Vista Alegre por ser justo na divisa dos dois bairros. É anterior a criação da Vista Alegre por isso a gente assistiu a construção dos embriões, um financiamento de 25 anos, depois da quitação das parcelas foi feito a escritura”, relembra.  

Seu pai, um homem muito trabalhador, ela se recorda, “lembro dele acordar muito cedo e ir dormir muito cedo pra poder ter mais horas de descanso e, por consequência ficava ausente pra gente, entende? Os dois são pessoas extremamente simples, mamãe tinha o segundo ano da escola primário, de roça, ela não era uma mulher estudada mas, era uma mulher extremamente ativa, sábia e muito cheia de vontade. Os negócios foram crescendo, ela, em contrapartida expandiu colocando os meninos pra vender ovos nas cestas no período da tarde, era os ovos da galinhas que ficavam no quintal. Ela pagava os meninos e guardava o dinheiro, com o passar do tempo ela e meu irmão Vanderlei – Lelei, começaram vender móveis. Ela sempre fazia uma coisa ou outra a mais com uma visão diferenciada. Com o tempo eles até montaram a padaria, meu pai ficava no mercado e ela na padaria, porém era tudo junto porque o prédio era vizinho – eles iam adquirindo terrenos por perto, deixaram um patrimônio considerável”, revelou.

Silvana Gonçalves

A simplicidade não ganhava evidência frente ao que era mais forte, as relações de amizade, a confiança, a generosidade entre as pessoas que chegavam para residir na região. Era muito fácil conhecer todos, saber quem era filho de quem, quem constituiu matrimônio com quem. O que as pessoas traziam dentro de si e externavam, tinha muito valor. “Naquela época, na padaria, a gente tinha algumas mesas e cadeiras, era tudo muito simples, não tinha esse luxo que tem hoje. Hoje, é tudo muito bonito, de muito bom gosto e tudo muito controlado pela Vigilância Sanitária, naquela época, eu me lembro que até por conta da simplicidade das pessoas e de não ter toda essa legislação e eles terem vindo da roça, você imagina, a maioria dos moradores tinham bicho. Nessas mesas da frente da padaria nós tínhamos um papagaio que ficava lá, solto. Nos fundos da padaria meus pais criavam porcos, era aquela situação de nada se perde, tudo se aproveitava. A gente tinha porcos, perus, galinhas, não pra vender; mas por questão de criação que a gente gostava. Eu tenho foto eu e minha mãe dando mamadeira para a porquinha. Todos os vizinhos tinham horta e, é importante dizer também que o padeiro e o leiteiro, eles entregavam a mercadoria com a carroça, no sol, na chuva, com o cavalo. Era uma outra realidade que hoje, qualquer pessoa acharia um absurdo, a Vigilância Sanitária não aprova e, todos foram saudáveis” afirmou Silvana. 

A cultura alimentar das famílias vindas da roça para a cidade proporcionava encontros entre os vizinhos, reuniões saudáveis onde os filhos podiam aprender com os adultos numa celebração com muito prazer e presenciar o orgulho de ser da roça. “Nossos vizinhos, o Sr. Zico (in memorial) e a Dona Tereza, eles não eram de muitos animais, tinham alguns hábitos, os mineiros são assim, gostam de fazer pamonha, fazer pão e quando se fazia, tirava o dia pra fazer pamonha. E como é um processo trabalhoso eles tinham que desocupar uma lata de óleo de 18 litros (o óleo vegetal era embalado em latas), tinha que abrir a lata, furar toda a lata, pra poder fazer o ralador então todo o milho era ralado. Eles eram amigos da mamãe lá de Minas, eles conseguiram uma casa aqui na Vista Alegre. Quando o seu Zico e a Dona Tereza faziam pamonha, eles nos chamavam, a gente ia, era uma festa, a criançada adorava. E quando a pamonha era feita na minha casa era a mesma coisa, tínhamos essa troca de afeto”, contou. 

O cenário ingênuo fruto do êxodo rural que foi realidade no país como um todo, logo passaria por uma transformação econômica. O modelo de economia colonial das cidades foi dando espaço a novos e fortes investimentos, os bairros da cidade não sairiam ilesos e as mudanças foram impostas. Agora, novos comportamentos seriam modelados pela nova economia e os valores da roça ficariam na memória e contos familiares. 

