Homenagem das Servas na Igreja Luterana Cristo Pires aos 30 anos de pastorado do Pr Osmar Schneider
Jornal Pires Rural – Edição 162 | LIMEIRA, Dezembro de 2014 | Ano XIV
30 ANOS DE PASTORADO – No final de 2014, Pastor Osmar Schneider, da Congregação Evangélica Luterana “Cristo” – Pires, compartilhou um pouco da história de sua vida, desde o primeiro chamado como pastor no estado do Espirito Santo até mudar-se para Limeira.
Família: Osmar Schneider, Naemi Ledi Skalee Schneider, Beatriz Schneider, Romulo Ramazini Felicio, Wiliam Fernando Schneider
Família: Osmar Schneider, Naemi Ledi Skalee Schneider, a filha Beatriz Schneider, o genro Romulo Ramazini Felicio e o filho Wiliam Fernando Schneider

A primeira oportunidade de trabalho do pastor Osmar Schneider, nascido em Imbituva, Paraná, aconteceu na formatura em 1978, na Faculdade de Teologia – Seminário Concórdia em Porto Alegre, RS. Designados, o casal Naemi Ledi Skalee Schneider, nascida em Marechal Cândido Rondón, PR e Osmar, recém casados em 20 de janeiro de 1979 mudaram-se pra Vitória, ES, onde permaneceram até final setembro de 1984. O 1º ‘chamado’ (depois da formatura) trata-se da primeira oportunidade que a Igreja designa, ou o pastor aceita ou fica aguardando um outro. Pastor Osmar aceitou com o maior prazer. Já Naemi Ledi Skalee, quando solteira, trabalhava na área contábil. Muito religiosa desde criança, não pensava em se casar com um pastor, mas, saiu de uma cidadezinha no Paraná e foi pra Vitória, ES, dois mil km longe da mãe, um desafio agraciado pelo bom acolhimento da comunidade capixaba. Conheça mais dessa trajetória nas palavras do Pr. Osmar;

História de vida
“Eu já havia feito estágio em Vitória, ES, no bairro Nova Carapina, município de Serra. Era um bairro novo, na outra ponta da cidade, saída para a Bahia. No período de estágio fui acolhido na casa da família da Dona Florinda Frederich Berger, em julho de 1978, com objetivo de fundar uma igreja em Nova Carapina. Na época, havia uma multinacional do setor de madeiras (lambrios) para exportação, a Atlantic Weneer do Brasil com 3.200 funcionários, dispunha de dois conjuntos habitacionais com escola para os filhos dos funcionários. Como lá haviam funcionários simpatizantes com a Igreja Luterana, a empresa cedeu a escola pra começarmos o trabalho”.

Igreja Luterana do Brasil - Comunidade Emanuel, Municipio de Serra/ES
Igreja Luterana do Brasil – Comunidade Emanuel, Municipio de Serra/ES

“A Congregação de Pires, por Assembléia, mandou uma carta através do pastor Romildo Wrasse me convidando pra eu ser pastor aqui. A igreja de Pires, Congregação Evangélica Luterana “Cristo”, é a sede em Limeira e a igreja da Boa Vista, Congregação Evangélica Luterana, filha. Eu e o pastor Romildo fomos colegas de seminário, ele me conhecia, mesmo assim o convite foi uma surpresa. Eu era livre para aceitar ou não. Queria muito vir. A Naemi preocupada, pediu pra eu perguntar ao pastor se nos Pires não havia um rio perigoso perto da casa paroquial porque na época, as notícias de São Paulo traziam muitas imagens de rios com enchentes. E nossa filha Beatriz era um bebê que inspirava cuidados”. Naemi conta, “eu via na tv, notícias sobre as enchentes de São Paulo e imaginava um estado como o Espírito Santo, também com problemas de enchentes na época”. 

“O povo de Vitória, não aceitava a ideia da nossa mudança. Eles tentavam nos convencer argumentando que aqui em São Paulo seria muito perigoso. Que ao chegarmos encontraríamos a pista interditada por motoqueiros, bandidos, e que não conseguiríamos chegar ao local. Ouvíamos os argumentos, não levávamos em consideração porque, eu já havia estudado em São Paulo, no bairro Campo Limpo. Sabíamos que era uma forma de nos convencer a ficar pelo carinho que tinham por nós”.

O que deixou pra comunidade…
“Uma história muito grata. O trabalho da igreja na escola da empresa criou corpo, cresceu e com a ajuda da Igreja e da comunidade pudemos comprar dois terrenos para a construção da nova Igreja. Construímos a casa paroquial na ponta de um terreno e na ponta do outro a igreja. Quando saímos de lá as paredes estavam em pé, com cobertura, sem reboco, sem janelas; mas toda a programação já acontecia lá. Antes de começar o acabamento o projeto já estava pequeno para acolher toda a comunidade, ampliamos a construção para dar mais conforto a todos”.

A nova Igreja; prédio construído da Igreja Luterana do Brasil, em Serra/ES
A nova Igreja; prédio construído da Igreja Luterana do Brasil, em Serra/ES

“Todo esse trabalho foi iniciado com o meu estágio em 1979, até outubro de 1984. Passou de 18 para 524 pessoas, um trabalho maravilhoso. Temos que considerar o aumento da comunidade a uma fase de migração forte do interior do estado do Espírito Santo para a capital Vitória, devido a demanda de mão de obra com a instalação de muitas indústrias na região de Nova Carapina. Muitos migrantes já eram membros da igreja Luterana. Neste período fomos construindo outro ponto de atendimento e missão em Carapina, rumo ao centro de Vitória, hoje, já conta com pastor no local. Além de Carapina tínhamos trabalhos em Aracruz, Coqueiral, Ibiraçú, com atendimentos realizados por mim. Tem uns doze pastores realizando os trabalhos iniciados por mim”.