Paulo Gonçalves (1965-1985), com o trombone e na bicicleta maior Vanderlei Gonçalves (1966 – 1982) e Luis Gonzaga Gonçalves

“Hoje, em cada esquina a gente tem um supermercado, uma opção de compra, antes, tinha o mercado da minha família e na quadra de cima tinha o mercado do Seu Guerra, o Guerra Supermercados, só que lá eles só vendiam a vista, existia uma competição de preços, no caso da minha família eles tinham a prerrogativa de vender na caderneta; existia a confiança — hoje em dia acho que ninguém vende na caderneta. A parte que mais machuca é que eles (os pais) trabalharam demais, infelizmente não aproveitaram, não viajaram, não desfrutaram de uma vida confortável. Eles conseguiram um bom patrimônio mas, com o passar do tempo tiveram uma decepção muito grande que é a parte triste da história. Quando chegou a fase de ter uma folga, infelizmente eles perderam um filho, no ano de 1982. O meu irmão Vanderlei, tinha 16 anos, o segundo de quatro filhos — Paulo, Vanderlei, Silvana e Luis Gonzaga. Meu irmão não estava bem, foi socorrido, eu me lembro que ele passou por consulta, o médico receitou uma injeção. O farmacêutico veio até em casa para aplicar — a farmácia existe na mesma esquina até hoje – ele chamou a atenção: ‘ele (médico) fez o teste? Por que não é todo mundo que pode tomar essa medicação’, falava o farmacêutico. Eu era uma criança, me lembro que a minha mãe falava: “um médico vai saber mais que um farmacêutico”. E não levou muito em consideração. O fato é que infelizmente, meu irmão tomou a injeção à noite e de madrugada ele teve uma parada cardíaca e morreu. A perda dele mexeu demais com a gente. Ele era lindo, saudável, um cara que tocava trombone na Banda Henrique Marques e sonhava ser piloto de avião. Ele dirigia caminhão, ônibus, carro. Ele era maravilhoso. Ele morreu e foi muito triste, muito difícil, e por conta disso, a partir dai, a nossa família acabou”, contou. 

“A minha mãe ficou sem chão, a gente ficou desestabilizado. E o que já estava ruim, piorou com a perda do pai da minha mãe, lá de Minas Gerais. Ela herdou terras e meu pai não tinha vontade de continuar com o mercado e, simplesmente tomou a decisão de vender o mercado e a padaria. E vendeu. O comércio não era só o lugar da gente ganhar o nosso pão, ali, no comércio da família tinha toda a nossa história, porque toda a nossa família é de Minas Gerais e como a gente tinha toda essa confiança de vendas na caderneta e tal, o pessoal do bairro tornaram a nossa referência de família; então, foi mais um baque. Naquela época nós não tínhamos o hábito de abastecer a dispensa da cozinha de casa porque a gente morava na esquina e quando precisava de algum alimento corria no nosso mercado e pegava. Como o mercado foi vendido do dia pra noite, no dia seguinte, a gente estava com a dispensa vazia, meu pai foi pra Minas Gerais e comprou outro sítio lá. Numa dessas idas e vindas do sítio de Minas ele resolveu transportar mudas de laranjas porque lá naquela região de Minas Gerais predomina a produção de café então, mudas de laranjas, lá valia ouro – aqui era a capital da laranja. Teve uma vez que ele veio, carregou o caminhão de mudas de laranjas e estava esperando amanhecer o domingo, para ele voltar com a carga, quando roubaram o caminhão. O meu irmão Paulo estava na frente da casa da namorada Josiane e viu o rapaz roubando o caminhão do meu pai. O que ele fez? A minha mãe pegou o telefone e ligou para a polícia – na época a polícia tinha a viatura volkswagen, fusquinha, rotulada como “baratinha”. A polícia perguntou para a minha mãe se tinha alguém próximo, se tivesse, era pra tentar ultrapassar o caminhão e avisar no Posto de Entrada e de Saída da cidade. Minha mãe foi falar e não deu nem tempo o Paulo catou a moto e saiu correndo atrás – o Anel Viário da Vista Alegre, sentido Engep estava em obras. O que a gente não sabia é que o rapaz que roubou o caminhão morava na rua de baixo da nossa casa. O que aconteceu? A viatura chegou, pegou o meu pai e na frente estava o meu irmão de moto, a hora que o meu irmão foi ultrapassar, ele bateu no caminhão, meu irmão caiu, bateu a cabeça na sarjeta, teve uma hemorragia interna. Em menos de dois anos a minha mãe perdeu mais um filho, dessa vez um filho moço de 21 anos, o primogênito”, descreveu.  

Quando uma mãe perde um filho, acontece uma mudança na atribuição de sentido às coisas da vida, após a triste experiência da perda. A perda de um filho abre um buraco, uma grande ferida que afunda as mães em severos quadros de melancolia. Olga passou pela perda de dois filhos, não tinha superado a primeira perda e teve que sentir a dor da perda do segundo filho. O processo de luto não é algo breve ou passageiro, pode levar muitos anos embora, hoje, a sociedade tem sido obrigada a despedidas breves de mortes inesperadas mas, o ser humano não tem a capacidade de viver um luto passageiro.

Silvana detalha, “é uma história de superação, de trabalho mas, de muitas perdas, de muitas dores. Foi muito difícil superar isso. Já estava difícil antes, você imagina depois. Naquela época não se falava em depressão e a minha mãe foi tachada de “louca” por conta dela externar toda a tristeza do luto pela perda dos dois filhos. Eu me lembro que nós estávamos na missa de sétimo dia do meu irmão Paulo e quando nós chegamos em casa, meu pai já tinha ido embora, levando todas as coisas dele. Foi um baque atrás do outro. Minha mãe, uma mulher submissa que trabalhou a vida inteira para ajudar o marido e ficou sozinha com a perda do segundo filho, com dois filhos pequenos eu, 12 anos e o Gonzaga, o caçula. Eu que era uma dondoca, com empregada em casa, tínhamos tudo, de repente tive que ir trabalhar e tendo lidar com o que, hoje, o pessoal chama de bullying, porque as crianças tiravam sarro na escola porque a minha mãe saia chorando na rua, as crianças chamavam ela de louca. A gente sofreu demais, demais, demais. Você não tem noção do quanto a gente sofreu, admito que trago sequelas até hoje. Ao mesmo tempo que tudo foi muito difícil eu tenho muito orgulho de falar que minha mãe foi uma mulher tão guerreira que ela superou tudo isso com o tempo, a gente foi crescendo, eu comecei a trabalhar, trabalhei no escritório do Dr. Aldo Graf, em fábrica de jóias”, destacou. 

A sociedade impôs a submissão as mulheres mas, não o lugar de submissa quando o assunto é ir à luta e ser chefe de família. A imposição as mulheres não releva a dor de uma mãe pela perda de dois filhos. “A gente morava na esquina da Escola Deputado Laercio Corte, a minha mãe tinha um jardim lindo com as roseiras mais charmosas do mundo e a nossa casa tinha uma piscina pequena, o pessoal passava na rua e contemplava uma casa com piscina (mesmo tão pequena). No auge do desespero e com dois filhos pra criar, ela tomou a decisão de cortar todas as roseiras e deu início ao plantio de couve no lugar e, nas grades do jardim subiam os pés de chuchu. Hoje, a casa está alugada mas, se você passar lá você vai ver que tem uma área, lá ela ficava sentada. Foi uma providência divina, nunca vi produzir tanta couve e tanto chuchu e tanta gente pra comprar, assim a gente foi se mantendo até as coisas serem organizadas até ela começar receber os alugueis e ir administrado a divisão dos lucros”, relembra.