Arrumando o caminhão de mudança para Limeira
Arrumando o caminhão de mudança para Limeira

A mudança para Pires
“Chegamos no dia 4 de outubro de 1984, fomos recebidos na casa pastoral (do bairro) Boa Vista pelo pastor Romildo. Na noite do mesmo dia fomos trazidos na Comunidade Pires, onde acontecia semanalmente os ensaios do coral. Ele comandava os ensaios e me passou o cajado naquela noite. No dia 7, fomos oficialmente recebidos ou instalados como pastor dessa Congregação”. 

Fatos pitorescos
“Toda a estrada de acesso aos Pires era de terra e pedras, transitar pelo bairro era uma aventura em dias de chuva. Numa noite, logo que chegamos, fomos jantar na casa de uma família da comunidade, choveu muito durante a visita, na volta o barro foi um transtorno e quando chegamos perto de casa, na subida do morro que dá acesso a igreja e a casa paroquial, o carro não subia. Eu estava acostumado com esse tipo de situação lá no interiores de Vitória, mas o tipo de solo daqui é diferente, adere ao pneu, o carro patina e não sobe o morro. Então, à noite, subimos os três à pé na chuva e deixamos o carro lá em baixo na estrada principal. Numa outra data tínhamos ido ao supermercado Guerra, no centro da cidade fazer a compra do mês, quando chegamos, o carro não subia de tanto barro. Transportamos os alimentos de sacolinha em sacolinha, alimentos de um mês inteiro”.

“Recebemos a visita de um pastor do Sul com toda a família, Rev. Nilo Lutero Figur. Chegaram à noite, a gente olhava daqui de cima e via uma luz forte em nossa direção, pensamos, só pode ser eles. Atolaram lá em baixo. Quase meia noite, chamamos nosso vizinho, Sr. Írio Asbahr, puxou o carro com o trator até aqui. Com o tempo, as estradas foram cuidadas e a via principal recebeu pavimentação. A vida seguiu com a realização dos trabalhos e tivemos a felicidade do nascimento do nosso filho Wiliam Fernando”.

Tudo passa

“Quando recebi o fichário da Congregação com os membros de Pires, somavam 324, todos da área rural, alguns anos depois o número de membros passou para quase 600”.

“Não havia um estudante na área urbana que residisse aqui. A produção de mudas cítricas e laranjas estava no melhor momento econômico da história e os jovens eram tão bem remunerados que não valorizavam os estudos para garantir um outro emprego que remunerasse mais que o setor da citricultura. Hoje, os jovens se formaram e praticamente todos trabalham na cidade, temos empresários, bancários, advogados, professores, engenheiros, porque a produção de laranjas fracassou quase que total. Nesse período demos início ao trabalho em Cosmópolis. Há 15 anos dividimos, lá passou a ser Congregação Evangélica Luterana Paz, com seu primeiro pastor residente, Rev. Elton Junges. De lá realizamos trabalhos também em Artur Nogueira, que hoje pertence à Igreja Paz de Cosmópolis”.

A despedida na igreja em Nova Carapina (Serra - ES)
A despedida, em 1984, na igreja em Nova Carapina (Serra – ES)

Tempo de Deus
“No último mês de novembro de 2014, agendamos para eu aposentar através do INSS, não dos trabalhos da Igreja. ‘Quanto tempo eu ficarei aqui?’ Deus é que sabe, porque o tipo de trabalho e a forma que prosseguimos até aqui são aspirações da Igreja e a nossa também. Completamos 30 anos de trabalho, em outubro de 2014, nesta comunidade, afinados como no começo. O povo quer que fiquemos enquanto puder. A saúde é que vai dizer as condições para fazer o trabalho. Nunca encontramos dificuldades para nos adaptar, Naemi sempre foi uma pessoa muito generosa, onde chega não impõe exigências pra se adaptar. Por isso me casei com ela. Temos a mesma cultura, somos da mesma região, o mesmo sotaque. Quando mudamos para o Espírito Santo com tudo o que a gente tem de alegria e felicidade no coração estranhamos muito a precariedade do local, nem por isso tivemos dificuldades na adaptação. 
A forma como a construção dos bairros se davam na época, de forma desordenada nos assustava um pouco, pois, viemos da região Sul e a legislação já era bem adiantada, inclusive quanto ao planejamento familiar, na periferia não se preocupavam com o dia de amanhã. Um pai de família pedia a conta na empresa onde trabalhava, ou era despedido e gastava toda a rescisão para depois resolver o que ia fazer da vida. Não administravam a economia da família a médio prazo, contavam com o apoio da Igreja diante das dificuldades ou mesmo pediam a intercessão do pastor para pedir o emprego de volta. Isso nunca presenciamos aqui, é muito diferente, os agricultores se planejam porque sempre ganharam por colheita anual, sempre pensando nas dificuldade por vir. Exemplos semelhantes da região Sul, uma cultura que parece programada para adquirir e guardar. 
No mais, será aposentar pela Lei e direitos. A vida, os projetos continuam de vento em polpa”. 

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