Silvana Gonçalves e sua mãe Olga em frente a residência da família

“Ela foi se adaptando e graças a Deus a gente não se perdeu, eu consegui me formar em Direto, fiz a Escola da Família, ela fez um filho empresário – o mais importante é saber que com tudo isso que aconteceu ela não era uma mulher amarga, era de uma candura. O que de fato nos ajudou é que a gente teve vizinhos excelentes, como o Sr. Luiz Lopes, marido da Dona Catarina – ainda mora lá na rua Pedro Elias – são pessoas que nos apoiaram nas dificuldades. Tivemos apoio também da Célia com o Zelão, eles vieram de Nova Resende, Minas Gerais, tinham uma casa que hoje é o estacionamento do mercado (no bairro) e quando se mudaram eu aluguei para o meu primeiro escritório. A minha mãe só chorava. Um dia, a Célia chegou com um cachorrinho no bolso e falou: “Dona Olga eu trouxe para a senhora. A senhora precisa cuidar dele porque ele precisa da senhora, se não cuidar, ele vai morrer”. Foi a partir desse gesto da Célia que a minha mãe foi retomando a vontade de se levantar, porque ela tinha que cuidar do cachorrinho batizado Pingo — eu me lembro como se fosse hoje. Ela foi retomando a vida, tomou muito gosto pela horta e, se você passasse pela Pedro Elias encontraria a minha mãe subindo com a sua carriola, indo até os terrenos dela, no Olga Veroni onde também plantava. Era uma mulher da roça, extremamente sábia, porém, o que a deixava feliz era mexer na terra”, afirmou.  

“A Dona Loló é a Dona Irene, foi uma espécie de vó pra gente, uma mãe para a minha mãe; eu tenho muita consideração e respeito por ela. Os vizinhos de hoje em dia muitas vezes não sabem o nome um do outro. A gente comia na casa do outro, se tinha que sair, largava o filho com a vizinha. A dona Piedade com o Sr. Geraldo (in memorian) que moravam em frente, tinha uma casa com cerquinha de madeira, nós tínhamos tanta amizade com os filhos deles que até hoje a gente dá bom dia, todos os dias, mesmo morando do outro lado da cidade, eles cuidando de mim porque eu moro sozinha, com os meus animais”, completou. 

A vida seguiu, a região cresceu e aquele hábito de criar animais para abate, no quintal, jamais será imaginado por uma criança de hoje. Os problemas sociais e econômicos fazem parte da sociedade e com eles alguns tomam evidência na vida cotidiana. A sociedade moderna passou a conviver com o abandono de animais, com a insegurança, em contrapartida aprendeu a ter representatividade política, eleger pessoas que as represente e minimize os problemas que não são da alçada da sociedade civil resolver. Assim está composto a região do Jardim Vista Alegre hoje, com dois vereadores eleitos, com pessoas de destaque político em suas instituições, uma comunidade forte que elege. Mas a comunidade não quer só eleger políticos, ela quer mais, quer que aquele que foi eleito cumpra a representatividade. 

“O que me fez montar o projeto Bicharada, foi que fiquei com tanta gratidão por conta da minha mãe ter se recuperado diante dos cuidados que ela teve com o Pingo. Na primeira oportunidade que eu tive de ser voluntária da Alpa eu fui por um bom tempo. Eu já estava fazendo a faculdade de Direito, em 1998, estava em período de transição na questão da legislação ambiental, até então, quando a gente falava em maus tratos aos animais não era considerado Crime, era Contravenção Penal. Eu precisava fazer a minha Monografia ou Trabalho de Conclusão de Curso, TCC, eu tinha uma gratidão muito grande com a causa e foi aí, com o advento dessa Lei, era uma oportunidade impar, então, falei do artigo 32, da Lei 9605/98. Fui aclamada presidente da Alpa, fiz a minha gestão de 1998 a 2002, eu ajudei escrever a história da Alpa. Eu me formei em 2005 resolvi que queria ter um escritório na Vista Alegre e me dedicar, entreguei a presidência. Nesse período a gente fazia muitos programas de televisão, como o da Fabiana Fatoreto, da Flor, eu estava com a legislação na ponta da língua e as pessoas me vinculavam a causa por conta da minha imagem, eu resolvi criar o projeto Bicharada”, contou.

O transporte público chegava até a Vista Alegre e lá tinha ponto final, no local havia uma construção de alvenaria com um abrigo funcional para as pessoas que faziam uso, “porém, com o passar do tempo, ele ficou inviável por conta do comportamento das pessoas. Hoje, no local fica a banca de revistas. Eu me lembro que os cobradores, os motoristas, iam comprar na padaria, fazer os lanches; existia uma cumplicidade, uma amizade muito forte com todos os moradores do bairro e todas as pessoas que trabalhavam aqui”, apontou Silvana.

Uma região com ganhos e perdas está preocupada com as decisões políticas que envolvem questões básicas. “Tinha a Base da PM aqui e o Sargento me procurou para falar sobre o Conselho de Segurança do Bairro, fizemos algumas reuniões decidimos criar o CONSEB, daí surgiu muita gente boa e foi fomentando muitas ideias e projetos tanto que dessas reuniões saiu o vereador Waguinho. A Vista Alegre tem muitos filhos, jornalistas, dentistas, advogados, padres, aliás eu sou tão babona desse bairro que eu vejo a Vista Alegre como o bairro de Barão Geraldo é pra Campinas; como uma sub-prefeitura. Eu acho que a gente é muito independente porque temos um corredor comercial aqui na Pedro Elias que é o melhor de Limeira, de encher os olhos de qualquer comerciante. Tem pessoas que poderiam sim, administrar melhor esse bairro, não só por crítica a atual gestão mas, por desafogar essa preocupação deles, a gente poderia daqui gerar os nossos tributos, pra que a gente pudesse reverter a favor dessa região, que é grande e rica em vários fatores”, comenta. 

“Na verdade, ultimamente a gente vem só perdendo ao invés de evoluir. Por exemplo, onde nós tínhamos a Base da Polícia Militar, hoje é uma praça que a gente briga para a prefeitura vir fazer a manutenção. Até hoje, eu não consegui entender porque tiraram a Base de lá.  

Não obstante, depois, uma crítica aos vereadores da época, era só o Waguinho, nós cobrávamos uma reforma do Posto de Saúde, a prefeitura não reformou, demoliu sem colocar um outro local a disposição no bairro. As pessoas idosas, com problemas de saúde, com limitações, que não tem carro, tem que se dirigir a outros bairro em plena pandemia. O prefeito deu um espaço para abrigar os funcionários lá no Posto de Saúde do Jardim Nova Suiça. A empresa que ganhou a licitação (para construção do Posto de Saúde) não cumpriu o prazo do contrato, está  tudo no chão, com entulho atraindo animais peçonhentos. Hoje em dia está difícil para servir um vizinho por causa da pandemia, não basta ter boa vontade, tem coisas que estão passando do ponto. Nesse sentido, o bairro vem regredindo e o problema disso não é das pessoas. O problema é das pessoas que tem a representatividade política que deveriam estar brigando, lutando por nós”, afirmou. 

“Nós temos o Grupo Amigos do Jardim Vista Alegre, no Facebook, lá eu ‘babo ovo’ pelo meu bairro mas, quando tem que puxar a orelha, eu fico brava. A gente vem cobrando muito do vereador Waguinho – em 2020 o Waguinho da Santa Luzia foi reeleito e o Betinho foi eleito o vereador mais votado do município, são dois vereadores eleitos do Jardim Olga Veroni”, frisou.

Uma região forte que evoluiu política, economicamente com a expansão. “Nossa maior riqueza são os moradores com sua força de vontade, valores e princípios que enriquece tudo isso. A gente tem muitas histórias de gente bacana que passou por aqui”, detalhou. 

“A questão da falta de segurança pesa muito, porque se atrela a realidade das pessoas que estão vindo agora para os bairros. O sentido de pertencimento através do relacionamento, a afetividade entre os moradores, um cuidar do outro, com confiança é difícil de manter. Tentamos manter viva as memórias afetivas no Grupo Amigos da Vista Alegre, eu acredito que nos mantém ainda, são essas memórias mas, nós sabemos que se algo não for feito, esses laços podem se perder por completo”, sustentou. 

2 thoughts on “A história e trajetória da família Gonçalves no Jardim Vista Alegre”

  1. Boa noite.
    Eu nao tenho.palavrasnpra expressar minha gratidão.
    Posso dizer que minha homenagem ao dia das mães chegou mais cedo.
    Ê indescritível a emoção de poder manter viva a memória da minha mãe, e dos meus irmãos.
    Gratidão, gratidão, gratidão 🙏🙏🙏

    1. Emocionante mesmo Sil!!! Sem dúvida vocês marcaram a Vista Alegre e o Barão de Limeira para todo o sempre, impossível falar destes dois bairros sem comentar de vocês. Não imaginei que eu conseguiria lembrar de tanta coisa e vendo as fotos pouquíssimas não me vieram a mente.

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